Apesar de ter levado uma vida solitária, o Velho não vive só no velho palacete. O seu único sobrinho, um dos seus afilhados e as respectivas esposas vivem consigo e às suas custas. São boémios, inúteis e carácter é coisa que não sabem bem o que é. Não gostam do Velho, nem fazem grande questão de demonstrar por ele algum afecto.
O Velho nunca foi dado a grandes sentimentos e, por isso, considera a presença dos dois casais como um mal necessário. Encontram-se apenas para jantar e, nessa altura, mantêm quase sempre silêncio.
Entre si, os dois casais mantêm uma amizade de conveniência. O seu objectivo é comum, ficar com a fortuna do velho depois dele morrer. É isso que consta no testamento e, por isso, resta-lhes esperar. O Velho tem oitenta e cinco anos e não durará muito mais tempo. Ou durará?
'Talvez dure'- pensam em conjunto. 'O odioso Velho, faz caminhadas e natação todas as manhãs e parece estar teso como um pêro. Não será melhor apressar as coisas?'
Combinam entre si colocar umas gostas de arsénico na água do jantar. Já ouviram falar que o envenenamento por arsénico é quase indetectável. 'Não vai morrer logo, mas sempre se apressam as coisas.'
O acesso à água que o Velho bebe é muito fácil, uma vez que o Mordomo coloca sempre a bandeja com as bebidas no aparador traseiro enquanto se dirige à cozinha para dar a últimas indicações sobre o jantar. Uma das esposas entrará na sala de jantar, precisamente quando o mordomo sair e colocará umas gostas de veneno no copo. O copo do Velho também é fácil de identificar, é sempre o que está mais à esquerda uma vez que ele exige ser o primeiro a ser servido.
Iniciam o esquema planeado. É tudo muito fácil, O Velho e o Mordomo não dão por nada. Basta esperar resultados.
Passa um mês, passam dois meses, três, quatro e... nada acontece. O Velho continua com os mesmos hábitos e com uma saúde de ferro. 'Estará a fingir que está bem de saúde?' - pensam ao ver que o seu plano parece não estar a dar resultados.
Porém, há um dia em que o Velho não aparece para tomar o pequeno almoço às sete e trinta, como é seu hábito. Às oito o Mordomo sobe ao quarto para encontrá-lo em cima da cama com um tiro na cabeça. O revólver está na sua mão direita. O Velho suicidou-se. Será?
Ao funeral segue-se a leitura do testamento. Ao Sobrinho e ao Afilhado o Velho deixa apenas o suficiente para que vivam bem até ao fim dos seus dias. O resto dos bens e fortuna ficam para o seu fiel Mordomo.
Más notícias, não é possível que o Velho lhes tenha feito tal. O Sobrinho sente-se mal, desmaia e é conduzido ao hospital. Fazem-se exames médicos. Parece que não foi apenas um desmaio devido à emoção. Mais exames médicos concluem que tem cancro sem quaisquer possibilidades de cura.
A polícia investiga o eventual suicídio do Velho e descobre vestígios de arsénio num copo usado no jantar do dia anterior. Uma análise à impressões digitais presentes no copo leva a concluir que o mesmo foi utilizado pelo sobrinho. Há no entanto uma dúvida. 'Porque razão foram todos os copos lavados menos o que continha vestígios de arsénico?'
As investigações prosseguem e as novas análises médicas feitas ao Sobrinho concluem que o seu estado de saúde se deve a envenenamento por arsénico. As esposas e o Afilhado são acusados e condenados por tentativa de envenenamento. A pena agrava-se quando um mês mais tarde o Sobrinho acaba por morrer.
O Mordomo, agora senhor do velho Palacete de Sinta, continua a administrar os bens que um dia foram do Velho.
Quanto ao suicídio, ainda hoje constitui um mistério, mas houve alguém que lucrou imenso com ele...
Texto de minha autoria, escrito para a Fábrica de Histórias
Li com atenção do princípio ao fim!
ResponderEliminarTem todos os ingredientes que se esperam de um conto de suspense. Com um pouquinho mais de tempo ainda podias desenvolver mais porque tem potencial para isso!
PL
Obrigado por teres lido.
ResponderEliminarEsta é uma história para a Fábrica de História que não pode ter mais que mil palavras mas, na verdade tenho alguma vontade de aprofundar...
Obrigado também pelo incentivo...
;)