sexta-feira, 14 de novembro de 2008

O Mestre Quim Sapateiro

O meu Avô Quim, pai da minha mãe, faria hoje, se fosse vivo, 93 anos.

Quando estive no Alentejo em Setembro, disse à minha mãe que queria escrever sobre o meu Avô aqui no Outras Escritas. Por causa disso, passámos um bom bocado a falar dele. Uma conversa agradável, um pouco emotiva mas também divertida. Havia coisas que eu não sabia, pelo que fui tirando alguns apontamentos.

O Sr. Joaquim Antunes Varela Prates, nasceu no dia 14 de Novembro de 1915. Não teve uma infância particularmente feliz, uma vez que perdeu o pai quando tinha apenas 8 anos. O seu irmão mais velho, o Francisco, passou a ser, com 18 anos, o homem da casa.

Foi com o Francisco (o Mestre Chico Antunes) que o meu Avô aprendeu a sua profissão - Sapateiro.

Todos os irmãos (homens, entenda-se) aprenderam esta "arte" e todos trabalharam juntos durante muitos anos. Com dinheiro que conseguíram amealhar compraram 6 moradias, uma para cada um dos irmãos (quatro homens e duas mulheres). Curiosamente as moradias foram registadas em nome da mãe e só depois da morte desta, foram repartidas pelos irmãos.

O meu Avô era o mais novo e foi o último a deixar de trabalhar. E trabalhou muito. Fazia sapatos e botas (alentejanas) e percorria longos quilómetros de bicicleta ao frio e à chuva para fazer as suas entregas.

Na véspera da feira-franca quase não se deitava porque todas as pessoas da terra queriam os sapatos engraxados. A feira era o maior evento social do ano.

O Mestre Quim trabalhou até aos 80 anos. Nessa altura estava cansado e decidiu parar. Merecia descansar.

Devo a este senhor muito da minha formação como pessoa. Foi sempre para mim um modelo de trabalhador. Com o fruto do seu trabalho, ajudou também os meus pais no financiamento dos meus estudos.

Curiosamente eu estava no Alentejo quando o meu Avô teve o AVC que o deixou acamado durante mais de um ano.

Estava também com ele no dia da sua morte a 19 de Dezembro de 2005. Por pura coincidência, uma vez que vou ao Alentejo duas ou três vezes no ano e por períodos curtos.

O Mestre Quim esperou por mim para morrer...

Obrigado por tudo Avô. Gosto muito de ti.

12 comentários:

  1. Bom ao ver esta noticia, fiquem comovido, pela grande admiração e gratidão que tem pelo o seu avô.
    Eu, porém, admito que fiquei comovido por essa homenagem que decidiu fazer ao seu avô. Fico contente por ver que reconheceu o seu avô.
    Infelizmente, nunca conheci os meus avôs tantos da parte materna como paterna, ambos morreram quando os meus pais tinhas oito anos de idade.
    Conheci as minhas avós como da parte materna como paterna, infelizmente que já não posso chamar avós nem avôs a ninguém o que me entrestece.
    Mas Alberto parabéns por esta sua homenagem, cada ver tenho orgulho e mais consideração por si.
    Com os melhores comprimentos
    Ricardo Aveiro.

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  2. Pois é, os avós são uma grande riqueza que nós temos.
    Felizmente conheci todos os meus avós e um bisavô.
    ( também conheci 3 dos seus avós!).
    Tenho muito carinho pelos meus avós e é para mim um grande elogio quando dizem que eu sou igual à minha avó!

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  3. Obrigado Ricardo por acompanhar o Outras Escritas e por ser um comentador regular. Ainda bem que gostou deste texto sobre o meu Avô.

    Reflexos
    Eu felizmente conheci todos os meus avós de ainda um bisavô e uma bisavô.



    Para os outros leitores deixo aqui um facto curioso relacionado com uma avo minha e uma avó da Reflexos.

    A Reflexos estava de férias no Alentejo quando morreu a minha avó e eu estava (recentemente) em Braga quando morreu a avó da Reflexos. Notem que nem eu vou com muita regularidade da Braga, nem a Reflexos com muita regularidade ao Alentejo.
    Há grandes coincidências...

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  4. Estou como o Ricardo, comoveram-me estas linhas.
    Dos meus avós, tenho ainda vivo o meu avô materno. Com ele aprendemos a pegar numa enxada, aprendemos qual a melhor posição para cavar para não perder a terra dos regos, como mondar os poios, como arrancar as semilhas da terra. Na altura da Festa, na matança do porco lá ia o avô Luís de faca na mão a dar instruções de como pegar no porco para o animal não sofrer muito. Depois de extraído, o sangue no alguidar tinha de levar uma cruz feita com a faca para o Senhor abençoar aquela carne que foi criada com o suor de todos. E depois de chamuscado, cada neto tinha uma pedra para lavar o bicho.
    Hoje, já com 5 bisnetos, muitas vezes acabamos por recordar os momentos que ficam gravados na memória.

    PS: Alberto, vi ontem no DN que abriu um restaurante de cozinha alentejana na Ribeira dos Pretetes. Uma oportunidade para saborear a Gastronomia alentejana. Se precisar de indicações de como lá chegar diga porque eu sei onde fica. Hei-de lá ir ver se têm sopa de cação.

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  5. Olá Henrique
    Ainda bem que gostou do artigo sobre o meu avô. Obrigado por ter partilhado também as suas vivências com o seu avô que felizmente ainda vive.

    Quanto ao restaurante alentejano, já me falaram dele. Este fim-de-semana ainda não posso passar por lá, mas talvez no próximo.

    Penso que deve ter sopa de cação (caldeta de cação), como qualquer restaurante alentejano que se preze :)

    Não faço a mínima ideia de onde seja esse local. São bem-vindas as suas indicações.

    Obrigado

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  6. Alberto, foi com lágrimas nos olhos que li o Outras Escritas, juntamente com teus pais. E com saudade lembrei o Grande Homem que foi o Mestre Quim Sapateiro, aquele ser que sempre tinha uma palavra amiga e carinhosa para me manifestar sempre que me via passar. Parabéns por esta homenagem a teu avô.
    Sei bem o que é sentir saudade dos nossos avós, quis a vida me tirar os meus, e tenho tantas mas tantas saudades deles que por vezes doi imenso em meu coração a sua ausencia. Lembro minha avó, a minha Amiga e confidente de momentos menos bons, mas como tudo na vida tem o seu time o dela chegou e para sempre ficou a saudade e a dor da sua ausencia.
    obrigada Alberto, amigo de tempos que já lá vão, (nossa infância).
    Deixo aqui uma grande beijoca e admiração pelo ser que és.

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  7. Olá Luísa

    Obrigado pelo teu comentário. É um dos primeiros vindos do Ervedal! Tem um sabor especial, porque sempre ajuda a matar um pouco as saudades que sempre tenho da nossa terra...

    Sim, é verdade, os nossos avós deixam sempre grande marcas nas nossas personalidades e, como pela ordem natural da vida, partem antes de nós, deixam-nos também muitas saudades.

    Um beijinho do teu amigo (de infância e de sempre) Alberto e volta sempre ao Outras Escritas.

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  8. Tb eu me comovi com a tua homenagem, tantas saudades tenho do mestre Quim!!
    Claro e nem só.!
    Bjinhos e obrigada por seres assim.
    Tenho muito orgulho de ti.

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  9. Boas!

    Encontrei o seu post por acaso, a procurar "Antunes Sapateiro" no google. Estava a ver se havia alguma coisa no mundo digital que pudesse utilizar para a minha árvore genealógica. Não pensei que tivesse sorte.

    Os "meus" Antunes também têm origem no Ervedal, e também eram uma família de sapateiros.

    Se não se importasse e gostasse de ajudar (e se souber, claro está), pedia-lhe que me enviasse o nome dos pais do Sr. Joaquim, para eu poder acrescentar à minha árvore, caso se trate realmente do mesmo ramo de Antunes.

    Se estiver interessado, posso enviar-lhe uma fografia do primeiro Antunes de que há memória na minha família, Francisco Antunes (casado com Maria Salomé Varela) e da família (sendo que é possível que um dos filhos fosse o pai ou mãe do seu avô).

    Se estiver interessado, o meu e-mail é ines.simao@netvisao.pt

    Muito obrigada,
    Inês Antunes Simão

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  10. Olá Inês

    Sim, definitivamente somos da mesa família e os Antunes do meu avô são os mesmos que os seus.

    O meu avô cuja vida retratei no "post", chamava-se Joaquim Antunes Varela Prates. O seu pai, meu bisavô chamava-se Joaquim Antunes Varela e a sua mãe, minha bisavó Maria Joaquina Prates.

    O meu trisavô chamava-se Francisco Antunes e era casado com Maria Salomé Varela. Ou seja, o casal de que a Inês fala.

    Obrigado por me ter contacto e se precisar de mais alguma ajuda, disponha.

    Gostaria muito que me enviasse a fotografia do meu trisavô Francisco Antunes e de saber qual o parentesco que existe entre nós.

    Cumprimentos

    Alberto José Antunes Varela Velez Grilo

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  11. Conheci muito bem o seu avo.Era ele que fazia os meus sapatos quando eu era crianca.Lembro de ir a loja tirar as medidas.Eles faziam para mim uns sapatinhos de cabedal com uma tira no peito do pe e um botao de lado.Parece que os estou a ver na loja sentados a trabalhar ,rodeados de sapatos.Hoje pudemos dizer que eram grandes artistas,a maior parte do trabalho era a feito a mao ,lembro-me tambem de que tinham uma maquina de coser sapatos ,mas era tudo manual.
    Tudo isto ha mais de 50 anos atras.

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  12. Olá Mariana

    Muito obrigado por deixar aqui o seu testemunho sobre o trabalho do meu avô e dos irmãos. Infelizmente, hoje em dia, este tipo de actividades desapareceu. É umas pena...

    Cumprimentos

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