terça-feira, 26 de maio de 2009

Notícia em Destaque - Avião cai no aeroporto da Madeira (actualização)

Do Diário de Notícias da Madeira:

Comissão de inquérito investiga acidente
Os investigadores estiveram ontem no aeroporto a fotografar e a recolher indícios



J. Nóbrega

O 'Zlin', de fabrico checo é um modelo muito usado para festivais de acrobacias aéreas. António Rodrigues, piloto do Aero Clube, garante que, na Madeira, não há piloto tão experiente neste tipo de aviões como Bruno Alves.
Data: 26-05-2009

O avião que domingo se despenhou no Aeroporto da Madeira tinha um plano de voo local aprovado pela Navegação Aérea (NAV). A entidade que controla o espaço aéreo da responsabilidade de Portugal autorizou o voo na baía do Funchal até aos 3000 mil pés e permitiu a manobra baixa sobre a pista. "Nada do que se passou no Aeroporto foi à revelia da NAV". A informação, avançada pelo gabinete de comunicação da NAV, refere que, ao entrar na pista, o piloto do 'Zlin' pediu para fazer uma manobra baixa, o que foi autorizado, tal como tinha sido todo o voo. E é tudo. As explicações da NAV sobre o que se passou domingo ficam-se por aqui. O gabinete de comunicação remete os esclarecimentos para o relatório que sairá do inquérito ao acidente. Os investigadores do Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes Com Aeronaves (GPIAA) chegaram no primeiro voo da manhã à Madeira. Em Lisboa, Fernando Ferreira dos Reis, o director do GPIAA, também foi parco em explicações. "Neste momento, os nossos investigadores estão no terreno a recolher provas, a efectuar todas as diligências exigidas num acidente aviação".

Os procedimentos do organismo que investiga os acidentes de aviação em território português estão disponíveis na Internet. Os peritos recolhem os indícios, depois fazem a análise e, por fim, elaboram um relatório. "Esse relatório final é público e disponibilizado na Internet". As causas e as circunstâncias do acidente serão conhecidas e públicas, só não se sabe quando. O director do GPIAA não deu prazos, nem datas para a conclusão do inquérito e para a publicação do relatório.

A movimentação dos peritos foi visível ontem no Aeroporto da Madeira. Os procedimentos obrigam à fotografias do local do acidente, à recolha de vestígios e identificação de provas nos destroços. A estes investigadores compete obter as primeiras declarações das pessoas envolvidas e de testemunhas, que devem ficar "à disposição para posterior audição". Neste momento, pouco mais se sabe sobre as causas e as circunstâncias em que ocorreu o acidente no Aeroporto da Madeira. Foi criada uma comissão de inquérito, as investigações começaram logo de manhã e ninguém dá avança teorias sobre o que se terá passado. "Qualquer declaração, qualquer opinião sobre o que passou poderia pressionar ou condicionar o trabalho dos inquiridores". E, tal com a NAV, o INAC e o GPIAA, o director da ANAM, Duarte Ferreira, prefere não comentar, nem especular sobre o que passou. "Vamos esperar pelo relatório da comissão de inquérito". Testemunhas no local na altura do acidente referiram ao DIÁRIO que o avião estava a fazer acrobacias sobre a pista do Aeroporto quando se despenhou. Primeiro, fez manobras simples, depois entrou em voo inverso a baixa altitude e fez um 'loping', mas não conseguiu recuperar e despenhou-se numa área de segurança da pista. O embate em terra provocou um incêndio. O piloto conseguiu sair o seu pé; o outro ocupante ficou preso, foi desencarcerado pelos bombeiros.

Piloto no hospital em situação estável
Bruno Alves era o único madeirense titular de um avião acrobático do tipo 'Zlin 142'

O piloto da aeronave que se despenhou anteontem na pista do Aeroporto da Madeira continua sob vigilância hospitalar. Bruno Alves está no Serviço de Observação da urgência do Hospital Central do Funchal mas, segundo os médicos que o acompanham, apresenta uma situação "estável". No entanto, Bruno Alves está a fazer exames na sequência de eventual traumatismo torácico com consequente entrada de ar na pleura.

Quer o director clínico, quer o chefe de equipa da urgência asseguraram ontem que, "à partida, o doente está fora de perigo". Já o co-piloto, vive uma situação bem mais reservada (vide destaque nesta página).

Uma vez na urgência, o acesso ao piloto foi interdito ao DIÁRIO, com base nas regras internas. No entanto, sabe-se que Bruno Alves foi visitado por familiares, mas não tem dado resposta aos contactos para o telemóvel.

O piloto trabalha no serviço de manutenção da TAP, como mecânico, e é um adepto fervoroso da acrobacia aérea. Por isso, aos domingos, voava regularmente com pilotos e outros amigos junto à pista do Aeroporto e era-lhe conhecida a larga experiência nestas lides. As suas acrobacias eram muito apreciadas pelos aficcionados da aeronáutica que, ao domingo, costumavam observar os rasgos do piloto. Aliás, era o único madeirense titular de um avião acrobático do tipo 'Zlin 142', que estava a pagar a expensas próprias.

Em entrevista concedida ao DIÁRIO há cerca de dois anos, Bruno Alves lamentava o facto de a acrobacia aérea ter vindo "a estar morta no nosso país durante 80 anos", muito por conta do Salazarismo. Comentários feitos pelo piloto nas vésperas da realização da prova 'Red Bull Air Race', que decorreria dias depois no Porto. "Salazar, quando subiu ao poder, castrou a acrobacia. Ela só ressurgiu nos anos 60 pela mão dos militares, como os 'Asas de Portugal'", denunciou Bruno Alves.

Em termos de participações oficiais, a última entrada aconteceu no Festival Aéreo de Porto Santo, organizado pelo Aeroclube da Madeira, admitindo na altura: "Faltam-me ainda algumas certificações para poder trabalhar." O avião ligeiro foi adquirido pelo próprio na República Checa e teve por objectivo concretizar um velho sonho de um homem deslumbrado com as acrobacias aéreas. Embora, ao DIÁRIO, tenha reconhecido, na citada entrevista, que para os portugueses, os aviões ainda são um assunto tabu. Falta cultura aeronáutica ao cidadão comum".

Rosário Martins

Queimaduras e escoriações "muito graves"

É com prognóstico reservado que permanece o co-piloto Pedro Filipe, de 39 anos, que se encontrava na aeronave que se despistou no domingo ao final da tarde. O doente foi evacuado de madrugada do Hospital Central do Funchal para a Unidade de Queimados do Hospital São João, no Porto, tendo dado entrada ontem, por volta das 8h15. A assessora de imprensa, em declarações ao DIÁRIO, explicou que o doente apresenta "queimaduras e escoriações muito graves".

Num balanço feito ao final da tarde de ontem, por volta das 19 horas, Romana Fresco explicou que ainda era muito difícil precisar quais as áreas mais afectadas com as queimaduras. "A avaliação está reservada", concluiu. O relatório clínico do co-piloto será revisto ainda esta manhã.

F. G.

1958

Queda do hidroavião 'Martin-Mariner', da companhia 'Artrop', num voo entre Lisboa e Funchal. O hidroavião 'Brio Santo' desapareceu no mar e com ele os 36 passageiros.

1973

Um avião espanhol, da companhia 'Spartax', despenhou-se no Porto Novo quando estava prestes a aterrar, tendo morrido os três tripulantes. O objectivo era apoiar um avião da companhia com uma avaria.

1977

Foi, até hoje, o grande acidente na Região. Um Boeing da TAP despenhou-se após a aterragem, tendo caído no calhau, na parte sobranceira ao aeroporto. Morreram 136 passageiros.

1977

Um mês após o grande desastre da TAP, um 'Caravelle', de uma companhia suíça, despenhou-se na baía do Porto Novo, tendo morrido mais de três dezenas de passageiros.

1991

A tragédia viria a acontecer, desta feita com aeronaves ligeiras. A Região regista a queda do 'Piper Seneca', oriundo de Ponta Delgada, tendo morrido os dois ocupantes.

1991

Passados dois dias da ocorrência com o 'Piper Seneca', queda do 'Cessna NA 316', nas serras do Campanário, após ter embatido numa linha de alta tensão. Resultado: seis mortos.

2003

Um bimotor cai na Ponta de São Lourenço, a 11 de Setembro, e faz 10 vítimas. Tratava-se de um avião particular, com passageiros orundos de Málaga, que sofreu uma explosão num dos motores.

2 comentários:

  1. Boa tarde Sr. Grilo,

    Não sei, nem quero saber porque se deu ao trabalho de listar tantos acidentes na Madeira...Porém, ao publicar esta notícia terá por acaso pensando na dor dos familiares do jovem de 24 anos, piloto da Tap que jaz no chão?
    Os media encarregaram-se de nos tornar indiferentes à dor dos outros...Aquele que está no chão na imagem por si publicada e que não mereceu condolências como o Presidente da Polónia, era o meu filho.Não guardo rancor,apenas decidi alertá-lo para a insensibilidade.

    Ana Filipe (montedosvendavais@gmail.com)

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  2. Cara D. Ana Filipe

    Obrigado em primeiro lugar por ter visitado o meu blogue. Embora refira que não sabe nem quer saber porque me dei ao trabalho de listar os acidentes de aviação ocorridos na Madeira, sinto-me no dever de lhe dar uma explicação.
    Sou um apaixonado pela aviação e por todos os assuntos que a envolvem. Como tal escrevo com alguma regularidade no Outras Escritas artigos sobre o tema (ultimamente até o tenho feito muito pouco). Infelizmente os acidentes são também um dos temas que envolve a aviação e é nessa sequência que surge este "post". Como poderá verificar no início, refiro que o texto é uma transcrição de um artigo do Diário de Notícias da Madeira (tudo o que está a itálico) e desse artigo consta uma lista dos acidentes que já ocorreram na Madeira. Publiquei o artigo na íntegra para que os leitores do meu blogue que se interessam por aviação(alguns sem acesso ao Diário de Notícias da Madeira), pudessem ter mais informação sobre um acidente.

    Não fiz esta publicação por insensibilidade. Aliás, até penso que a maioria das notícias publicadas nos meios de comunicação social generalista sobre a aviação dão enfoque demasiado aos acidentes, deixando de fora todos os outros temas tão ou mais importantes.

    Gostaria aproveitar para lhe dar condolências pela morte do seu filho, que infelizmente eu não conhecia, embora conheça muita gente da Madeira ligada à aviação.

    Melhores cummprimentos

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