Lê-se no Diário de Notícias da Madeira:
Em 2007, foram vendidas na Região quase 124 mil embalagens de antidepressivos
A crise económica e social que está a afectar o país nos últimos tempos é um factor que tem favorecido o aumento dos casos de depressões. Uma realidade a que a Madeira não fica alheia.
Esta foi uma das principais conclusões retiradas de uma sessão de esclarecimento sobre doenças mentais que teve lugar na passada semana em Lisboa. De acordo com José Manuel Jara, director de Serviço de Psiquiatria do Hospital Júlio de Matos, e um dos participantes na iniciativa, a depressão tem três causas principais: a predisposição genética, os factores biológicos e as condicionantes psicossociais.
"A crise económica que estamos a viver actualmente e os problemas daí decorrentes, como desemprego, endividamento das famílias, podem predispor algumas pessoas para estados ansioso e depressivos", disse ao DIÁRIO. "A crise financeira ao transformar-se numa crise social pode contribuir para a descompensação de pessoas mais vulneráveis".
Em Portugal estima-se que cerca de 5% da população já tenha tido pelo menos um episódio de depressão grave e o número pode não parecer tão surpreendente se tivermos em conta que "o estilo de vida acelerado, o stress constante, a falta de repouso podem gerar desgaste nervoso, em especial nos adultos jovens e em pessoas de meia idade".
O psiquiatra vai mesmo mais longe e admite que "o aumento significativo da taxa de suicídios verificada em Portugal entre 2001 e 2006" pode ser o "resultado de factores socioeconómicos de crise e de agravamento das condições de vida".
Mas não são apenas os episódios depressivos que parecem estar a aumentar. As perturbações mentais no seu todo estão em crescimento. José Jara explica que estilos de vida pouco saudáveis, a toxicodependência e abuso do álcool, o empobrecimento das relações humanas, um ambiente social ultracompetitivo e a dificuldade em estabilizar um vínculo laboral "são factores que podem contribuir para fragilizar o ser humano gerando, directa ou indirectamente, patologia mental". Até mesmo o uso de haxixe, considerada como droga leve, "pode levar a um risco acrescido de esquizofrenia em pessoas predispostas", acrescenta o médico.
É por isso que diz ser tão importante estar atento a alguns 'sinais', até porque "há indícios que devem levar a considerar a maior probabilidade de uma doença psiquiátrica". É o caso das alterações de personalidade, da ansiedade excessiva ou estados de profunda tristeza ou apatia. O médico acrescenta que "alterações evidentes nos hábitos, oscilações acentuadas de humor e demasiada irritabilidade e hostilidade são outros dos sinais a que é preciso estar atento porque podem indicar algum distúrbio mental".
Porém, como sublinha, há que ter em conta que "é possível controlar as doenças psiquiátricas e minimizar as suas repercussões". Para isso, é necessário começar a tratar as patologias o mais precocemente possível, utilizando medicação apropriada e apostando numa "abordagem integrada que contemple os estilos de vida, os hábitos saudáveis e a reabilitação e integração social se for necessária".
339 embalagens por semana
Os portugueses estão a recorrer cada vez mais ao uso de antidepressivos, de tal maneira que as vendas destes medicamentos aumentaram 68% no espaço de cinco anos. Na Região, também as vendas destes medicamentos têm vindo a aumentar. Segundo dados fornecidos pela delegação portuguesa da empresa IMS Health (consultora especializada na realização de estudos de mercado para a indústria farmacêutica), em 2004, foram vendidas na Madeira 115.802 embalagens de antidepressivos e estabilizadores de humor. Em 2005, o total de embalagens aumentou ligeiramente para as 116.313 e, em 2006, o total de vendas atingiu as 118.728 unidades. No ano passado foram mais uma vez batidos recordes de vendas, com a Região a registar vendas no total de 123.664 embalagens de antidepressivos e estabilizadores de humor, o que significa que foram vendidas por semana cerca de 339 embalagens destes medicamentos. E o total de vendas deverá aumentar ligeiramente, este ano. Segundo os dados fornecidos ao DIÁRIO pela IMS Health, entre Janeiro e Outubro deste ano foram vendidas 110.927 embalagens de antidepressivos.
O psiquiatra José Jara recorda que "os medicamentos são objecto de prescrição médica, só começam a actuar terapeuticamente ao fim de cerca de duas semanas e não produzem dependência". Além disso, e sem querer retirar conclusões, o médico admite que o aumento das prescrições pode traduzir "uma maior consciência das possibilidades terapêuticas que os novos antidepressivos permitem".
O director de Serviço de Psiquiatria do Hospital Júlio de Matos diz ser um erro comum, mas grave, colocar no mesmo lote o grupo dos 'antidepressivos' e o grupo dos 'ansiolíticos' e 'hipnóticos', "numa designação genérica de 'sedativos' ou psicofármacos". José Jara diz ainda que analisar o volume de vendas não é suficiente para perceber o padrão de prescrição e a evolução dos 'consumos'. "O aumento ocorrido nos últimos cinco anos deve ser objecto de uma análise detalhada para permitir tirar conclusões", refere.
Sexo feminino com maior predisposição para a depressão
De acordo com José Manuel Jara, médico psiquiatra e director de Serviço de Psiquiatria do Hospital Júlio de Matos, "cerca de 10 a 25% das mulheres portuguesas sofrem de depressão, o que representa o dobro comparativamente ao sexo masculino".
O médico explica que vários dados comprovam que o sexo feminino apresenta maior predisposição para as depressões. "Na origem deste problema estão factores biológicos, hormonais e psicossociais", explica.
Por esta razão, José Jara aconselha a que as mulheres devem procurar ajuda médica psicológica, sobretudo "em situação de crise". Há que ter especial atenção aos períodos de vida em que a vulnerabilidade dos indivíduos do sexo feminino aumenta, "como acontece após o parto e no climatério". Até mesmo os períodos que antecedem a menstruação são também desencadeadores da depressão.
O psiquiatra salienta, porém, que não é em todas as doenças psiquiátricas que as mulheres apresentam maior prevalência. No caso das toxicodependências e do alcoolismo, a prevalência é menor no sexo feminino. Também a esquizofrenia tem, em geral, "um curso menos grave do que no homem", diz José Jara.
In Diário de Notícias da Madeira
A semana passada fui ao dentista e ele disse-me que desde que começou esta situação da crise, começaram a aparecer pessoas com dentes estalados de se enervarem... e cerra os dentes!
ResponderEliminar