O Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves registou, num ano, 51 choques de aves com aviões no aeroporto de Lisboa. Os pilotos garantem que a maioria das situações não é reportada e alertam que a Portela está "completamente cercada" de pombais.
Aos olhos dos aviadores, a quantidade de pombais junto ao Aeroporto Internacional de Lisboa assemelha-se a uma "bateria anti-aérea": as aves que rondam as pistas são uma "ameaça" à segurança de passageiros e tripulação.
"A existência de aves pode provocar problemas como o que aconteceu recentemente em Nova Iorque", avisa o Comandante José Cruz dos Santos, responsável pelo Departamento de Segurança de Voo da Associação Portuguesa dos Pilotos de Linha Aérea (APPLA).
Em 2007, o Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves" (GPIAA) recebeu 126 notificações de casos de "Bird Strikes" registados nos aeroportos portugueses. Só na Portela foram 51.
Para o Comandante Cruz dos Santos, estes dados são apenas "uma pequena percentagem do verdadeiro número de embates com pássaros". Em Lisboa, quase todos os pilotos já tiveram "uma situação de embate com um pássaro ou avistamento e quase embate", conta o comandante.
Consciente do perigo, a ANA - Aeroportos de Portugal fez um levantamento do número e localização de todos os pombais existentes nos arredores. O mapa foi enviado para o Instituto Nacional de Aviação Civil (INAC), entidade reguladora, e apresentado no final do ano passado à APPLA. Os pilotos ficaram "assustados".
"Estamos completamente cercados de pombais. Assustou-nos a todos a sua quantidade e localização. Aterramos sempre com uma série de pombas a voar em redor do aeroporto, é uma bateria anti-aérea", critica o comandante da APPLA.
A maior concentração de pombais é no Concelho de Loures, na zona norte do aeroporto, que é também normalmente o sentido de descolagem dos aviões.
Amândio Silva é um dos muitos columbófilos com pombais próximos do aeroporto. Desempregado, solta diariamente os seus 150 pássaros na Vala do Prior Velho para os treinos de preparação para as provas e garante que "a linha de voo dos pombos não tem nada a ver com a dos aviões".
"Aqui há tempos estiveram aqui uns senhores do aeroporto e eu disse-lhes que os pombos não vão para a zona do aeroporto", conta o homem de 56 anos, apontando para uma das pistas da Portela, situada a cerca de 500 metros.
O piloto Cruz dos Santos tem dificuldade em aceitar esta explicação: "Gostaria de ter essa percepção de que as aves cumprem com as regras do ar, mas a meu ver isso não acontece".
O comandante explica que, para os pilotos, tentar desviar-se dos pássaros é uma manobra difícil quando se está a aterrar ou a descolar e, muitas vezes, as aves também não o conseguem fazer a tempo.
"A reacção que normalmente encontro nos pássaros quando eles avistam um avião é desviarem-se, ou seja, é um mergulho, mas às vezes não têm sucesso e acabam por cair em cima das aeronaves", explica, lembrando que estes choques podem provocar danos nas superfícies de voo dos aviões, vidros e até motores.
Na Associação Columbófila do Distrito de Lisboa (ACDL) estão registados cerca de cinco mil pombos-correio. Além destes, existem ainda os pombais "ilegais", uma realidade reconhecida quer pela Câmara de Lisboa quer pela de Loures, ambas contactadas pela Lusa.
Para Carlos Teixeira, da ACDL, a ameaça real não é o pombo-correio mas sim os pombos errantes: "Lisboa tem milhares de pombos que se formam em bandos e vão à procura de comer". De acordo com a autarquia lisboeta, são cerca de 20 mil.
Para afugentar as aves da rota dos aviões, a ANA tem vários sistemas: canhões de gás que emitem explosões sonoras, sistemas de ultrasons só audíveis pelos pássaros e alguns falcões que assim que são soltos afastam toda a passarada.
No gabinete de segurança da ANA, os investigadores estão a conceber uma "tecnologia inovadora" que recorre a um laser de cor verde "que a breve prazo deverá estar disponível", revelou à Lusa Rui Oliveira, da ANA.
In RTP
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