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terça-feira, 29 de junho de 2010

Terça, Flashback XII (Ensaio Sobre a Cegueira - José Saramago)

Com algum atraso e depois de alguma polémica, recordo nesta Terça, Flashback, um "post" que publiquei aqui no Outras Escritas sobre o primeiro livro que li de Saramago.

Referi no Outras Escritas há algum tempo atrás, que nunca tinha lido Saramago e que, depois de ver o filme "Ensaio Sobre a Cegueira" (Blindness) de Fernando Meirelles, tinha ficado com alguma curiosidade sobre o livro do mesmo nome.

Sabendo deste facto, um amigo ofereceu-me o livro como presente de Natal. Obrigado.

Não comecei de imediato a leitura. Há sempre tanta coisa para ler e, além disso, Saramago sempre me assustou. As críticas que a maioria das pessoas faz à sua escrita é de que a falta de pontuação torna os seus livros quase impossíveis de ler.
Quando iniciei a leitura coloquei este "post" no Outras Escritas as criticas negativas à escrita e atitude de Saramago foram mais que muitas.

Com tanta expectativa, confesso que estava apreensivo e decidido a parar imediatamente de ler, caso a escrita não me agradasse ou fosse demasiadamente difícil. A leitura para mim tem que ser um prazer e não um exercício de esforço.

Aconteceu precisamente o contrário do que eu esperava. Difícil foi parar de ler. Não consegui encontrar as dificuldades de leitura de que tanto se fala. Apenas os diálogos são escritos de forma "corrida", sem separação entre o que dizem as diferentes personagens. De resto, está "tudo no sítio". Pelo menos neste livro.

O Ensaio sobre a Cegueira tornou-se desta forma, um dos melhores livros que já li. A história de uma cidade em local indeterminado onde todos os habitantes vão ficando cegos e as modificações que tal cegueira obriga na maneira de ser e de pensar das pessoas são impressionantes. Leva-me a pensar "onde é que o homem foi buscar esta ideia?", "como é possível alguém inventar uma história destas?".

O livro é de tal forma interessante e denso, que as personagens não têm nome. São identificadas pelas suas características físicas ou pela sua profissão (o médico, a mulher do médico, a mulher dos óculos escuros).

A mensagem transmitida fica ao critério de cada leitor, mas leva-nos a pensar que há muito cegos por aí.

"SE PODES OLHAR VÊ. SE PODES VER REPARA". Esta frase do Livro dos Conselhos, está na contracapa do Ensaio Sobre a Cegueira e leva-me a pensar que, como posso ver, vou reparar mais em Saramago.

terça-feira, 22 de junho de 2010

Terça, Flashback XI (O verão que tarda em chegar...)

Parece que já no ano passado a Primavera e o Verão demoraram a chegar.

Aqui fica um "post" que publiquei aqui no Outras Escritas no dia 6 de Julho de 2009 e que recordo nesta Terça, Flashback.


Não sei porquê, mas estamos em pleno verão e eu ainda nem dei por ele. As recentes viagens para Norte e para Sul e as baixas temperaturas para a época serão responsáveis por tal facto.

Apenas os "braços de fora" dos condutores portugueses, que o Pedro Rolo Duarte tão bem retratou neste "post", me lembram que Julho já chegou.

Ontem fui pela primeira vez à praia mas até a chuva se lembrou de aparecer. Lá consegui ficar umas horas durante a manhã, mas tomar banho foi hipótese que nem se colocou.

A certa altura a luz solar permitiu esta fotografia, que não me parece nada mal.


Publicada também no Olhares.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Terça, Flashback X (Futebois - Cristiano Ronaldo)

Num período em que não se fala de outra coisa que não seja futebol, recordo um pequeno post com uma ligação para uma notícia que publiquei aqui no Outras Escritas em Julho de 2008.

Aqui fica o texto:

Li aqui que Cristiano Ronaldo concorda com as declarações de Joseph Blatter, presidente da FIFA que afirma que existe "escravatura" no futebol.

Fiquei a pensar que deve haver muito boa gente que adoraria ser "escrava" como o Cristiano Ronaldo...

terça-feira, 1 de junho de 2010

Terça, Flashback IX (Uma ida à Feira do Livro do Funchal)

Como encerrou no último fim de semana, a Feira do Livro do Funchal, resolvi hoje na rubrica Terça, Flashback, recordar as minhas compras na feiro do ano passado.

O post dizia o seguinte:

Visitei ontem pela tarde a feira do livro do Funchal. Não procurava nenhum livro em especial, mas acabei por deixar a feira com três livros no saco.


Cão velho entre flores - Baptista-Bastos

Mil novecentos e oitenta e quatro - George Orwell


As velas ardem até ao fim - Sándor Márai

terça-feira, 18 de maio de 2010

Terça, Flashback VIII (Londres, 13 de Agosto de 2101)

Relembro hoje na rubrica Terça, Flashback, a primeira história que escrevi para a Fábrica de Histórias e que intitulei - Londres, 13 de Agosto de 2101.

Esta história foi publicada no segundo volume da Fábrica que se encontra disponível para compra na loja da editora Autores.


Jorge chega a casa depois de mais um dia de trabalho estafante. Estaciona o veículo de transporte e olha em volta para um jardim completamente seco. Vive naquela casa há mais de quarenta anos, mas não consegue habituar-se ao seu jardim seco. Desde 2086 que a água começou a ser racionada. Primeiro só durante umas horas por dia, geralmente durante o horário de trabalho, mas depois os períodos de racionamento foram aumentando e hoje em dia o abastecimento de água está disponível apenas uma hora por dia. Entre as 7 e as 8 da manhã. Dá para tomar um duche, não dá, evidentemente para beber. Água potável, só mesmo nos estabelecimentos próprios e a um preço cada vez mais elevado.

Ao subir a escada que conduz à porta de entrada, Jorge, descendente de portugueses que partiram para Londres quando ainda era uma criança, recorda o seu jardim de outros tempos, florido e verde, com água abundante, sistemas de rega automática que ligavam e desligavam depois de analisarem as condições atmosféricas, estufas que se elevavam automaticamente quando as noites se tornavam demasiadamente frias para as suas plantas tropicais.

“É melhor esquecer” - pensa Jorge enquanto olha para a pequena câmara de vídeo, que faz um “scan” completo ao seu corpo e lhe abre a porta com um “Olá Jorge bem vindo a casa”. Tem que desligar aquela Voz Irritante que lhe dá sempre as boas vindas e que o persegue pela casa, relembrando-o dos seu afazeres diários. Jorge tem 70 anos e começa a perder a paciência para algumas destas coisas, a que costuma chamar “modernices”.

“Será que a Ana está em casa?” - pensa Jorge. Olha para o relógio, faz as contas ao fuso horário e conclui que Ana deve estar já levantada. São casados quase há 30 anos e nunca viveram juntos. Encontram-se apenas uma vez por ano, fisicamente pelo menos. “Ciberneticamente” encontram-se quase todos os dias.

- Voz Irritante, verifica se a Ana já acordou e se pode falar comigo.

Voz Irritante é o nome que Jorge resolveu dar à sua assistente cibernética que o persegue pela casa. A Voz reponde que Ana já está acordada e que podem falar.
Jorge olha para o ecrã e lá está Ana à sua espera.

-Hoje não estás com bom aspecto, já bebeste o teu copo de água? - diz Ana que está sempre preocupada com a saúde de Jorge.

- Não. Vou beber daqui a pouco, não te preocupes.

-Está bem! A água é importante, Jorge sabes disso. Como foi o teu dia?

-Quase tão rotineiro como todos os outros. Não parece haver solução para o problema da água. Conseguimos isolar uma pequena quantidade livre de qualquer contaminação, mas os custos associados ao processo são tão elevados que não nos permitem partir para produções em grande escala. Tu como estás? Pareces um pouco abatida.

- A água Jorge! É sempre a água. Por aqui quase não se consegue um litro por semana. Não posso beber um copo todos os dias...

- Não percas a esperança, minha querida Ana...

- Não perdi! Vou sair, Jorge, já estou um pouco atrasada. Adeus meu querido, uma boa noite. Falamos amanhã.

Desligam. Jorge sente-se profundamente triste. Tem saudades de Ana. Do seu corpo, dos seus carinhos e da sua presença. “Tocam-se” ao fim de semana, quando resolvem vestir os fatos cibernéticos, mas esta solução nunca lhe lhe agradou inteiramente.
Sonha com as férias que ainda estão distantes...

Perde-se nos pensamentos...e então... então tem uma ideia para mais um processo de purificação de água. Fica animado. Talvez seja só mais uma ideia que não dará em nada, mas como cientista, tem que tentar. Sabe que um dia poderá salvar o mundo.

Hoje Jorge vai dormir um pouco melhor...

Londres 13 de Janeiro de 2101 (preço de 1 litro de água potável 562,23 €)

terça-feira, 11 de maio de 2010

Terça, Flashback VII (Jacarandás em flor)

Porque andamos todos a dizer que a Primavera nunca mais chega, e porque os Jacarandás já estão em flor há um tempo, transcrevo um post que aqui coloquei no ano passado. Parece que a primavera se está a habituar a ser teimosa...


Ao ler este "post" no Valkirio que anuncia o florescer dos Jacarandás em Lisboa, lembrei-me que aqui no Funchal os Jacarandás já estão em flor há algum tempo, anunciando a primavera que teima em chegar (continuam temperaturas de inverno).

Aqui ficam umas fotografias tiradas com o telemóvel hoje de manhã.



E você Reflexos? O que recorda hoje?

terça-feira, 4 de maio de 2010

Terça, Flashback VI (A menina Laura)

Porque ainda está presente o dia da mãe, publico no Terça, Flashback de hoje, um texto sobre a minha mãe que foi publicado no terceiro volume da Fábrica de Histórias.

A menina Laura nasceu num dia de Maio de 1942 numa pequena vila do interior alentejano. Filha do mestre Quim Sapateiro e da menina Maria do Quim, sim, porque por essas bandas as mulheres são todas meninas, a pequena Laura teve uma infância cheia de atenções e mimos dos seus pais. Nada de muitos luxos. O mestre Quim não era nem nunca foi rico, pelo menos do ponto de vista financeiro.

A menina cresce, vai à escola mas completa apenas a quarta classe segundo o que era habitual naquela altura, pelo menos no seio das famílias mais pobres. Não foi, no entanto, o facto de não ter continuado os estudos que fez dela uma pessoa menos inteligente ou menos pronta para enfrentar a vida que tinha pela frente.

Já uma mulherzinha, Laura aprende a bordar com a menina Amália que por sua vez tinha aprendido com uma senhora da Madeira. Aprendeu depressa e bem a arte do bordado mas, curiosamente, não foi nesta altura da sua vida que mais uso dela fez.

Mais uns anos passam e a menina Laura começa a interessar-se por um rapaz meio traquinas que andava já há uns tempos a fazer-lhe olhos bonitos. Havia, no entanto, um problema. A menina era filha do mestre Quim sapateiro e o rapaz filho do senhor Alberto Grilo, um dos homens mais ricos da terra.

O amor, felizmente, venceu e a menina Laura casou com o menino Zé Joaquim num dia de Abril de 68.

Logo após o casamento, começam os problemas financeiros do Sr. Alberto Grilo que é obrigado a encerrar vários dos seus negócios e a despedir muitos dos seus funcionários. Os membros da família têm que arregaçar mangas para salvar o que resta. A menina Laura e as outras mulheres da família Grilo ficam com o trabalho ingrato de cuidar do aviário. Limpar e alimentar os frangos eram as suas tarefas diárias. Quem na altura pensou que Laura casara por dinheiro, imediatamente verificou que tal não poderia estar mais longe da realidade. O afinco com que ajudou a família Grilo era a maior prova de amor que Laura poderia dar ao seu marido.

É nesta época de luta e dificuldades, que Laura tem o seu primeiro filho ao qual é dado o nome do seu sogro, Alberto, segundo a tradição da família Grilo que, chama "Alberto" a todos os primeiros filhos dos casais.

Quatro anos mais tarde nasce uma menina a quem e dado o nome de Alexandra. Nesta altura os problemas financeiros da família Grilo estão já mais controlados e Laura não necessita trabalhar.

Laura e Zé Joaquim levam muito a sério a educação dos seus dois filhos. Laura, mais presente no dia-a-dia, é uma mãe amiga e carinhosa, mas sabe impor respeito e quando os meninos se portam mal, levam com um sapato no rabo. A relação que tem com os dois é, no entanto, franca e aberta e baseada na confiança mútua. Uma forma de educar diferente do que era habitual na altura e que ainda hoje se reflecte no relacionamento com tem com os filhos.

Desenganem-se, os que pensam que Laura nesta altura da sua vida apenas cuidava da casa, do marido e dos filhos. A menina-mulher tinha, entretanto aprendido alguns conceitos básicos de enfermagem e quase todos os dias ao fim da tarde saia de casa para dar injecções ou fazer curativos em pessoas doentes. Durante o dia, os doentes que se podiam deslocar passavam em sua casa para receber este tipo de cuidados. Laura raramente cobrava dinheiro a estas pessoas. A uns porque eram pobres e a outros porque eram amigos. No entanto, a recompensa vinha sempre mais tarde e em géneros. Ovos, galinhas, patos, borregos, legumes e tantas outras coisas que valiam bem mais que o dinheiro que cobrasse.

É com muita alegria que Laura recebe uma proposta de trabalho para auxiliar de Médico, numa fábrica de lacticínios. Trabalha apenas umas horas durante a manhã, mas o dinheiro que ganha sempre ajuda nas despesas da casa. Este foi talvez um dos períodos mais felizes e intensos da sua vida. Conheceu muita gente e fez muitos amigos. Laura tem uma aptidão inata para lidar com as pessoas e teria sido uma excelente enfermeira se tal oportunidade lhe tivesse sido dada.

Os filhos crescem, são bons alunos e não dão preocupações. Laura, embora tenha muito orgulho neles, nunca os recompensa nos finais de ano escolar. Porquê? Porque os filhos devem estudar para se realizarem pessoalmente e não para serem recompensados materialmente por isso.

É com alguma tristeza que vê Alberto partir para longe afim de iniciar os seus estudos universitários. No entanto, Laura é forte e quando o filho sente saudades de casa, faz tudo para não se comover e para lhe dar força para continuar. Uns anos mais tarde parte Alexandra com a mesma finalidade. A casa fica mais vazia, mas Laura não se deixa ir abaixo. Precisa de ocupar o seu tempo, nunca foi mulher de estar parada em casa a tratar do marido, com quem mantém um óptimo relacionamento.

É por esta altura que vê surgir a oportunidade de colocar em prática os seus conhecimentos na área do bordado. A convite de uma entidade pública local, passa a ser monitora de um curso de bordados. Mais uma vez as capacidades de Laura são postas à prova. Desta vez tem que ensinar e ser "professor" não é tarefa para qualquer um.

O primeiro curso corre muito bem, ou não fosse Laura uma excelente comunicadora. Surgem convites para o segundo, o terceiro, o quarto... tantos que já se perdeu a conta. Ainda hoje mantém esta actividade, passados que estão mais de quinze anos.

Como qualquer história de vida, também a história de Laura conta com alguns momentos menos bons:a morte repentina do sogro, o cuidar da sogra acamada durante os últimos meses de vida, a doença do marido que o levou à portas da morte e a morte do pai, são só alguns exemplos.

Laura, enfrentou todas estas situações com tristeza mas determinação. Ela comanda, decide, fala e resolve.

Em 2007 toda a família fica em pânico quando após uma cirurgia sem importância Laura fica às portas da morte. Nova cirurgia e as coisas ficam resolvidas. Laura é forte e não se deixa vencer assim às boas.

Hoje em dia, esta Mulher, continua a viver na pequena vila alentejana onde nasceu. Mantém um casamento de mais de quarenta anos com o seu Zé Joaquim e cuida mãe e da cunhada Isabel que é como se fosse sua irmã. Laura revelou-se uma verdadeira Matriarca e é o pilar da família.

Pediram-me para olhar para uma caixa com lápis de cor e escrever uma história sobre "a cor dos meus dias". Lembrei-me imediatamente da menina Laura. Ela é, sem dúvida, a cor dos meus dias. Meus, e de muita gente...

A menina Laura é também a minha mãe e a minha melhor amiga.

Texto de minha autoria, escrito para a Fábrica de Histórias

terça-feira, 27 de abril de 2010

Terça, Flashback V (Desabafo...)

Publiquei um pequeno post no dia 27 de Abril de 2009, faz hoje precisamente um ano, que dizia assim:

Já experimentaram dar opiniões sobre algo cuja decisão de viabilidade ou não, já está, à priori, tomada?

Experimentem e verifiquem como é inútil e condicionada a vossa opinião. Pura perda de tempo.

Mas atenção! Não esqueçam que algo pode correr mal... Nesse caso, "Quem se lixa é mesmo o mexilhão".

E você Reflexos, o que recorda hoje?

terça-feira, 20 de abril de 2010

Terça, Flashback IV (Ainda haverá esperança?)

Numa altura em que tanto se fala da saúde do planeta e dos desastres naturais, recordo hoje na rubrica Terça, Flashback, um post que publiquei aqui no Outras Escritas no dia 8 de Maio de 2009:

Hoje de manhã, na curta viagem até ao trabalho, reparei enquanto estava parado numa pequena fila de trânsito, que um motociclista que acabara de sair de casa circulava em cima do passeio a muito baixa velocidade, com uma embalagem de iogurte líquido na boca. Fiquei a pensar porque razão circulava no passeio, embora não houvesse nenhum peão por ali e o risco de acidente fosse diminuto.

Verifiquei que se dirigia ao "ecoponto" e pensei - "Ao menos é por uma boa causa."

O pior veio de pois! A embalagem foi depositada no contentor de lixo indiferenciado. Mesmo com o contentor amarelo (aquele que dá mais nas vistas) ali ao lado.

Perdi a esperança sobre a salvação do planeta. Mas afinal, eu também estava no meu carro e não num transporte público.

E você Reflexos? Que Flashback escolheu?

terça-feira, 13 de abril de 2010

Terça, Flashback III (Gafes)

Passei por este post que escrevi em Fevereiro de 2009. Achei interessante para a rubrica Terça, Flasback de hoje.

Chamei ao post "Gafes".

Aqui fica o texto:

Às vezes cometemos "gafes" de que nos arrependemos logo a seguir.

Pode ser involuntário, aliás, as "gafes" são sempre involuntárias, de qualquer forma podem prejudicar ou ferir pessoas que merecem todo o nosso apreço.

Passo a explicar.

Tenho uma conta no youTube e todos os dias vejo os novos vídeos relacionados com ópera. Ontem depois de ver um vídeo, verifiquei que as pessoas em palco não estavam a cantar, até porque conhecia as vozes dos cantores que se ouviam. Verifiquei também que faziam uns movimentos estranhos. Digamos que me pareceu uma farsa. Uma brincadeira com a ópera em questão.

Antes de ler qualquer explicação sobre o espectáculo coloquei um comentário no vídeo onde identificava as vozes dos cantores e terminava com um "ahahah".

O autor do vídeo respondeu-me dizendo que os actores em palco são surdos e que a coreografia é feita com linguagem gestual. Pedia-me também que fosse mais gentil da próxima vez.

Senti-me estúpido, cruel e muito pequeno.

Tenho o maior respeito pelos surdos e por todas as pessoas que são diferentes. Muitas vezes estas pessoas são diferentes para melhor e dão-nos experiências de vida inesquecíveis.

Enviei uma mensagem de resposta com um humilde pedido de desculpas. Aprendi também que antes de comentar qualquer vídeo devo ler o que o autor escreveu sobre o mesmo.



terça-feira, 6 de abril de 2010

Terça, Flashback II (Os ciganos)

Depois dos acontecimentos na África do Sul, parece-me muito actual este post que escrevi no Outras Escritas em Julho de 2008.

Chamei ao post "Os ciganos".

Aqui fica o texto:

Ao ler notícias como esta e esta, lembro-me dos meus tempos de criança e do relacionamento que tive com indivíduos de etnia cigana. Passo a explicar. Nasci e cresci numa pequena aldeia perdida no interior alentejano. Os ciganos foram sempre uma presença constante na aldeia e cedo me habituei a conviver com eles. Admirava a sua liberdade e o facto de serem nómadas. Montavam as tendas nos campos próximos da aldeia, ficavam alguns meses e depois partiam. Mas voltavam sempre! Naquele tempo, e não foi há muito tempo, as crianças podiam andar na rua à vontade. Havia menos carros, toda a gente conhecia toda a gente e todos estávamos em segurança. Depois da escola era-nos permitido estar fora de casa até que a iluminação pública se ligasse. As mães eram responsáveis por impor esta regra. Eu não saia todos os dias, era um pouco "caseiro". Quando o fazia, adorava as brincadeiras da "rapaziada" que se estendiam toda a aldeia. Claro que, havendo acampamento de ciganos, sempre nos encaminhávamos para lá. Achávamos curiosa aquela forma tão diferente de estar na vida. As nossas casas tinham paredes e eram abrigadas. As deles eram tendas sem qualquer conforto. Pensávamos nós... Lembro-me sempre de o meu pai dizer que não era bem assim. Que tinha pena dos ciganos nas noites frias ou chuvosas de Inverno, mas que os invejava nas noites quentes do Verão. Quando eu estava na segunda classe, ainda se chamavam classes, juntou-se à minha turma o Fernando. O Fernando era cigano e é claro que passou a ser conhecido por Fernando Cigano. Hoje em dia tal seria considerado racista. Naquele tempo não. Pelo menos nós não sentíamos isso. Nem o Fernando. Eu gostava muito do Fernando Cigano, aliás, todos gostavam. Era inteligente e bom colega. Terminada a quarta classe, deixámos de o ver. Às vezes ele ainda aparecia na aldeia, mas agora estávamos mais crescidos, tínhamos que estudar mais e não havia tantas brincadeiras na rua. Fiquei a saber nessa altura que o Fernando tinha deixado de estudar. Uma pena! Era bom aluno e teria tido outras oportunidades se tivesse continuado os estudos. O facto de não estudar afastou-o da "rapaziada". Passaram mais de vinte anos. E o Fernando? Que é feito dele? Formou família, mas "anda na droga". É traficante. Está preso. Mas, serão todos os ciganos Fernandos? E de quem é a culpa? A culpa é minha, é nossa, é dos ciganos e é do Fernando. Curiosamente no Natal de 2007, um grupo de ciganos estava temporariamente numa casa da aldeia. Gostei de ver que este grupo estava perfeitamente integrado. A alegria transbordava e a música era uma presença constante. Sem drogas, sem roubos e sem problemas. Tal levou-me a pensar que ainda há esperança, mas as notícias actuais não são nada animadoras.

E você Reflexos que Flashback escolheu?

terça-feira, 30 de março de 2010

Terça, Flashback I (Comprar? E porque não alugar)

Inauguro hoje a terceira rubrica da Visões a qu4tro mãos, que escrevo em conjunto com a Reflexos. Recordo aqui um post que escrevi em Julho de 2008, mas que, a meu ver continua muito actual.

Chamei ao post: Comprar? E porque não alugar?

Aqui fica o texto:


Quando leio notícias como estas, fico sempre a pensar no Zé.

O Zé, português típico, sempre sonhou ter uma casa.

Depois de ter um rendimento estável, o Zé decide realizar o seu sonho. A prestação era um pouco elevada, indexada à Euribor, o "bicho papão" de hoje, mas que na altura ainda se mantinha em valores razoáveis.

O Zé ficou contente, finalmente tinha algo de seu. Ou talvez não...

Com os anos, as prestações foram subindo, subindo. A Euribor foi crescendo e transformou-se num fantasma que teimava em perseguir o Zé. Ele, que até tinha pensado que com o tempo o peso da prestação da casa iria sendo cada vez menor no seu orçamento mensal, via-se agora confrontado com valores a pagar, muito acima do que tinha previsto.

O preço do petróleo dispara. O Zé começa a ficar aflito para pagar a prestação da casa, a prestação do carro a gasolina e as compras no supermercado.

Algumas prestações começam a não ser pagas... O Zé já não tem dinheiro que chegue. Chegou à conclusão que se endividou de mais. Mas, tinha sido tudo tão fácil no início. O banco deu-lhe todas as facilidades e nunca o avisou de que tal poderia acontecer. Aliás, ele nunca soube muito bem o que era a Euribor.

A hipoteca foi executada e hoje o Zé vive num apartamento alugado. Foi difícil encontrar um apartamento "jeitoso" porque o mercado de aluguer praticamente não existe em Portugal.

Mesmo assim, o Zé vive hoje melhor. O aluguer está dentro do valor que pode pagar. Aumentos? Só no início do ano e correspondentes ao valor da inflação e, se se aborrecer do apartamento onde vive agora, começa a procurar outro. Pode ser difícil encontrar o que pretende, mas, pelo menos as questões financeiras não são, agora, tão problemáticas.

O apartamento não é seu. É verdade. Mas a casa que comprou também nunca foi.


E você Reflexos, qual é o seu Flashback desta Terça?