Mostrar mensagens com a etiqueta Quinta lugares cruzados. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Quinta lugares cruzados. Mostrar todas as mensagens

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Quinta, Lugares cruzados XII (Campo)


Escolhi O Campo como tema para a Quinta, Lugares Cruzados desta semana.

Quando penso em campo é o meu Alentejo que me vem à memória. O Alentejo da minha infância e o Alentejo de agora com o seu "mar" de campo a perder de vista.

Campo para mim é planície e horizontes largos com poucas árvores. Campo é terra cor de barro ou castanha no Inverno que se cobre de verde com o nascer das searas. Campo é cor, muita cor, na primavera com os desabrochar das flores silvestres, roxas, amarelas, brancas, azuis e vermelhas. Campo é amarelo no verão, torrado pelo sol que abrasa as searas e o restolho seco...

Campo é um conjunto de oliveiras velhas muito alinhadas ou um conjunto de sobreiros em desordem.

Campo é o meu pai, que tanto gostava de ir aos espargos e que depois a minha mãe cozinhava com carne do alguidar.

Que saudades...


E você Reflexos? Como é o seu campo?

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Quinta, Lugares cruzados XI (Restaurante)


O tema do Quinta, Lugares Cruzados de hoje é o Restaurante e foi escolhido pela Reflexos.

Lembro-me da alegria que sentia quando em pequeno se almoçava ou jantava em família num restaurante. Naquela altura ir ao restaurante não era muito usual, a não ser quando nos encontrávamos de férias na praia. Nessa altura quando visitávamos a Nazaré, almoçávamos no restaurante "O Tamanco". De decoração e hábitos modestos, O Tamanco, fazia a delícia dos mais novos e os seus pratos de peixe eram muito apreciados por todos.

Quando crescemos, as idas ao restaurante tornam-se vulgares. Às vezes demasiadamente vulgares...

Na nossa agitação diária, os restaurantes são muitas vezes "usados" como recurso porque não temos tempo de cozinhar em casa, ou porque estamos de tal forma cansados, que não temos força para cozinhar coisa alguma. É pena!

Mas há o outro lado! Embora rotineira, uma ida ao restaurante num dia de semana no intervalo de almoço com um ou mais amigos, é uma forma óptima de manter as conversas em dia.

E menos frequentes, mas muito mais excitantes e agradávies são os almoços e jantares de fim-de-semana, sem horários para cumprir e que nos permitem apreciar demoradamente um bom prato, regado com um bom vinho tinto, seguindo de um daqueles doces maravilhosos da culinárias portuguesa e terminado, como não poderia deixar de ser, com um café.


E você Reflexos? Vai muito ao restaurante?

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Quinta, Lugares cruzados X (Jogo da Glória)


Esta semana o Quinta, Lugares Cruzados será o Jogo da Glória.

Dados lançados. Casas contadas. Caímos em "avance uma casa", que aqui é como quem diz uma semana... e lá vamos nós para quinta-feira, dia 03 de Junho.

Jogo é jogo... é como a vida... às vezes obriga-nos a avançar "casas".

E você Reflexos, já saltou?

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Quinta, Lugares Cruzados IX (Praia)


Nesta Quinta, Lugares Cruzados, desafiei a Reflexos a escrever sobre a Praia.

Nasci e cresci no Alentejo, numa pequena aldeia a mais de 100 quilómetros da praia mais próxima. À primeira vista este facto pode dar a entender que terei tido um contacto tardio com o mar, o que na realidade não aconteceu. Desde muito cedo na minha vida, que cerca de um mês de verão era passado em casa das "Tias das Caldas". As Tias, ambas irmãs da minha avó materna viviam (e ainda vivem) nas Caldas da Rainha, uma cidade com pouco interesse, mas que fica mesmo ao lado de praias como as de S. Martinho do Porto, de Peniche, do Baleal, da Nazaré e da Foz do Arelho.

Foi por isso nestas praias da zona Oeste, com águas frias e cheias de "nevoeiro e neblinas matinais" (eram sempre assim as previsões meteorológicas), que passei grande parte dos Verões da minha infância e que mesmo apesar destas condicionantes, eram a alegria do nosso Verão (meu, da minha irmã e dos meus pais também).
Nas Caldas os dias começavam cedo como uma ida à praça para comprar fruta e outros mantimentos para o dia. Regressávamos depois a casa para ultimar os preparativos (esta era a parte menos agradável para nós crianças, porque, mesmo que estivesse quase a chover, ansiávamos por chagar à praia). Depois partíamos para um dia inteiro de praia.
Os primeiros anos foram passados quase exclusivamente em S. Martinho do Porto, porque uma das Tias alugava sempre uma daquelas barracas com riscas coloridas, onde nos podíamos abrigar. Do vento, entenda-se, porque o sol pouco aparecia. Para além disso, a praia de S. Martinho do Porto é uma baía em concha (uma perfeição natural), o que faz com que o mar seja sempre calmo e ideal para as crianças que ou não sabem ainda nadar, ou que ainda se aventuram pouco no mar.
Foi em S. Martinho do Porto que aprendi a nadar, sem que ninguém me tenha ensinado. Aprendi de um dia para outro quando concluí que para não ir ao fundo, basta mexer com algum sincronismo os braços e as pernas.
Os melhores amigos de praia estavam também em S. Martinho, uma vez que as vizinhanças de barraca se mantinham de ano para ano e por isso as crianças eram sempre as mesmas. Éramos bons amigos, apesar de nos falarmos só durante o Verão e de não termos telemóveis nem Facebooks.
Durante a adolescência, as férias nas Caldas mantiveram-se, mas a idas a S. Martinho, passaram a ser intercaladas com idas à Nazaré, ao Baleal e a Peniche. Nestas praias podíamos contactar com o mar a sério e fazer uma das coisas que mais gosto, saltar na ondas. Lembro-me como se fosse hoje de me aventurar nas ondas da Nazaré e de vir ter à praia completamente enrolado numa ou outra das ondas mais fortes. Para além da praia, sempre que íamos à Nazaré era obrigatória a subida ao Sítio no funicular (a que chamam Elevador) e o almoço no restaurante "O Tamanco".

De todas as praias talvez seja a do Baleal a mais bonita e a mais agradável. A vila do Baleal, a poucos quilómetros de Peniche, fica situada numa pequena península que se liga a terra por uma estreita faixa de areia, que em dias de mar tempestuoso acaba por desaparecer nas ondas, transformando o Baleal numa ilha. A praia, de areias finas e brancas, tem uma extensão considerável e zonas de mar abrigadas, ideais para ir a banhos, que contrastam com as zonas mais expostas com ondas ideais para a prática de surf.
As idas ao Baleal, eram quase sempre precedidas de um passeio por Peniche e, pelo menos uma vez no Verão, uma ida ao Cabo Carvoeiro.

Com a chegada da adolescência, as férias nas Caldas foram interrompidas durante três anos. Foram os anos do Algarve (ainda com os pais). Habituados que estávamos às águas frias e revoltas do Oeste, o Algarve apresentou-se-nos como o "paraíso na terra" (hoje mudei completamente de opinião), com os seus dias ensolarados e as suas águas cálidas. Ficávamos hospedados numa casa em Albufeira e a praia que habitualmente frequentávamos era a praia do Peneco, mesmo no centro da então vila. De notar que no início dos anos oitenta, o Algarve tinha ainda algo de paradisíaco que hoje se perdeu completamente.

Depois destes três anos, as férias voltaram a ser passadas em casa das "Tias das Caldas".

Confesso que não me lembro de quando foi a última vez que fiz férias com os meu pais em casa das tias, mas lembro-me de ainda lá ter ido quando já estava na Faculdade.

Depois disso e no que respeita a férias na praia, ainda fui mais umas vezes ao Algarve com os amigos da Faculdade, ao Brasil em viagem de fim de curso, às Canárias e a Cabo Verde.

Hoje em dia não faço férias de praia. O destino praia enquadra-se num tipo de turismo que não me agrada e ao qual não dou qualquer valor. Vou, no entanto, bastantes vezes à praia nos fins de semana de Verão que passo na Madeira ou no Porto Santo. Continuo a adorar o mar, mas a magia dos tempos de criança perdeu-se...

Voltei há algum tempo a percorrer as praias da minha infância na companhia da minha mãe, mas fomos assaltados por uma onda de nostalgia que nos impede de lá voltar tão cedo. Há coisas que devem ficar no nosso passado e que não devemos tentar repetir porque nunca nos vão saber ao mesmo.

As férias em casa das "Tias das Caldas" ficarão para sempre gravadas na minha memória como as melhores épocas da minha infância.


E você Reflexos, vai muito à praia?

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Quinta, Lugares Cruzados VIII (Lisboa)


Na rubrica Quinta, Lugares Cruzados, era inevitável que, mais cedo ou mais tarde, escrevêssemos sobre Lisboa. Confesso que deixei a Reflexos escolher esta cidade como tema, mas que tinha pensado em Lisboa assim que começámos a rubrica, já lá vão sete semanas.

Lisboa! Que nome mais bonito para uma cidade. Esta é, desde que me conheço a minha cidade portuguesa de eleição, mesmo com os defeitos e os problemas sociais inerentes a todas as cidades da sua dimensão,

Não me recordo da minha primeira ida à capital. Devia ser ainda bebé quando tal aconteceu. Lembro-me porém de ainda muito pequeno, passear por Lisboa com o meu pai e ficar deslumbrado com tanto movimento, tanta agitação e tantas coisas diferentes.

Lembro-me particularmente de um episódio que marcou o meu pai de uma forma menos positiva. O meu pai era um adepto fervoroso do Clube de Futebol os Belenenses e numa das nossas idas a Lisboa a casa da tia Isabel, que vivia no Restelo, resolveu levar-me pela primeira vez a assistir a um jogo de futebol no estádio do Restelo. Eu deveria ter oito anos nessa altura e era sócio do Belenenses desde que nascera. Não me lembro do jogo, mas lembro-me da cara do meu pai quando no final lhe perguntei qual tinha sido o resultado, demonstrando que o futebol não me despertava a mínima atenção. Claro que a minha inscrição como sócio do clube foi desde logo anulada e nunca mais assisti a nenhum jogo de futebol. Já na altura havia coisas em Lisboa que achava bem mais interessante como ver os aviões passar tão próximo nas aproximações à Portela.

Lembro-me também no fascínio de usar o metropolitano. Pode parecer ridículo nos dias de hoje, mas na altura praticamente não usava transportes públicos em Lisboa, porque as deslocações eram feitas de carro e, talvez por isso, o metropolitano tinha algo de especial, por ser um "comboio por baixo da rua". Devo confessar que hoje em dia ainda tenho algum interesse nos transportes urbanos que circulam em carril como metro, metro ligeiro, eléctricos (Tram), etc.

E a Lisboa de hoje?

Ao contrário do que muitos dizem, Lisboa hoje está mais bonita que nunca. As praças e ruas estão mais limpas e luminosas e a cidade apresenta-se de cara lavada. As novas centralidades, das quais o Parque das Nações é o melhor exemplo, são autênticos casos de sucesso.

E os bairros populares? Como é agradável "trepar" de eléctrico pela rua acima e depois sair na Graça e tomar um café numa esplanada com o Castelo ali mesmo ao lado e a cidade em fundo... e depois à noite passar em Alfama e parar numa daquelas casa de fado pequeninas onde se come maravilhosamente, e já pela noite dentro uma passar por um dos bares de Bairro Alto, menos característicos é verdade, mas onde se sente a cidade vibrar.

E a Baixa? A Baixa tem as mais belas praças de Lisboa. O Rossio, os Restauradores, o Terreiro do Passo e o Largo de Camões. Tem também cafés como a Brasileira do Chiado, o Benard, o Martinho da Arcada, o Nicola e a Suíça. E tem o D. Maria, o Coliseu, o Politeama, o Trindade e o S. Carlos.

E as Avenidas Novas, que nos mostram uma Lisboa bem mais cosmopolita?

E por fim, uma ida a Belém ao fim da tarde para comer meia dúzia de pastéis e ver o pôr-de-sol junto ao rio.

Em Lisboa há uma luz muito especial e única que não encontro e nenhuma outra cidade portuguesa e que me faz sentir bem. Sinto-me em casa, embora nunca lá tenha vivido...


E você Reflexos? O que lhe diz Lisboa?

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Quinta, Lugares Cruzados VII (Cafés)


Na semana passada a Reflexos escolheu como tema da rubrica Quinta, Lugares Cruzados, a Nossa Casa. Numa atitude reactiva, escolhi para esta semana Os Cafés como lugares a cruzar.

Numa primeira abordagem a este tema, penso no meu pai e no Ervedal (Alentejo). Quando eu era pequeno, era hábito nas pequenas aldeias do interior, os indivíduos do sexo masculino reunirem-se diariamente nos cafés depois de um dia de trabalho. As tertúlias ou conversas de café duravam até à hora de jantar, altura em que erra interrompidas para serem de novo retomadas até à hora de deitar. Os fins-de-semana eram passados de café em café. Este deambular de café em café fazia com que os homens passassem muito pouco tempo em casa e consequentemente participassem pouco no processo educativo dos seus filhos. Infelizmente isto aconteceu comigo, o que fez com que o meu relacionamento com o meu pai fosse nos tempos da minha infância e adolescência algo frio e distante. Felizmente a situação alterou-se mais tarde e criaram-se entre nós laços bem mais fortes.

Por outro lado, foi através do meu avô, pai do meu pai, homem bastante mais "caseiro", que tomei pela primeira vez contacto com um café a sério, daqueles cafés míticos que geralmente só existem nas cidades. A idas com o meu avô Alberto a Estremoz eram bastante frequentes e à chegada impunha-se sempre uma ida ao Café Central, um dos míticos cafés da cidade. Ficávamos sempre na mesma mesa e lembro-me como se fosse hoje, das maravilhosas torradas de pão de forma que ali comia. Hoje, o Café Central já não existe. Transformaram-no numa loja de chineses (obrigado ao João Vieira por esta informação). No entanto, o Café Alentejano e o famoso Café Águias d'Ouro mantêm-se abertos e quando visito Estremoz, tomo sempre café neste último.

Resumindo, durante a minha infância e adolescência a minha relação com os cafés foi uma espécie de relação amor-ódio.

Esta situação alterou-se quando iniciei os meus estudos universitários no Porto. Nessa altura o conceito de tertúlia de café foi de tal forma enraizado em mim, que iniciou uma paixão e interesse por este tipo de espaços que dura até hoje.

No café falávamos, no café estudávamos, nos café jogávamos e ríamos e brincávamos! O espaço em si até nem era nada de especial, era pequeno e cheirava muito a tabaco, tinha umas mesas e uns bancos baixos, forrados com napa vermelha. Chamava-se "Bolo Dourado" e hoje em dia já não existe. Lembra-se Reflexos?

E a Padaria Santo António? Este pequeno espaço de padaria/pastelaria/confeitaria/café ficava a caminho de casa. Todos os dias antes das aulas era aí que tomava o meu primeiro café na companhia da Reflexos (tínhamos a sorte de morar os dois para os mesmos lados). No final do dia passávamos novamente pela padaria para um último café e mais dois dedos de conversa. Falávamos de tantas coisas: das aulas, dos professores, dos colegas, de livros... Houve até uma altura em que ficámos viciados em palavras cruzadas! Muitas vezes tínhamos companhia de outros colegas, mas os habitués éramos nós os dois.

Em dias mais festivos, íamos à Cunha, uma pastelaria na Rua Sá da Bandeira. Tinha uns gelados óptimos, mas caros para o nosso bolso. A Cunha ainda hoje existe, e pelo que me pareceu da última vez que estive no Porto, está de saúde. Ainda bem que assim é.

E o Imperial? Café mítico em plena Praça da Liberdade, com um vitral fabuloso em estilo Art Déco. Parava lá sempre para tomar um café quando ia tomar o comboio para o Alentejo na Estação de S. Bento. Tristemente, o Imperial é hoje um McDonalds. Mantiveram-lhe o interior, mas o ambiente perdeu-se.

Quanto a cafés do Porto, devo ainda referir a Brasileira, o Guarani e o Majestic. Cafés que não frequentei muito, mas que foram e são uma referência na cidade. A Brasileira parece que não está a passar pelos melhores dias, mas o Guarani e o Majestic estão de pé e cheios de vitalidade.

Falei de Estremoz e do Porto... e os cafés de Lisboa? A Brasileira do Chiado, o Nicola, o Benard, o Martinho da Arcada, a Suíça, a Mexicana e tantos outros?

E o café onde vou todos os sábados de manhã a que chamam a Esquina do Mundo (Golden Gate no Funchal)?

A lista parece não acabar.

Gosto de café e adoro cafés... Gostos de cafés grandes, espaços de muitas conversas... Cafés belos e míticos... Cafés com história e com histórias para contar.


E você, Reflexos, qual o seu café de eleição?

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Quinta Lugares Cruzados VI (A Nossa Casa)


Por escolha da Reflexos, na rubrica Quinta Lugares Cruzados falamos hoje d' "A Nossa Casa".

Já vivi em vários locais e já chamei casa a locais onde nunca me senti bem. A Nossa Casa deve ser um local agradável e onde nos sintamos sempre bem. É nela que passamos grande parte do nosso tempo, é nela que estão os nossos bens mais preciosos e é nela que poderão estar as pessoas de quem mais gostamos.

A Nossa Casa é o nosso porto de abrigo e o local onde nos devemos sentir seguros.

Nada do que referi tem a ver com luxos ou bens materiais. Por experiência própria, sei que viver com alguns luxos não cria o conforto que necessitamos para que um espaço se torne a nossa casa.

Durante a minha vida, vivi durante tempo significativo em locais aos quais não consegui chamar "A Minha Casa", no entanto, hoje vivo como quero e onde quero. Tenho os meus livros, os meus discos, a minha música e a minhas pequenas coisas onde quero e como quero. Vivo sozinho, mas não me sinto só. Afinal estou na Minha Casa e é aqui que me sinto bem depois de um dia de trabalho ou quando chego de uma viagem...


E você Reflexos, onde fica a sua casa?

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Quinta Lugares Cruzados V (Sala de Espera)


Detesto esperar, seja pelo que for ou por quem for. Por este motivo escolhi como tema para a rubrica Quinta Lugares Cruzados desta semana a Sala de Espera.

Sou por norma muito pontual, o que deve parecer a algumas pessoas algo muito estranho. O português, por norma não chega a horas a lado nenhum e considera a pontualidade uma característica dos Ingleses empertigados! Não somos os únicos europeus que agem desta forma, os Espanhóis e os Italianos, conseguem superar-nos.

A desculpa que se costuma dar para os atrasos sucessivos é a de que se tem muito trabalho e que há sempre muita coisa para fazer, o que me leva sempre a perguntar porque motivo somos dos que menos produzem na Europa.

E o trânsito? Deve ser a desculpa mais usada para um atraso.

Como seria previsível, estou rodeado de pessoas que se atrasam. Fazem-no sempre, nem que seja por cinco minutos, o que me leva a colocar em causa a sua capacidade de aprendizagem. É tão fácil aprender que se nos atrasamos sempre cinco minutos a chegar a algum lado, devemos começar a sair de casa precisamente cinco minutos mais cedo.

Quando uns se atrasam, os outros esperam! Um cenário típico de uma sala de espera é um consultório médico. A consulta nunca é à hora marcada e eu à vezes até me pergunto porque fazem um horário se os atrasos chegam a ser superiores a uma hora. E, já agora, haverá espaço mais deprimente que uma sala de espera com uma televisão a passar novelas da TVi e cuja única hipótese de leitura é um conjunto de revistas cor-de-rosa já há muito fora do prazo de validade?

Dedico este post aos meus amigos Reflexos e Jorge Abreu, que são pontuais ao minuto e que como eu, sofrem o carma das esperas.

E você Reflexos, quais são as suas esperas?

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Quinta Lugares Cruzados IV (Torre Eiffel)


Desde pequena que Maria sonhava com Paris. Foi na escola, no livro da terceira classe que viu pela primeira vez uma fotografia da cidade. Naquele tempo a televisão só estava acessível a alguns e a sua família era pobre e pouco instruída, pelo que apesar dos seus oito anos de idade, não tinha a mínima ideia de como seria Paris. Sabia intuitivamente que gostava da cidade, mas não sabia porquê...

Ao ver a fotografia no livro ficou confusa, porque em destaque estava um "edifício" diferente de todos os que já tinha alguma vez visto. Maria sabia que nas cidades grandes havia edifícios enormes com muitas janelas e onde vivia muita gente, já tinha ido inclusivamente uma vez a Lisboa, mas era muito pequena e não se lembrava muito bem. Chamou a D. Chica, sua professora e perguntou-lhe que edifício estranho era aquele. Queria saber também se todos os edifício de Paris eram assim, estranhos mas belos.

- Maria! Que ideia a tua! Essa é uma fotografia da Torre Eiffel um dos monumentos mais famosos do mundo e cartão de visita da cidade de Paris. - explicou a professora.

Maria envergonhou-se. Aparentemente todas as outras meninas da turma já tinham visto fotografias de Paris e sabiam o que era a Torre Eiffel.

- Deixa lá Maria, não tem mal nenhum não saberes que a Torre Eiffel é um monumento de Paris. Amanhã trago um pequeno texto sobre a torre para tu leres em voz alta aqui na aula. - tranquilizou a professora.

Maria no entanto, ficou aflita. No dia seguinte tinha que ler um texto em frente a todas as colegas e ainda por cima sobre um monumento com um nome difícil de dizer - Eiffel.

No dia seguinte leu o texto com muita atenção e ficou a saber que a Torre tinha sido inaugurada em 1889, que tinha 324 metros de altura e que era dos edifícios mais altos do mundo. Saiu-se muito bem na leitura e ficou encantada com um livro que a professora levou para a aula e que tinha mais umas lindas fotografias da torre.

"Um dia vou a Paris só para ver a Torre Eiffel e para subir até lá acima!" - prometeu Maria a si própria, a caminho de casa.

Maria cresceu. Completou a quarta classe, mas não pôde continuar os estudos. Com dez anos começou a trabalhar ajudando a mãe que era costureira. Tinha jeito para a costura, mas sonhava sair dali e conhecer mundo. Sonhava com Paris e com a Torre.

Casou com vinte anos com um rapaz lá da terra. Não lhe sentia amor, mas, como era costume na altura, cedeu à vontade dos pais e não levantou problemas em relação ao casamento. Embora não amasse o João, ele tinha um sonho parecido com o dela. Queria sair da aldeia e trabalhar numa cidade grande.

Naquele tempo, era difícil sair do país, mas o pai do João tinha um amigo que vivia em Espanha já há algum tempo e que os ia ajudar a passar a raia. Despediram-se da família e lá partiram, noite escura. Passaram a fronteira com facilidade, apesar do perigo e do medo.

De Espanha a França foi um pulo e passaram a viver num subúrbio de Marselha. Maria era empregada doméstica de um casal abastado e João era ajudante de mecânico. Não viviam mal, mas Maria não era feliz. João começou a ter problemas com o álcool, regressando a casa bêbado quase todos os dias. A violência doméstica instalou-se e Maria não aguentou. Resolveu fugir. Tal atitude pareceu-lhe na altura um sinal de fraqueza, mas mais tarde veio a concluir que foi das decisões mais acertadas que tomou na sua vida. Tinha um pequeno mealheiro e decidiu usá-lo para para chegar a Paris, aquela cidade que durante toda a sua vida a tinha fascinado e que finalmente lhe parecia tão próxima.

Chegou à Gare de Lyon numa noite escura e chuvosa. Sentia-se perdida, nunca tinha estado numa cidade tão grande e embora falasse muito bem francês, tudo ali lhe parecia confuso. Ficou naquela noite numa pensão bem próxima da estação. Valeu-lhe a ajuda da Madame Etoile a quem contou toda a sua aventura na manhã seguinte. A Madame Etoile era a dona da pensão que ao constatar que Maria falava tão bem francês, resolveu oferecer-lhe imediatamente um emprego como recepcionista.

Foi no dia seguinte que perguntou a Madame Etoile como poderia chegar à Torre Eiffel. A Madame riu-se, e disponibilizou-se imediatamente para ir com a ingénua e inexperiente Maria visitar a torre.

Foram metro, durante a tarde. Ao subir as escadas da estação da Ecole Militaire, Maria pode apreciar finalmente a imensidão da Torre vista a partir do fundo do Champ de Mars. Naquele momento de emoção, Maria, que contava já com trinta anos de idade, voltou aos seus tempos de menina e relembrou a sua professora que lhe tinha dado a conhecer o monumento símbolo de Paris naquela aula da terceira classe.

A Torre era muito maior do que alguma vez tinha imaginado e ao vê-la Maria quase derrubava a Madame Etoile de tanto lhe puxar o braço para chegar rapidamente à entrada. A calma só chegou quando o elevador parou no terceiro andar e pôde apreciar a grandiosidade da cidade de Paris. Chorou e emoção e ali mesmo fez mais uma promessa a si própria: aquela iria ser a sua cidade e viveria ali para sempre.

E assim aconteceu. Maria cumpriu a sua promessa e nunca mais deixou Paris. Teve vários empregos. Estudou, melhorou de vida e casou novamente com um senhor abastado que ficara viúvo recentemente e que vivia num apartamento da Avenue Charles Floquet com uma excelente vista para a Torre Eiffel.

Maria viveu intensamente e foi muito feliz em Paris. Enviuvou anos mais tarde, herdando do marido o apartamento de que tanto gostava.

Morreu já muito velhinha numa tarde de Outono. Diz quem com ela estava nessa tarde, que a morte veio de mansinho enquanto o olhar de Maria se perdia para lá da janela do seu quarto e se fixava no monumento que nunca tinha deixado de a fascinar...

E você Reflexos? Como vê a Torre Eiffel?

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Quinta Lugares Cruzados III (Ilha deserta)


Nestas deambulações pelos mais diversos lugares, que escrevo às quintas-feiras "ao despique" com a Reflexos, teríamos, mais cedo ou mais tarde que chegar à "Ilha Deserta". Chegámos cedo, e o tema, ou lugar, até foi escolhido por mim...

A ideia que todos temos de uma ilha deserta é a de que será um local paradisíaco onde poderíamos passar o resto dos nossos dias num estado de felicidade eterna, sem nada para fazer, ou por outra, a fazer apenas aquilo que mais gostamos e, muito importante, sem quaisquer problemas ou coisas menos boas para resolver.

Mas será na realidade assim? Eu vivo numa ilha e sinto constantemente necessidade de sair dela e explorar outros locais. Claro que esta ilha pode ser paradisíaca mas é tudo menos deserta. Posso assim desde já concluir, que o facto de um estado do felicidade eterna estar associado a viver numa ilha já é para mim limitativo. Depois, nem tanto ao mar nem tanto à terra, uma ilha sem "viva alma", deve ser um grande aborrecimento...

Confusos? Eu também...

O conceito de "Ilha Deserta" está sempre associado a uma fuga do local onde estamos ou dos problemas que temos de enfrentar nas nossas vidas. É quase como a expressão "estou a precisar de férias" que tanto usamos no nosso dia a dia, quando passamos por situações laborais menos boas que não conseguimos compensar com um descanso de fim-de-semana.
Mas porquê uma ilha e porquê deserta? Seremos todos nós uns Robinsons Crusoes em potência? O facto da ilha sonhada ser deserta, não implicaria vivermos sozinhos o resto dos nossos dias?

E como responder às perguntas "cliché":

-Que obra musical levarias para uma ilha deserta?
-Que livro levarias para uma ilha deserta?
-Que filme?
-Que objectos? Que recordações?

Obras musicais? Em CD, DVD? Mas na ilha existe electricidade?
Sempre podemos levar uns painéis solares, talvez... e mais umas baterias, para podermos ouvir música durante a noite, quando não há sol que alimente os painéis.
E o livro? Só um? Mas se não há nada para fazer, passaríamos muitas horas do dia a ler e o livro seria lido num instante! Solução: levar uma biblioteca...
Filme? Outra vez o problema da electricidade.
Objectos? Quais? A maioria não teria grande utilidade.

Mas falemos da ilha em si, como um espaço físico. Que dimensão teria? Se fosse muito pequena correríamos o risco de ter sempre os "pés de molho", se fosse muito grande andaríamos constantemente perdidos e sem rumo...

E o mar? Água tépida exige-se para tomar uns bons banhos. Mas... se assim for a nossa ilha terá que ser naqueles locais do globo que "apanham com uns furacões jeitosos" que levam tudo pelos ares...

E a comida? Para quem não gosta de cozinhar como eu, este seria certamente um problema difícil de resolver. Já me estou a ver a pedir ajuda ao Sexta-feira (do Robinson Crusoe). Mas se houvesse um Sexta-feira a ilha já não seria deserta...


Por esta altura o leitor já deve estar a pensar que endoideci de vez, que não sei o que quero e que, ainda por cima, só coloco defeitos na "Ilha Deserta", um conceito tão generalizado de felicidade e bem-estar.

Pois a única conclusão a que consigo chegar no meio de tanta deambulação é a de que a "Ilha Deserta" sou eu próprio. O meu mar são as pessoas que me rodeiam e de quem eu gosto, que gostam também de mim e que me completam. O meu livro é uma grande biblioteca na qual me cultivo e cresço todos os dias. E a minha música é a luz dos meus dias e para além de tudo isto ainda tenho as minhas viagens e a minhas paixões... e de vez em quando aquele dolce far niente que sabe tão bem.

O meu bem-estar não o busco num local remoto, busco-o dentro de mim e trabalho afincadamente por ele.
Há sempre coisas a corrigir, há quedas que precisamos dar e acidentes constantes no percurso. Mas fugir adianta? Não! Afinal a "Ilha Deserta" não está em parte nenhuma à nossa espera e não é tábua de salvação alguma.

Portanto, meus caros leitores, termino com uma citação do grande Raul Solnado: Façam favor de ser felizes - à qual acrescento, que enfrentem a vida pelos cornos e tomem todas as decisões que têm que tomar para que a ilha que existe em cada um de vós seja um local aprazível...


E você Reflexos para que ilha deserta fugia?

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Quinta, lugares cruzados II (Aeroporto)


Falar ou, neste caso, escrever sobre o aeroporto, ou um aeroporto num sentido genérico é para mim um prazer. Ao contrário da maioria das pessoas, os aeroportos são para mim locais aprazíveis e onde me sinto bem.

Mas comecemos pelo princípio.

A aviação civil sempre foi para mim um fascínio. Em criança vivia muito longe de um aeroporto e os aviões para mim eram aquelas coisas pequeninas que passavam num céu muito azul e que deixavam um rasto branco atrás de si. As idas frequentes a Lisboa, proporcionavam algum contacto mais próximo com os aviões, uma vez que sobrevoavam a cidade constantemente para aterrar ou descolar. Lembro-me perfeitamente de ficar com o coração a bater mais depressa quando um Boeing 707 da TAP passou mesmo em cima do carro do meu pai na segunda circular, instantes antes de aterrar.

A primeira viagem de avião surgiu uns bons anos mais tarde por altura da viagem de fim de curso. Foi um Porto-Lisboa, seguido de um Lisboa-Recife. Lembro-me bastante bem desta primeira experiência nomeadamente, a chegada ao aeroporto (do Porto), o check in, o embarque, o armar de portas, o push back, o barulho dos motores, o taxiway, a aceleração na pista (rolling), o rotate e o takeoff (descolagem). Tinha finalmente realizado um dos meus sonhos: viajar de avião.

Depois desta primeira experiência, nunca mais parei. O facto de ter vindo viver para uma ilha uns meses depois foi como ouro sobre azul e fez com que passasse a viajar de avião frequentemente.

Mas vamos aos aeroportos, que não quero perder o fio à meada e falar somente de aviões. Os aeroportos são estruturas de apoio ao embarque e desembarque de passageiros e carga em aeronaves. Com a massificação do transporte aéreo, os aeroportos das grandes cidades tornaram-se infraestruturas enormes por onde passam diariamente milhares de pessoas.
Tornar estes locais, seguros, eficientes e ao mesmo tempo aprazíveis para os passageiros, é um autêntico desafio para quem projecta quer um novo aeroporto quer uma remodelação numa estrutura já existente.

Chegar a um aeroporto é, para mim, um prazer. Sei que para a maioria das pessoas, as viagens de avião são maçadoras e utilizar os aeroportos é apenas uma necessidade inevitável, no entanto, se estivermos atentos, estar umas horas num aeroporto, pode tornar-se numa experiência interessante. Falo, obviamente para os que se sentem confortáveis com as viagens de avião. Para os mais receosos é inevitável que o tempo de espera é sempre agonizante.

Neste contexto, há vários tipos de aeroportos e para cada um deles várias experiências possíveis.

Comecemos pelo "aeroporto de casa". Chamo "aeroporto de casa" ao aeroporto que fica mais próximo do local de residência e que é, por esse motivo, o aeroporto que cada um de nós mais utiliza. É também o que melhor conhecemos e talvez o que menos nos surpreende. Há sempre o risco do "aeroporto de casa" se tornar maçador e rotineiro, no entanto, o tempo que nele passamos pode ser sempre aproveitado para colocar alguma leitura em dia ou terminar um trabalho. Para além disso já conhecemos todas as lojas e sempre podemos comprar o perfume de sempre ou uns chocolates para alguém. Como as nossas viagens começam quase sempre neste aeroporto, não precisamos chegar com demasiada antecedência uma vez que conhecemos muito bem todos os locais e os procedimentos para embarcar.

No meu caso, posso afirmar que não tenho um, mas sim dois "aeroportos de casa". O primeiro na Madeira e o segundo em Lisboa. Isto porque a escala em Lisboa é quase sempre inevitável quando se viajar a partir da Madeira. Nenhum destes aeroportos é dos meus preferidos. O da Madeira, embora novo, é acanhado, não muito confortável e sem mangas de embarque, o de Lisboa (terminal 1) é velho, está eternamente em obras e é pouco funcional e o Lisboa (terminal 2) é um autêntico barracão, sem janelas e cheio de correntes de ar.
Como faço então para tornar as minhas passagens frequentes por estes aeroportos mais agradáveis?
Na Madeira é relativamente fácil. Há sempre qualquer coisa interessante para ver da excelente varanda com vista para a pista. A pista do aeroporto da Madeira é das mais interessantes a nível mundial para observação de aterragens e descolagens e mesmo para quem não é fascinado pela aviação, passar uns momentos na varanda pode ser uma experiência interessante. Depois o piso superior da aerogare, precisamente o que dá acesso à varanda, é geralmente calmo e ideal para se ficar um tempo a ler um livro.
Em Lisboa (terminal 1) é mais difícil. Não há muitos locais sossegados, a não ser que o dia seja calmo em termos de tráfego. No entanto há alguns locais do quais se podem observar aterragens e descolagens. É geralmente nestes locais que passo o meu tempo, muitas vezes com um livro e o inevitável mp3.
Lisboa (terminal 2) é dos piores terminais de aeroporto que conheço. Aqui é difícil passar o tempo. Um livro e um mp3 são obrigatórios num espaço interior, onde muitas vezes quase nem se encontra lugar para sentar.

Para além dos "aeroportos de casa" há os aeroportos que, por qualquer razão (trabalho ou lazer), utilizamos com alguma frequência e que conhecemos relativamente bem. Nestes, embora haja sempre pormenores que nos escapam, sentimos-nos quase em casa. Conhecemos as lojas, sabemos que há locais onde é melhor usar o elevador e não a escada rolante e conseguimos quase sempre encontrar um local onde possamos passar um bom bocado, longe das portas de embarque mais utilizadas.
No meu caso, o aeroporto de Bruxelas encaixa perfeitamente nesta categoria. Ao chegar a este aeroporto, passo sempre no mesmo bar restaurante e sento-me sempre na mesma área, ao fundo do terminal, com vista privilegiada para uma das pistas e sem grandes aglomerações de passageiros. Demoro mais de 10 minutos a chegar, mas é um local que vale a pena.

Os aeroportos que conhecemos mal ou que visitamos pela primeira vez, enquadram-se numa outra categoria. Neste caso costumo dividi-los em aeroportos de pequena ou média dimensão e grandes aeroportos. Resalvo que um grande aeroporto é para muitas pessoas o que defini como "aeroporto de casa", o que não é o meu caso nem o de nenhuma pessoa que viva no nosso país.

Comecemos pelos aeroportos de pequena ou média dimensão. Quando conhecemos mal ou desconhecemos um pequeno aeroporto, não nos devemos preocupar em demasia com o que possa acontecer durante o tempo em que ali vamos estar. Geralmente estes aeroportos são locais sossegados e de fácil utilização. As distâncias a percorrer no seu interior nunca são muito grandes e, se chegarmos com a devida antecedência, teremos tempo para chegar confortavelmente à porta de embarque. Se tivermos algum tempo de sobra, encontramos facilmente um local sossegado. Nestes aeroportos costumam existir vários pontos onde se podem observar aterragens e descolagens, uma vez que as pistas costumam situar-se relativamente perto das aerogares.
Como exemplo deste tipo de aeroportos, destaco aquele que considero o melhor aeroporto Português, o aeroporto do Porto. A infra-estrutura é funcional, eficiente, arejada e agradável. Diria que parece que nem estamos em Portugal, mas não gosto de me incluir naquele grupo de portugueses que diz mal de tudo o que é nosso. O aeroporto do Porto é um aeroporto de excelência, que já ganhou muitos prémios e que é português. Sim Senhor!

Finalmente, os grandes aeroportos. Usar pela primeira vez um grande aeroporto pode ser uma aventura. É sempre aconselhável chegar com alguma antecedência, não vá ocorrer algum imprevisto. No caso de se fazer uma escala num destes aeroportos é também aconselhável ter um tempo mínimo de duas horas entre voos.
Na maioria destes aeroportos existem mais do que um terminal e é essencial saber antes de chegar, para qual terminal nos devemos dirigir. O terminais têm vindo a ser construídos à medida que o tráfego tem aumentando, o que significa que há terminais já antigos e terminais modernos. Os terminais mais recentes são geralmente mais agradáveis e fáceis de usar.
Uma zona que pode ser problemática é a do controlo no acesso às portas de embarque. A segurança é cada vez mais apertada e a demora nesta zona pode ser significativa.
Devido ao elevado número de passageiros que frequentam um grande aeroporto, não será de esperar que se encontrem facilmente locais sossegados. No entanto, há sempre aqueles pontos a partir dos quais se podem observar aviões de todo o tamanho e feitio a descolar ou a aterrar. São de evitar as zonas das portas de embarque mais utilizadas, que se encontram geralmente nas zonas mais centrais dos terminais.
Mesmo dentro do mesmo terminal, chegar a porta de embarque do nosso voo pode demorar algum tempo (por vezes mais de 20 minutos), pelo que é preciso estar atento ao horário do voo.

Não frequento grande aeroportos com muita frequência, se bem que tenha estado em todos os maiores da Europa mais do que uma vez (Londres Heathrow, Frankfurt, Amesterdão e Paris Charles de Gaulle). Não consigo escolher o melhor ou o pior. Tudo depende do terminal que se utilize. Por exemplo Já estive num terminal excelente no Aeroporto Paris Charles de Gaulle quando embarcava para um voo da Air France e num péssimo terminal no mesmo aeroporto para embarcar no voo da Icelandair.


Em resumo, utilizar um aeroporto não será para a maioria das pessoas, uma experiência agradável. No entanto, com uns pequenos "truques" podemos sempre tornar útil o tempo que aparentemente ali perdemos.

Para além de tudo isto, os aeroportos são locais mágicos onde momentaneamente se cruzam pessoas de todas as nacionalidades, etnias e credos. São locais de penosas despedidas e de felizes reencontros. São autenticas portas para o mundo...


Dedico este texto a todos os meus amigos da Madeira Spotters que tal como eu, têm um enorme fascínio pela aviação e por tudo o que a rodeia. Aeroportos incluídos.


E você Reflexos, por que aeroportos anda?

quinta-feira, 25 de março de 2010

Quinta, lugares cruzados I (Porto)


O desafio desta primeira Quinta, lugares cruzados, leva-me a falar da cidade do Porto. Esse Porto, cidade no masculino, tão amada por uns e tão mal amada por outros. Cidade provinciana, no sentido mais saudável do termo, cidade de gentes bairristas e orgulhosas do seu património. Cidade de casario encosta acima, desde a Ribeira até à Baixa. Cidade Invicta, mui nobre e sempre leal...

Vivi no Porto durante seis anos, mas o Porto nunca foi a minha cidade e nunca ali me senti em casa. É por isso que escrever este post é para mim um desafio doloroso...

Cheguei pela primeira vez ao Porto num dia de Outono do ano de 1987. Tinha acabado de completar dezoito anos e era, para os devidos efeitos, um menino alentejano que acabara de atingir a maioridade. Cheguei para ficar, tinha acabado de entrar no ensino superior e o Porto até tinha sido a primeira escolha. Estava contente porque ia começar uma nova etapa e enfrentar um novo desafio. Sonhava sair da pequena vila do Alentejo e viver numa cidade grande, fazer novos amigos e ter novas actividades. Aos dezoito anos sonhamos em cortar o cordão umbilical com a família e partir sozinhos à aventura e o Porto ia dar-me essa oportunidade.

O primeiro impacto foi muito positivo. Naquela idade não é difícil deslumbrarmo-nos com a perspectiva de mudança, e passar a viver numa cidade é uma excelente forma de comemorar a maioridade. Lembro-me como se fosse hoje da minha primeira praxe académica. Aconteceu precisamente no dia em que cheguei quando, muito ingenuamente respondi afirmativamente à pergunta de um colega: És do primeiro ano? Fui imediatamente baptizado com farinha, água, vinagre e batom... Uma autentica festa!

Ver partir os pais no dia seguinte não se revelou tão fácil como eu pensava, mas a perspectiva de mudança fez suplantar a dor da despedida.
Fiquei hospedado em casa de uns tios do meu pai por quem sempre tinha nutrido alguma simpatia, uma vez que eram visita regular da minha casa no Alentejo. A quinta onde viviam e que passou naquele momento a ser a "minha casa", ficava fora do centro da cidade e estava rodeada de outras quintas. Não gostei! A casa era velha, não estava nada bem cuidada e os terrenos da quinta pareciam abandonados. Não senti conforto, mas pensei que com o tempo me habituaria a viver ali. Estava enganado! Nunca me habituei e aquela acabou por não ser nunca a "minha casa".

O início das aulas veio uns dias depois e com ele começou uma nova rotina. Fui muito bem recebido no Instituto Superior de Engenharia do Porto e curiosamente, conheci logo nos primeiros dias de aulas alguns dos que são hoje os meus melhores amigos. A Reflexos, com a sua "memória de elefante", contou isso muito bem neste post do seu blogue Desvios.
Estava deslumbrado... gostava das aulas, dos colegas, do Instituto e da cidade. Dizia nesses primeiros tempos que o Porto era muito mais bonito a agradável que Lisboa, cidade que até então era a minha preferida.

O único senão no meio de todo este deslumbramento era ter que voltar para casa. Aquela que devia ser a "minha casa", mas que teimava em mostrar-se estranha e pouco acolhedora. Os meus tios começaram a revelar-se pessoas extremamente autoritárias, moralistas e controladoras. Fui obrigado logo nos primeiros dias de aulas a entregar-lhes o horário escolar e foi-me imediatamente imposto regressar todos os dias a casa assim que as aulas terminassem. Senti que não tinham qualquer confiança em mim, coisa a que eu não estava habituado enquanto tinha vivido com os meus pais.
Havia, no entanto, uma pessoa naquela casa que me compreendia e apoiava, a Maria. A Maria é a única pessoa que vou nomear neste texto, por merecer a minha homenagem e a minha gratidão. Desde nova que foi viver para casa dos meus tios para trabalhar como empregada doméstica. Naquela época e para todos os efeitos, era a Maria a dona da casa. Era ela quem dirigia e comandava tudo o que por ali se fazia, trabalhando que nem uma moura para manter tudo dentro da ordem possível. Por conhecer os donos da casa melhor que ninguém, a Maria era a única pessoa que sabia o que eu estava a passar.

Chegaram as primeiras férias de Natal e com elas a primeira visita aos meus pais no Alentejo. Nessa altura ainda pensava que o que se passava na quinta do Porto seria temporário e que à medida que o tempo fosse passando, se criasse entre os meus tios e eu uma relação de amizade e confiança mútua que os levasse a ser menos autoritários e a deixar-me viver mais intensamente aqueles que são para muita gente, os melhores anos de juventude. Depois das férias regressei com um expectativa positiva, mas infelizmente nada mudou...

O primeiro ataque de choro surge no final das primeiras férias de verão. Aconteceu quando o comboio partiu em direcção ao Porto e fiquei a ver da janela, cada vez mais distantes, os meus pais e irmã... Desde essa vez, nunca mais ficaram na plataforma da estação para me verem partir.

Seguiram-se mais cinco anos assim, entre a alegria de estar com os amigos e a tristeza de ter que lhes dizer que não podia ir ao cinema ou às festas da Queima da Fitas porque não me deixavam sair à noite.

E o Porto? Onde estava?
Era-me praticamente indiferente.

Com a conclusão do curso deixei o Porto. Parti para longe, para bem longe...
Hoje esqueci-me involuntariamente de muitos dos pormenores da cidade. Não me lembro do nome das ruas e não identifico algumas zonas que me deviam ser familiares. Deve ser fácil para algum psicólogo explicar este facto. Eu confesso não saber explicar...

Tenho vindo, no entanto, a redescobrir o Porto. Recentemente, percorri todos os caminhos que usava e o sentimento alterou-se. Estou a achar o Porto muito mais interessante, com coisas novas, menos escuro e bem mais agradável.
Ainda tenho esperança de um dia conhecer aquele Porto que tanta gente ama, mas, por enquanto continua a não ser uma das minhas cidades de eleição...

Dedico este texto à Maria, à Reflexos e a todos os outros amigos que o Porto me deu.

Obrigado Porto... e desculpa qualquer coisinha...

E você Reflexos, o seu Porto é igual ao meu?