sábado, 9 de maio de 2009

A moeda mágica (conto infantil)

Era uma vez uma menina chamada Olga que vivia num país de África, daqueles países muito pobres onde os meninos são muitos e a comida nem sempre chega para todos. Os pais de Olga tiveram muitos filhos, alguns dos quais Olga, que era a mais nova, nunca conhecera. Uns viviam na América e outros na Europa.

Olga vivia feliz na sua pequena aldeia. Ia à escola durante a manhã, por lá almoçava, e só regressava a casa no final do dia, depois de longas horas de brincadeira com os meninos seus amigos. A aldeia ficava perto da praia e quase todos os dias as brincadeiras terminavam com um banho de mar. Um mar muito azul e transparente com uma água muito quentinha.

Havia na aldeia uma casa muito grande e também muito antiga, que era habitada por um casal já com uma certa idade. O casal tinha vindo de um país europeu distante. Olga ouvia falar da Europa, mas não entendia bem do que se tratava. Sabia que era uma terra que ficava muito longe da aldeia e onde tudo era diferente.

A casa grande era linda e Olga quando passava perto da entrada a caminho de sua casa, ficava sempre uns minutos a observar intrigada as janelas, as portas, os jardins enormes e cheios de flores e os criados que circulavam em redor da casa, sempre com um ar apressado. Imaginava como seria o interior de tão grande casarão. "Como será que não se perdem dentro de uma casa tão grande?"

Um dia, quando Olga passava junto ao portão de entrada da casa grande, reparou que o Senhor da casa caminhava pela rua e se dirigia para o portão, certamente de regresso do seu passeio da tarde. Olga nunca falara com aquele Senhor que tinha cara de mau e uma pele muito clara e muito estranha. Sempre que isto acontecia, escondia-se atrás de umas plantas, mas ficava à espreita. Naquele dia, porém, aconteceu algo inesperado. Quando o Senhor colocou a mão no bolso para tirar o lenço e refrescar-se, uma moeda caiu-lhe do bolso e veio a rolar quase até ao local onde Olga estava escondida. Ficou aflita. Se o Senhor fosse buscar a moeda certamente que a descobriria escondida. Quase sem respirar, verificou que, após olhar em volta, o dono da casa grande desistiu de procurar a moeda e entrou no portão.
Passaram uns minutos e, como não aparecia ninguém, Olga pega na moeda e corre para casa.

Não disse aos pais nem aos irmãos o que se tinha passado. Pensou mostrar a moeda aos amigos. Era uma moeda muito bonita, cor de prata. Resolveu, no entanto, guardá-la sem a mostrar a ninguém. Tinha medo, afinal aquela moeda não era dela, era do Senhor da casa grande.

Passaram uns dias e Olga guardava o seu tesouro na pequena caixa de lápis que usava na escola. Começou, no entanto, a ficar preocupada. Sabia que tinha que devolver a moeda ao seu dono, mas não sabia como. Tinha medo. Podia seguir o Senhor num dos seus passeios da tarde, mas tinha medo dele.

Um dia, tomou coragem e depois das brincadeiras na praia com os seus amigos, resolveu tocar o sino do portão da casa grande. Estava com muito medo e quase não chegava ao puxador do sino, mas depois de um esforço, lá conseguiu que o sino emitisse um breve som. Enquanto não abriam o portão, Olga ajeitou os calções e a camisola e esperou. Apareceu um dos criados da casa que não conhecia e que, por isso, devia ter vindo de outra aldeia. A medo, mas com um ar decidido, Olga disse que precisava de falar com o Senhor da casa grande. À pergunta sobre o que ia dizer ao Senhor, respondeu que tinha uma coisa importante para lhe dar.

O criado, achando graça à criança, deixou-a entrar, pensando à partida que se tratava de uma brincadeira e que a pequenina deveria ter fome. Pensou levá-la à cozinha e dar-lhe um pouco de pão.
Enquanto caminhavam pelo jardim, a Dona da casa apareceu e perguntou o que fazia ali uma menina tão bonita. Olga ficou envergonhada. Nunca lhe tinham dito que era bonita. A Senhora sim, era muito bonita e estava muito bem vestida. "Venho devolver ao Senhor da casa grande, uma coisa que ele perdeu", disse a medo.
Ao ver o ar tão decidido da menina, a Dona da casa, que lhe achou uma certa graça, mandou chamar o marido. Quando o Senhor chegou, Olga tremeu de medo. Teve vontade de fugir, mas não o fez. Tinha que devolver a moeda. "Então o que tens tu que eu perdi?", perguntou o Senhor. "Tenho esta moeda" disse abrindo a mão.
Nessa altura o Senhor lembrou-se que realmente tinha perdido uma moeda há uns dias quando entrava para casa. Sorriu para a menina e perguntou-lhe porque razão ela não tinha ficado com a moeda. "A moeda não é minha, tinha que a entregar".

Os donos da casa olharam um para o outro com um ar admirado, afinal, não esperavam aquela atitude daquela menina.

"Obrigado por teres vindo devolver a minha moeda. Eu aceito, mas só se tu fizeres uma coisa por mim", disse o Dono da casa grande. Olga, agora um pouco mais à vontade perguntou o que teria de fazer.

"Todos os dias, quando vieres da escola, tocas no sino do portão e vens lanchar com a Senhora. Ela passa os dias muito sozinha e tu podes fazer-lhe um pouco de companhia. Aceitas?", disse o Senhor da casa. Olga não sabia o que dizer, mas a Senhora era tão bonita e tão simpática que não se importava nada de lhe fazer companhia. Resolveu dizer que sim, mas que teria de pedir autorização à mãe a ao pai.

Com a autorização concedida, passou a lanchar todos os dias com a Senhora. Lanchavam no jardim e depois ficavam um pouco a conversar sobre a escola e os amigos de Olga. Quando havia tempo, faziam juntas os trabalhos de casa.

Olga viveu feliz naqueles seus anos de infância. Tinha aprendido que a honestidade que teve ao devolver uma moeda que alguém tinha perdido, tinha feito com que ganhasse uma grande amizade. A moeda era mágica!

Que a história de Olga sirva de exemplo a todos os miúdos. E aos graúdos também...

Texto de minha autoria, escrito para a Fábrica de Histórias

2 comentários:

  1. Gostei da Olga, gostei os Senhores e adorei a história...

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  2. Muitos parabéns é uma lindissima história.

    Nem tenho palavras mas gostei imenso do gesto dos Senbhores e da pequenina Olga, demonstra algo que já está perdido nesta sociedade que vivemos que são os valores.

    É melhor perder algo que tem muito valor e que não tem valor nenhum perante uma grande amizade.

    Mais uma vez parabéns.
    Adorei

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