Já não sei porque motivo, falámos de Serpa. E foi assim, desta forma, que Rita Telles Grilo me falou de Serpa:
Esmagou-me o Alentejo lá para Serpa
Na escaldância ilimitada dos seus longes
As azinheiras perdidas eram monges
Rezando em solidão seu breviário.
Os olhos desejavam encurtar
Esta dor funda que crescia no meu peito
Tinha a alma posta a nu e a sangrar
Como noivado que se tivesse desfeito.
Engolia uma amargura ensalivada
No silêncio da tarde tão pesada
Onde só os passos soavam na calçada.
Descia a rua dos Fidalgos
Casa remotas com passado cheio de glória
Cuja traça requintada tem uma história
Das sacadas altaneiras
Perfiladas com maneiras
Das gentes que as habitou
Tudo ali me deslumbrou
Mas o belo me esmagou
Dolência, crescença, volume que não coube em mim?
Talvez
Pousada de S. Gens
Da Senhora de Guadalupe
Os olhos se marearam.
Era tudo demais p´ra caber dentro de mim.
O perfume das giestas, do alecrim
A força da beleza me fazia rebentar
E então sangrar.
Guardo na retina essa vivência
Rectângulos de terra morena estendidos como lençóis
E em seu seio
Mesmo ao meio
Um tapete amarelado
Do trigo que foi ceifado.
Será isto mesmo verdade?
O suor banhava-me o rosto
Quase mesmo ao sol-posto
Dois ditongos soltei
E o espanto
O estranho encanto
Deixou-me lá, não regressei.
Rita Telles Grilo
1995
Como eu adorei ler este poema, e como eu tb gosto dela.!Obrigada Alberto bjinhos.
ResponderEliminarOlá Zélia. A Rita Telles é uma pessoa excepcional a todos os níveis...
ResponderEliminarBeijinhos
Realmente o poema é muito bonito. Gostei de como a autora escreve a paixão que tem pelo o "seu" Alentejo. Gostei imenso da forma que como está escrito pois tem muito sentimento.
ResponderEliminarParabéns para a autora deste poema e também para o Albeto Grilo por ter publicado neste seu blog.
Continue a publicar mais poemas e mais curiosidades neste seu bolg, porque quando venho aqui à net, gosto muito de dar uma olhada no seu blog.