Mostrar mensagens com a etiqueta poesia. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta poesia. Mostrar todas as mensagens

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Regresso ao Lar - Guerra Junqueiro

Cruzei-me recentemente com este poema de Guerra Junqueiro...

Ai, há quantos anos que eu parti chorando
deste meu saudoso, carinhoso lar!...
Foi há vinte?... Há trinta?... Nem eu sei já quando!...
Minha velha ama, que me estás fitando,
canta-me cantigas para me eu lembrar!...

Dei a volta ao mundo, dei a volta à vida...
Só achei enganos, decepções, pesar...
Oh, a ingénua alma tão desiludida!...
Minha velha ama, com a voz dorida.
canta-me cantigas de me adormentar!...

Trago de amargura o coração desfeito...
Vê que fundas mágoas no embaciado olhar!
Nunca eu saíra do meu ninho estreito!...
Minha velha ama, que me deste o peito,
canta-me cantigas para me embalar!...

Pôs-me Deus outrora no frouxel do ninho
pedrarias de astros, gemas de luar...
Tudo me roubaram, vê, pelo caminho!...
Minha velha ama, sou um pobrezinho...
Canta-me cantigas de fazer chorar!...

Como antigamente, no regaço amado
(Venho morto, morto!...), deixa-me deitar!
Ai o teu menino como está mudado!
Minha velha ama, como está mudado!
Canta-lhe cantigas de dormir, sonhar!...

Canta-me cantigas manso, muito manso...
tristes, muito tristes, como à noite o mar...
Canta-me cantigas para ver se alcanço
que a minha alma durma, tenha paz, descanso,
quando a morte, em breve, ma vier buscar!

Guerra Junqueiro, in 'Os Simples'

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Regresso ao Lar - Guerra Junqueiro

Um novo desafio nas minhas aulas de canto. Poema de Guerra Junqueiro com música de João Victor Costa.


REGRESSO AO LAR
Ai, há quantos anos que eu parti chorando
Deste meu saudoso, carinhoso lar!...
Foi há vinte?...há trinta? Nem eu sei já quando!...
Minha velha ama, que me estás fitando,
Canta-me cantigas para eu me lembrar!...

Dei a volta ao mundo, dei a volta à Vida...
Só achei enganos, decepções, pesar...
Oh! a ingénua alma tão desiludida!...
Minha velha ama, com a voz dorida,
Canta-me cantigas de me adormentar!...

Trago d'amargura o coração desfeito...
Vê que fundas mágoas no embaciado olhar!
Nunca eu saíra do meu ninho estreito!...
Minha velha ama que me deste o peito,
Canta-me cantigas para me embalar!...

Pôs-me Deus outrora no frouxel do ninho
Pedrarias d'astros, gemas de luar...
Tudo me roubaram, vê, pelo caminho!...
Minha velha ama, sou um pobrezinho...
Canta-me cantigas de fazer chorar!

Como antigamente, no regaço amado,
(Venho morto, morto!...) deixa-me deitar!
Ai, o teu menino como está mudado!
Minha velha ama, como está mudado!
Canta-lhe cantigas de dormir, sonhar!...

Cante-me cantigas, manso, muito manso...
Tristes, muito tristes, como à noite o mar...
Canta-me cantigas para ver se alcanço
Que a minh'alma durma, tenha paz, descanso,
Quando a Morte, em breve, ma vier buscar!...

domingo, 21 de março de 2010

Dia mundial da poesia... Florbela Espanca


Tarde de mais...

Quando chegaste enfim, para te ver
Abriu-se a noite em mágico luar;
E para o som de teus passos conhecer
Pôs-se o silêncio, em volta, a escutar...

Chegaste, enfim! Milagre de endoidar!
Viu-se nessa hora o que não pode ser:
Em plena noite, a noite iluminar
E as pedras do caminho florescer!

Beijando a areia de oiro dos desertos
Procurara-te em vão! Braços abertos,
Pés nus, olhos a rir, a boca em flor!

E há cem anos que eu era nova e linda!...
E a minha boca morta grita ainda:
Porque chegaste tarde, ó meu Amor?!...

Florbela Espanca

domingo, 7 de março de 2010

Faz anos hoje - Alessandro Manzoni

Alessandro Manzoni nasceu no dia 7 de Março de 1785.

Da Infopédia:

Poeta e romancista italiano, nascido em 1785 e falecido em 1873, ficou célebre como autor da ficção romântica I promessi sposi (Os Noivos , 1825-1827), obra que continha um forte apelo patriótico, ao qual a Itália do seu tempo era particularmente sensível, e que é considerada um dos melhores exemplares do romance histórico no século XIX.

Alessandro Manzoni. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2010. [Consult. 2010-03-07]

quarta-feira, 3 de março de 2010

Faz anos hoje - Bulhão Pato

No dia 3 de Março de 1829 nasceu Bulhão Pato.

Da Infopédia:

Poeta português, Raimundo António de Bulhão Pato nasceu a 3 de Março de 1829, em Bilbau, Espanha, e faleceu em 1912.
Filho de portugueses (o seu pai era fidalgo e poeta), teve uma infância difícil, vivendo constantemente rodeado de dificuldades decorrentes da guerra carlista. Já na adolescência, a guerra civil espanhola obriga a família a vir para Lisboa, onde Bulhão Pato frequenta a Escola Politécnica. Por essa altura começou a conviver também com algumas das personalidades literárias mais importantes da época, como Latino Coelho, Andrade Corvo, Rebelo da Silva, Almeida Garrett, Gomes de Amorim e Alexandre Herculano, entre outros. Essa convivência viria a ser de extrema importância para o consolidar dos seus conhecimentos. Colaborou em periódicos como O Panorama , a Revista Universal Lisbonense , a Revista Peninsular e A Semana . Traduz Shakespeare, Bernardin de Saint-Pierre e Vítor Hugo.
Considerado um poeta apaixonado, influenciado pelos valores do Ultra-Romantismo que o envolveu durante a sua infância e adolescência (sobretudo em Poesias e Versos , de 1850 e 1862), influenciado por Lamartine e Byron, torna-se célebre com o poema narrativo Paquita , sucessivamente reeditado até 1894, e amplamente reconhecido por Alexandre Herculano e Rebelo da Silva.
É também autor de quatro livros de memórias, escritos num tom íntimo e nostálgico, interessantes pelas informações biográficas e históricas que fornecem. O seu estatuto de derradeiro representante de um Romantismo sentimental ultrapassado, a que as facetas de caçador e de gastrónomo (é seu o livro de receitas O cozinheiro dos cozinheiros , de 1870) conferiam contornos de certa forma castiços, teria, ao que parece, servido de inspiração a Eça de Queirós na composição da figura do poeta Tomás de Alencar, em Os Maias (1888).

Bibliografia: Poesias, 1850 (poesias); Paquita, 1856 (poesias); Versos, 1862 (poesias); Digressões e Novelas, 1864 (novelas e contos); Canções da tarde, 1866 (poesias); Flores Agrestes, 1870 (poesias); Cantos e sátiras, 1873 (poesias); Sob os ciprestes, 1877 (memórias); Memórias, 3 vols., 1894-1907 (memórias)

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Faz anos hoje - Eugénio de Andrade

No dia 19 de Janeiro de 1923 nasceu Eugénio de Andrade.

Da Infopédia:

Poeta português, Eugénio de Andrade, pseudónimo de José Fontinhas, nasceu a 19 de Janeiro de 1923 no Fundão, e faleceu a 13 de Junho de 2005, no Porto. Em 1947 ingressou na função pública, como funcionário dos Serviços Médico-Sociais, e em 1950 fixou residência no Porto. Manteve sempre uma postura de independência relativamente aos vários movimentos literários com que a sua obra coexistiu ao longo de mais de cinquenta anos de actividade poética. Revelando-se em 1948, com As Mãos e os Frutos, a que se seguiria, em 1950, Os Amantes sem Dinheiro, o seu nome não se encontra vinculado a nenhuma das publicações que marcaram, enquanto lugar de reflexão sobre opções e tradições estéticas, a poesia contemporânea, embora tenha editado um dos seus volumes, As Palavras Interditas, na colecção "Cancioneiro Geral" e tenha colaborado em publicações como Árvore, Cadernos do Meio-Dia ou Cadernos de Poesia. É, aliás, nesta última publicação, editada nos anos quarenta, que se firmam algumas das vozes independentes, como Ruy Cinatti, Sophia de Mello Breyner Andresen ou Jorge de Sena, que inaugurariam, no século XX, essa linhagem de lirismo depurado, exigente, atento ao poder da palavra no conhecimento ou na fundação de um real dificilmente dizível ou inteligível, em que Eugénio de Andrade se inscreve. Foi um dos poetas portugueses mais lidos e traduzidos, mantendo ao longo de uma longa e fecunda carreira uma certa unidade de temas e de recursos formais. A escolha dos inofensivos substantivos "pureza" e "leveza" para referir a sua obra derivará talvez da noção do impulso de purificação que a sua poética confere às palavras através da exploração de um léxico essencial até à exaltação. Quando Maria Alzira Seixo fala do caminho que esta poesia percorre "na senda do rigor da lápide" ("Every poem is an epitaph", já dizia Eliot) levanta o véu de um dos pontos fulcrais desta poesia que, nas palavras do próprio Eugénio de Andrade (Rosto Precário), se afirma como o "lugar onde o desejo ousa fitar a morte nos olhos". Falar desta obra como morada da "leveza" e da "pureza" é encobrir o que nela há de ofício de paciência e de desesperada busca. Talvez seja preferível falar da força básica de um léxico de tal maneira investido da radicação do corpo do objecto amado no mundo e na sua paisagem que é capaz de impor o desejo da luz no coração das trevas da mortalidade. Eugénio de Andrade surgirá, assim, como o poeta da "correlação do corpo com a palavra" (Carlos Mendes de Sousa), da sexualidade trabalhada verbalmente até atingir uma "zona gramatical cega" (Joaquim Manuel Magalhães) onde o referido sexual não tem género gramatical referente porque o discurso em que vive pertence já a uma dimensão cuja musicalidade representa a recuperação de uma voz materna intemporal. Eugénio de Andrade foi elemento da Academia Mallarmé (Paris) e membro fundador da Academia Internacional "Mihail Eminescu" (Roménia). Para além de tradutor de vários autores, cujas obras recriou poeticamente (García Lorca, Safo, Borges), e organizador de várias antologias poéticas, é autor de obras como Os Afluentes do Silêncio (1968), Rosto Precário (1979), À Sombra da Memória (1993) (em prosa), As Mãos e os Frutos (1948), As Palavras Interditas (1951), Ostinato Rigore (1964), Limiar dos Pássaros (1976), Rente ao Dizer (1992), Ofício da Paciência (1994), O Sal da Língua (1995) e Os Lugares do Lume (1998). Recebeu ao longo da sua vida vários prémios: Pen Clube (1986), Associação Internacional dos Críticos Literários (1986), Dom Dinis (1988), Grande Prémio da Associação Portuguesa de Escritores (1989), Jean Malrieu (França, 1989), APCA (Brasil,1991), Prémio Europeu de Poesia da Comunidade de Varchatz (República da Sérvia, 1996), Prémio Vida Literária atribuído pela APE (2000) e, em Maio de 2001, o primeiro prémio de poesia "Celso Emilio Ferreiro" atribuído em Orense, na Galiza. Em 2001, a 10 de Maio, Eugénio de Andrade foi homenageado na Universidade de Bordéus por altura da realização do "Carrefour des Littératures", tendo sido considerado um dos mais importantes escritores do século XX. Estiveram presentes várias ilustres personalidades, entre elas o Presidente da República Portuguesa Jorge Sampaio. A 10 de Julho foi distinguido com o Prémio Camões e, ainda no mesmo ano, foi lançado um CD com poemas recitados pelo próprio autor. Em 2002, foram atribuídos os prémios PEN 2001 e Eugénio de Andrade recebeu o prémio da área da poesia pela sua obra Os Sulcos da Sede. No dia em que comemorou o seu octogésimo aniversário foi homenageado na Biblioteca Almeida Garrett do Porto. Em 1991, foi criada na cidade do Porto a Fundação Eugénio de Andrade. Para além de ter servido de residência ao poeta, esta instituição tem como principais objectivos o estudo e a divulgação da obra do autor assim como a organização de diversos eventos como, por exemplo, lançamentos de livros, recitais e encontros de poesia. A 22 de Março de 2005 foi distinguido, juntamente com a escritora Agustina Bessa-Luís, com o doutoramento "Honoris Causa", atribuído pela Universidade do Porto durante a cerimónia do 94.º aniversário da sua fundação. Bibliografia: Para além de numerosas obras colectivas, antologias de poesia, antologias de textos de diversos autores e traduções, destacam-se: Narciso, Lisboa, 1940; Adolescente, Lisboa, 1942; Pureza, Lisboa, 1945; As Mãos e os Frutos, Lisboa, 1948; Os Amantes sem Dinheiro, Lisboa, 1950; As Palavras Interditas, Lisboa, 1951; Até Amanhã, Lisboa, 1956; Coração do Dia, Lisboa, 1958; Mar de Setembro, s/l, 1961; Ostinato Rigore, Lisboa, 1964; Obscuro Domínio, Porto, 1971; Antologia Breve, 1972; Véspera da Água, Porto, 1973; Escrita da Terra e Outros Epitáfios, Porto, 1974; Limiar dos Pássaros, Porto, 1976; Memória doutro Rio, Porto, 1978; Matéria Solar, Porto, 1980; O Peso da Sombra, Porto, 1982; Branco no Branco, Porto, 1984; Aquela Nuvem e Outras, 1986; Vertentes do Olhar, Porto, 1987; O Outro Nome da Terra, 1988; Poesia e Prosa (1940-1989) - obra completa, 1990; Rente ao Dizer, 1992; À Sombra da Memória, 1993; Ofício de Paciência, 1994; O Sal da Língua, Porto, 1995; Pequeno Formato, 1997; Os Sulcos da Sede, 2001; Os Lugares do Lume, 1998; História da Égua Branca, Porto, 1976; Rosto Precário, 1979 ; Os Afluentes do Silêncio, 4.ª ed. refundida, Porto, 1979

Eugénio de Andrade. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2010. [Consult. 2010-01-19]

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Faz anos hoje - Oswald de Andrade

No dia 11 de Janeiro de 1890 nasceu Oswald de Andrade.

Da Infopédia:

Poeta, prosador e teatrólogo brasileiro, José Oswald de Sousa Andrade nasceu em 1890, em S. Paulo. Descendente de família tradicional e abastada, fez os estudos primários e secundários no Ginásio de S. Bento. Em 1912, numa viagem que fez à Europa, travou conhecimento com as vanguardas europeias, especialmente com o Futurismo. Em 1917 formou-se em Direito na Universidade de S. Paulo e conheceu Mário de Andrade e di Cavalcanti. Juntos, deram início a uma luta pelos ideais modernos que se concretizou na realização da Semana de Arte Moderna, em 1922. A partir desta data, Oswalde de Andrade tornou-se o principal dinamizador do movimento modernista brasileiro. Nas viagens que efectuava regularmente à Europa mantinha ligação com escritores e artistas de vanguarda do Velho Continente. Em 1931, juntamente com Patrícia Galvão, lançou o jornal O Homem do Povo, que marcou a sua adesão ao Partido Comunista, do qual se afastaria em 1945. Nesta data, passou a exercer a função de professor de Literatura Brasileira na Universidade de S. Paulo. Faleceu em 1954, nessa mesma cidade. Nos últimos anos de vida, vinha sofrendo dificuldades económicas e longa doença. No entanto, permaneceu sempre actuante e provocador. Ressalta sobretudo a diversidade da sua obra, que compreende a poesia, a narrativa, a crítica e o ensaio. Os escritos incluídos em Trilogia do Exílio (1922-1934) mostram-nos uma prosa nova e uma poética de conteúdo angustiado e quase dissolvente. Na poesia, Oswald de Andrade mostra um gosto extremo pela novidade. Marco Zero (1943-1945) é um ciclo romanesco projectado para cinco volumes, mas de que acabaram por sair apenas dois. Trata-se de uma tentativa de "romance mural", composto por manchas sociais justapostas, de que bem ressalta a ideologia política do autor. Mas acabou por ser no teatro que as qualidades de Oswald de Andrade melhor se puderam evidenciar. Em O Homem e o Cavalo (1934), aborda a revolução social. Em A Morta (1937), mostra o drama do poeta que a hostilidade da época reaccionária afastou de uma linguagem útil e corrente. Em O Rei da Vela (1937), o tema abordado é o do embate entre o socialismo e a burguesia.

Oswald de Andrade. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2010. [Consult. 2010-01-11]

sábado, 31 de outubro de 2009

Faz anos hoje - John Keats

No dia 31 de Outubro de 1795 nasceu John Keats.

Da Infopédia:

Poeta inglês nascido em 1795, em Londres, e falecido em 1821, em Roma. Com a publicação de Poems , em 1817, decidiu fazer da literatura a ocupação da sua vida, abandonando assim a carreira médica. No ano seguinte deu a lume o longo poema Endymion , que recebeu críticas violentas. Os ataques deixaram-no profundamente afectado, ao mesmo tempo que a doença o ia debilitando. Nos anos de 1818 e 1819, escreveu diversos poemas de grande mérito, como Lamia , Isabella e The Eve of St. Agnes .

John Keats. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2009. [Consult. 2009-10-31]

sábado, 26 de setembro de 2009

Faz anos hoje - T. S. Eliot

No dia 26 de Setembro de 1888 nasceu T. S. Eliot.

Da Infopédia:

Thomas Stearns Eliot (1888-1965), poeta, crítico e dramaturgo inglês, nasceu em St. Louis, no Missouri. Frequentou a Universidade de Harvard (1906-10), prosseguindo os seus estudos na Sorbonne, onde estudou durante um ano. Regressou a Harvard para estudar filosofia por um período de três anos. Teve como professores George Santayana, Josiah Royce e Bertrand Russel. Uma bolsa de estudo levou-o posteriormente à Universidade de Oxford, onde preparou o seu doutoramento sobre a filosofia idealista de F. A. Bradley e aprofundou os seus conhecimentos de Platão e Aristóteles. A tese de Eliot foi publicada em 1936.Persuadido por Ezra Pound, fixou-se definitivamente em Inglaterra em 1915, naturalizando-se em 1927. Nesse ano converteu-se ao catolicismo; da sua conversão ao movimento católico no seio da Igreja inglesa dão testemunho os seus ensaios reunidos no volume For Lancelot Andrews (1928).De 1917 a 1919 Eliot foi assistente editorial da revista The Egoist . Entretanto, em 1917, foi publicado o seu primeiro livro de poesia, Prufrock and Other Observations , para o qual foi decisivo o apoio de Ezra Pound. O poema The Love Song of J. Alfred Prufrock foi publicado inicialmente na revista americana Poetry em 1915. Em 1917 Eliot escreveu o ensaio Tradition and the Individual Talent , a que se seguiram um segundo volume de poesia ( Poems , 1919), que incluía o poema Gerontion , e uma reedição de Prufrock intitulada Ara vos prec (1920).Depois de leccionar em diversas escolas inglesas, Eliot trabalhou durante oito anos no Lloyds Bank , antes de se tornar director da editora Faber (1925). Em 1922, no primeiro número da revista Criterion (que Eliot editou entre 1923 e 1939), foi publicado The Waste Land , o poema mais influente deste século, dedicado a Ezra Pound e posteriormente publicado na Hogarth Press por Leonard e Virginia Woolf. O tema de The Waste Land é a decadência e fragmentação da cultura ocidental, concebida imaginativamente por analogia com o fim de um ciclo de fertilidade natural. O poema divide-se em 5 partes, que não obedecem a uma sequência lógica, e estende-se por 433 versos. A justaposição de símbolos, imagens, ritmos, citações e sequências temporais, contribuem para a dimensão épica do poema e reforçam a sua coerência artística. Considerado um poema controverso desde o momento da sua publicação, The Waste Land marcou o início de uma nova fase na poesia deste século.Eliot só voltou a publicar poesia em 1830, com The Hollow Men ; no mesmo ano publicou Ash Wednesday , o registo poético da conversão do escritor ao catolicismo. As peças The Rock (1934) e Murder in the Cathedral (1935) reflectem igualmente a adesão de Eliot à doutrina católica. O mesmo acontece nos seus dramas posteriores: The Family Reunion (1939), The Cocktail Party (1950), The Confidential Clerk (1954) e The Elder Statesman (1958). Entretanto, entre 1935-42, Eliot produziu nova obra-prima, Four Quartets , publicada num único volume em 1943. Nos poemas que compõem aquela obra, Eliot aperfeiçoou uma linguagem poética própria, adequada às experiências espirituais que esses poemas traduzem.A reputação de Eliot como figura cimeira do Modernismo europeu é indissociável de uma reflexão constante sobre a tradição literária inglesa, sobre a qual escreveu longamente. Os seus ensaios críticos revelam esta preocupação constante com a poesia e a tradição: The Sacred Wood (1920), Homage to Dryden (1924), The Use of Poetry and the Use of Criticism (1933), Elizabethan Essays (1934), Milton (1947), Poetry and Drama (1951), The Three Voices of Poetry (1953), On Poetry and Poets (1957). Entre os seus trabalhos de crítica social contam-se obras polémicas como After Strange Gods (1936), The Idea of a Christian Society (1939) e Notes Towards a Definition of Culture (1948). O seu estilo desafiador está igualmente presente na reflexão sobre os escritores clássicos ( Modern Education and the Classics , 1934) e em termos gerais na sua abordagem da literatura. Até ao final da sua vida, Eliot não deixou de se pronunciar de forma crítica sobre a expressão poética enquanto manifestação da consciência moderna. A consistência do seu pensamento e a coerência da sua formulação valeram-lhe um estatuto privilegiado na literatura anglo-americana. Em 1948 foi-lhe atribuído o Prémio Nobel da Literatura.

T. S. Eliot. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2009. [Consult. 2009-09-10]

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Faz anos hoje - Camilo Pessanha

No dia 7 de Setembro de 1867 nasceu Camilo Pessanha.

Da Infopédia:

Depois de se ter formado em Direito pela Universidade de Coimbra, partiu como professor para Macau, onde permanecerá, depois como conservador do registo predial, grande parte da sua vida e onde terá convivido durante escassos anos com Wenceslau de Morais. Ocupando uma posição marginal relativamente aos movimentos, polémicas e publicações que marcaram a última década de Oitocentos, Camilo Pessanha foi compondo uma pequena mas significativa obra poética, esparsamente divulgada em pequenas revistas e jornais, e apenas coligida em 1920, pelo empenho de um amigo e admirador, João de Castro Osório. Considerada o que de melhor produziu o simbolismo português, a sua obra aponta em vários aspectos para a estética modernista, sendo, aliás, da responsabilidade de Luís de Montalvor, um dos elementos de Orpheu , a divulgação em primeira mão de um conjunto de poemas de Pessanha na revista Centauro. A poesia de Camilo Pessanha articula o equilíbrio musical do verso, a capacidade de sugestão de sentidos a partir de elementos significantes, proveniente de um simbolismo de matriz verlainiana, com a elevação da imagem à categoria de símbolo, teorizada por Baudelaire ou Mallarmé, como alicerces de uma poesia elaborada ao ponto de ocultar o seu rigor construtivo e encarada como forma intelectualizada de compreensão da relação entre o eu e a realidade. Revelado pelos modernistas, este autor deve a sua redescoberta, até certo ponto, à iluminação recíproca que estabelece com a obra de Fernando Pessoa, devendo-se o primeiro estudo exaustivo da sua obra, em 1956, à ensaísta Esther de Lemos, a que se seguiriam, nas décadas seguintes, trabalhos fundamentais sobre Clepsidra, da autoria de Urbano Tavares Rodrigues e Óscar Lopes. Segundo este último ensaísta, "Pessanha traz à poesia portuguesa toda a dinâmica até então insuspeitada do momento subjectivo no domínio da percepção, desarticulando a perspectiva puramente geométrica a que a descrição parnasiana obedece, mobilizando os modos afectivos de reacção à realidade sensorial", e alcançando, na "expressão estilística concreta", "a dialéctica das percepções ou imagens e de uma subjectividade individual" (cf. Entre Fialho e Nemésio , vol. I, Lisboa, INCM, p. 136). Bibliografia: Clepsidra, Lisboa, 1920, reed. aum., Lisboa, 1945; China, Lisboa, 1944; O Caderno Poético de Camilo Pessanha, Macau, 1986; Cartas a Alberto Osório de Castro, João Baptista Castro e Ana Osório, Lisboa, 1984

Camilo Pessanha. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2009. [Consult. 2009-09-07]

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Faz anos hoje - Salvatore Quasimodo

No dia 20 de Agosto de 1901 nasceu Salvatore Quasimodo.

Da Infopédia:

Poeta e tradutor italiano, nascido a 20 de Agosto de 1901, em Módica, Siracusa, na Sicília, e falecido a 14 de Junho de 1968, em Nápoles. Com o intuito de ser engenheiro, frequentou escolas técnicas de Palermo e o Politécnico de Roma. Paralelamente, estudou Latim e Grego na Universidade da capital italiana. Contudo, devido a dificuldades financeiras teve de abandonar os estudos para começar a trabalhar como engenheiro civil para o governo italiano. No entanto, Quasimodo escrevia poesia e, em 1930, publicou três poemas numa revista vanguardista italiana. Nesse mesmo ano, lançou o primeiro livro de poesia, Acque e terre, seguido, em 1932, de Òboe sommerso, obras onde a sua Sicília natal marcou sempre presença. Em 1938, deixou a carreira de engenheiro civil para se dedicar exclusivamente à arte da escrita, tendo ocupado, a partir de então, o cargo de editor da revista semanal italiana Tempo. Três anos mais tarde, passou a dirigir o Departamento de Literatura Italiana do Conservatório Giuseppe Verdi, em Milão. Nos anos 40, Salvatore Quasimodo repartiu-se entre a produção própria de poesia e a tradução de outros poetas, desde os clássicos do Grego e do Latim (Sofócles, Ovídio,Virgílio, Eurípides ), a William Shakespeare, Molière, Pablo Neruda ou Edward E. Cummings. Durante a Segunda Guerra Mundial, o poeta sentiu-se mais ligado às necessidades do povo e exprimiu isso mesmo nos seus poemas, que resultaram nas obras Giorno dopogiorno e La vita non è sogno, de 1946 e 1949, respectivamente. Os trabalhos seguintes de Salvatore Quasimodo demonstraram um maior apego ao lado positivo da vida, como ficou patente na obra La terra impareggiabile, de 1958. O poeta deixou de lado um certo individualismo na sua obra para ficar mais patente um apego à sociedade. O ponto alto da sua carreira aconteceu em 1959, quando lhe foi atribuído o Prémio Nobel da Literatura. Mas, para além do Nobel, Salvatore Quasimodo ganhou outros galardões como o Prémio Internacional Etna-Taormina, em 1953, que partilhou com o poeta Dylan Thomas.

Salvatore Quasimodo. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2009. [Consult. 2009-08-20]

domingo, 12 de julho de 2009

Faz anos hoje - Pablo Neruda

No dia 12 de Julho de 1904 nasceu Pablo Neruda.

Da Infopédia:

Nome literário do poeta, diplomata e marxista chileno Neftalí Ricardo Reyes Basoalto. Nasceu a 12 de Julho de 1904 em Parral, no Chile, e morreu a 23 de Setembro de 1973, em Santiago. De família humilde, viveu no sul do Chile, em Temuco. A mãe faleceu uns meses após o seu nascimento e o pai voltaria a casar. Neruda viria a ter um bom relacionamento com a madrasta, que considerou como a sua verdadeira mãe. Escreveu um dia "eu nasci para a vida, para a terra, para a poesia e para a chuva". Estudou no liceu desta cidade, entrando aos 15 anos no Instituto Pedagógico da Universidade de Santiago. Começou a escrever aos 10 de idade. Quando tinha apenas 12 anos conheceu Gabriela Mistral, uma famosa poetisa chilena, que lhe deu a conhecer os escritores clássicos que iriam influenciar a sua carreira e as suas decisões políticas. Tornou-se militante anarquista e traduziu o trabalho de Jean Grave, a notável teoria de Peter Kropotkine, um anarquista comunista. A partir de 1920 passou a usar o nome Pablo Neruda, que legalmente adoptou em 1946. Em 1921 deixou Temuco e mudou-se para a capital, Santiago. O estudante romântico invadiu a vida literária da capital chilena com a sua capa de estudante. Neste ano ganhou o prémio da federação chilena de estudantes de poesia com La canción de la fiesta e a partir daí começou a publicar poemas na revista da federação, Claridad. Em 1923 escreveu o primeiro livro, Crepusculario . Para cobrir as despesas desta publicação viu-se obrigado a vender o relógio que o pai lhe tinha oferecido. Em 1924 encontrou quem lhe publicasse Viente poemas de amor y una canción desesperada . Este trabalho foi muito bem recebido pelo público e conservou a sua popularidade ao longo dos anos. Aos vinte anos e com dois livros publicados, Neruda tornou-se o poeta chileno mais conhecido. Abandonou os estudos de francês para se dedicar inteiramente à poesia. Escreveu Tentativa del hombre infinito , Anillos, em colaboração com Tomás Lago, e El hondero entusiasta .Em 1927 foi nomeado cônsul em Rangoon, Burma, e durante cinco anos representou o seu país na Ásia. Seguidamente viajou para Ceilão, Colombo, Jacarta, Java, onde casou com a sua primeira mulher, de origem holandesa. Esteve ainda em Singapura. Viveu um período de grande solidão, animado apenas pelo romance com uma jovem burmesa. Durante estes anos na Ásia escreveu Residencia en la tierra . Em 1933 foi nomeado cônsul em Buenos Aires e daí data a sua amizade com o poeta espanhol Federico García Lorca. No ano seguinte foi transferido para Barcelona e depois para Madrid onde voltou a casar, desta vez com Delia del Carril. Com o mesmo impacto literário que obteve no seu país, Neruda conquistou a Europa e o resto do mundo, a sua poesia tornou-se rapidamente conhecida. Foi um escritor bem acolhido em Espanha. Este clima de desenvolvimento poético foi subitamente interrompido pelo eclodir da guerra civil espanhola em 1936. A execução do seu amigo García Lorca, a prisão de Miguel Hernández e o sangue nas ruas contribuíram para a maturidade do poeta e para as suas atitudes políticas. Escreveu então Espanã en el corazón , publicado durante a guerra civil nas linhas da frente republicanas. Pablo Neruda regressou ao Chile em 1938, com um grupo de refugiados espanhóis. Depois desta atitude, o governo chileno mandou-o para o México onde produziu intensamente textos poéticos, inspirado na II Guerra Mundial, que assolava a Europa, posicionando-se especialmente ao lado da defesa de Estalinegrado contra a ocupação germânica. Em 1943 voltou ao Chile por mar, recebendo uma grande ovação dos seus conterrâneos. Em 1945 foi eleito senador e nos três anos seguintes consagrou a maior parte do seu tempo aos problemas do país. A actividade política de Neruda foi interrompida quando foi eleito um governo de direita. Pablo Neruda, comunista, foi forçado a ocultar a sua ideologia, assim como outros esquerdistas. Estes anos de clandestinidade foram, no entanto, proveitosos do ponto de vista da obra literária. Escreveu Canto General , um dos grandes poemas épicos escritos no continente americano. Em Fevereiro de 1948, deixou o Chile, atravessando a zona sul das montanhas dos Andes a cavalo. Em Junho de 1949 visitou a União Soviética para participar na celebração dos 150 anos de Aleksandr Pushkin. Visitou depois outros países da Europa e o México. Em 1952, depois da ordem para prisão dos escritores de esquerda e de figuras políticas terem sido retiradas, Neruda regressou ao Chile e casou pela terceira vez, com a chilena Matilde Urrutia. Com a sua residência na Ilha Negra, no Pacífico, viajou constantemente por vários países, entre os quais Cuba e Estados Unidos, respectivamente em 1960 e 1966. A sua poesia foi traduzida em quase todas as línguas. A poesia de Neruda representa uma constante mudança, relacionada com as experiências da sua vida. Um dos mais enigmáticos trabalhos é Residencia en la tierra onde rompeu com a forma tradicional e criou uma técnica poética altamente personalizada embora plena de realismo, que se tornou conhecida como "nerudismo". Pablo Neruda foi Prémio Nacional de Literatura, Prémio Lenine da Paz (1953) e Prémio Nobel da Literatura (1971).

Pablo Neruda. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2009. [Consult. 2009-07-12]

sábado, 13 de junho de 2009

Fernando Pessoa

No dia 13 de Junho de 1888 nascia Fernando Pessoa.

Da Infopédia:

Poeta, ficcionista, dramaturgo, filósofo, prosador, Fernando Pessoa é, inequivocamente, a mais complexa personalidade literária portuguesa e europeia do século XX. Após a morte do pai, partiu com sete anos para a África do Sul onde o seu padrasto ocupava o cargo de cônsul interino. Durante os dez anos que aí viveu, realizou com distinção os estudos liceais e redigiu alguns dos seus primeiros textos poéticos, atribuídos a pseudónimos, entre os quais se salienta o de Alexander Search. Com dezassete anos, abandona a família e regressa a Portugal, com a intenção de ingressar no Curso Superior de Letras. Em Lisboa, acaba por abandonar os estudos, sobrevive como correspondente comercial de inglês e dedica-se a uma vida literária intensa. Desenvolve colaboração com publicações (algumas delas dirigidas por si) como A República, Teatro, A Águia, A Renascença, Eh Real, O Jornal, A Capital, Exílio, Centauro, Portugal Futurista, Athena, Contemporânea, Revista Portuguesa, Presença, O Imparcial, O Mundo Português, Sudoeste, Momento. Com Mário de Sá-Carneiro e Almada Negreiros, entre outros, leva, em 1915, a cabo o projecto de Orpheu, revista que assinala a afirmação do modernismo português e cujo impacto cultural e literário só pôde cabalmente ser avaliado por gerações posteriores. Tendo publicado em vida, em volume, apenas os seus poemas ingleses e o poema épico Mensagem, a bibliografia que legou à contemporaneidade é de tal forma extensa que o conhecimento da sua obra se encontra em curso, sendo alargado ou aprofundado à medida que vão saindo para o prelo os textos que integram um vastíssimo espólio. Mais do que a dimensão dessa obra, cujos contornos ainda não são completamente conhecidos, profícua em projectos literários, em esboços de planos, em versões de textos, em interpretações e reflexões sobre si mesma, impõe-se, porém, a complexidade filosófica e literária de que se reveste. Dificilmente se pode chegar a sínteses simplistas diante de um autor que, além da obra assinada com o seu próprio nome, criou vários autores aparentemente autónomos e quase com existência real, os heterónimos, de que se destacam - o seu número eleva-se às dezenas - Ricardo Reis, Álvaro de Campos e Alberto Caeiro, cada um deles portador de uma identidade própria; de uma arte poética distinta; de uma evolução literária pessoal e ainda capazes de comentar as relações literárias e pessoais que estabelecem entre si. A esta poderosa mistificação acresce ainda a obra multifacetada do seu criador, que recobre vários géneros (teatro, poesia lírica e épica, prosa doutrinária e filosófica, teorização literária, narrativa policial, etc.), vários interesses (ocultismo, nacionalismo, misticismo, etc.) e várias correntes literárias (todas por si criadas e teorizadas, como o paulismo, o interseccionismo ou o sensacionismo). Elevando-se aos milhares de milhares as páginas já publicadas sobre a obra de Fernando Pessoa, e, muito particularmente, sobre o fenómeno da heteronímia, uma das premissas a ter em conta quando se aborda o universo pessoano é, como alerta Eduardo Lourenço, não cair no equívoco de "tomar Caeiro, Campos e Reis como fragmentos de uma totalidade que convenientemente interpretados e lidos permitiriam reconstituí-la ou pelo menos entrever o seu perfil global. A verdade é mais simples: os heterónimos são a Totalidade fragmentada [...]. Por isso mesmo e por essência não têm leitura individual, mas igualmente não têm dialéctica senão na luz dessa Totalidade de que não são partes, mas plurais e hierarquizadas maneiras de uma única e decisiva fragmentação. (p. 31) Avaliando a posteriori o significado global dessa aventura literária extraordinária revestem-se de particular relevo, como aspectos subjacentes a essas múltiplas realizações e a essa Totalidade entrevista, entre outros, o sentido de construtividade do poema (ou melhor, dos sistemas poéticos) e a capacidade de despersonalização obtida pela relação de reciprocidade estabelecida entre intelectualização e emoção. Nessa medida, a obra de Fernando Pessoa constitui uma referência incontornável no processo que conduz à afirmação da modernidade, nomeadamente pela subordinação da criação literária a um processo de fingimento que, segundo Fernando Guimarães, "representa o esbatimento da subjectividade que conduzirá à poesia dramática dos heterónimos, à procura da complexidade entendida como emocionalização de uma ideia e intelectualização de uma emoção, à admissão da essencialidade expressiva da arte" bem como à "valorização da própria estrutura das realizações literárias" (cf. O Modernismo Português e a sua Poética, Porto, Lello, 1999, p. 61). Deste modo, a poesia de Fernando Pessoa "Traçou pela sua própria existência o quadro dentro do qual se move a dialéctica mesma da nossa Modernidade", constituindo a matriz de uma filiação textual particularmente nítida à medida que a sua obra, e a dos heterónimos, ia, ao longo da década de 40, sendo descoberta e editada, a tal ponto que, a partir da sua aventura poética, se tornou impossível "escrever poesia como se a sua experiência não tivesse tido lugar." (LOURENÇO, Eduardo, cit. por MARTINHO, Fernando J. B. - Pessoa e a Moderna Poesia Portuguesa - do "Orpheu" a 1960, Lisboa, 1983, p. 157.) Bibliografia: 35 Sonnets, Lisboa, 1918; English Poems, I, II e III, Lisboa, 1921; Mensagem, Lisboa, 1934; Obras Completas, 11 vols., Ática, 1942-80; Obra Poética (org., intr., e notas de Maria Aliete Galhoz), Rio de Janeiro, 1965; Obras em Prosa (org., intr., e notas de Cleonice Berardinelli), Rio de Janeiro, 1974; Obra Poética e em Prosa, (org. intr. bibli. e not. de António Quadros), 17. vols, Lisboa, 1985-86, 3 vols, Porto, 1986. Edições Críticas da Obra de Fernando Pessoa: Fernando Pessoa-Ricardo Reis: Os Originais, as Edições, o Cânone das Odes (org. e apres. Silva Belkior), 1983; O Manuscrito de O Guardador de Rebanhos (edição fac-similada com texto crítico de Ivo Castro), Lisboa, 1986; Texto Crítico das Odes de F. Pessoa-Ricardo Reis: tradição impressa revista e inéditos (notas e comen. de Silva Belkior), Lisboa, 1988; A Passagem das Horas de Álvaro de Campos (edição crítica de Cleonice Berardinelli), Lisboa, 1988; Edição Crítica de Fernando Pessoa, vol. II, Poemas de Álvaro de Campos (edição crítica de Cleonice Berardinelli), 1990, reed., aum. e corr. 1992; Álvaro de Campos - Livro de Versos (ed. crítica org. e apres. por Teresa Rita Lopes), Lisboa, 1993; Edição Crítica de Fernando Pessoa, volume V, Poemas Ingleses, tomo I (ed. João Dionísio), 1993; Mensagem - Poemas Esotéricos (edição crítica e coord. José Augusto Seabra), Madrid, 1993; Edição Crítica de Fernando Pessoa, vol. III, Poemas de Ricardo Reis (edição crítica por Luis Fagundes Teles), Lisboa, 1994; Poemas Completos de Alberto Caeiro prefácio de Ricardo Reis posfácio de Álvaro de Campos (recolha, transcrição e notas de Teresa Sobral Cunha, posfácio de Luís de Sousa Rebelo), 1994; Edição Crítica de Fernando Pessoa, volume I, Poemas de Fernando Pessoa: Quadras (ed. Luís Prista), Lisboa, 1997; Edição Crítica de Fernando Pessoa, volume V, Poemas Ingleses, tomo II (ed. João Dionísio), 1997; Edição Crítica de Fernando Pessoa, volume V, Poemas Ingleses, tomo III (ed. Marcus Angioni e Fernando Gomes), 1999. Edição Crítica de Fernando Pessoa, volume I, Poemas de Fernando Pessoa, 1934-1935, tomo V, (ed. Luís Prista), Lisboa, 2000.Correspondência: Cartas a Armando Cortes-Rodrigues (intr. e ed. Joel Serrão), Lisboa, 1944, reed. 1960; Cartas a João Gaspar Simões (editadas e prefaciadas pelo destinatário), Lisboa, 1957, reed. 1988; Cartas de Sá-Carneiro a Fernando Pessoa, 2 vols., Lisboa, 1958-59; Cartas de Amor de F. Pessoa, vol. I (org. e pref. Urbano Tavares Rodrigues), Lisboa, 1958; (org., posfác. e notas de D. Mourão-Ferreira, estabelecimento do texto e preâmbulo de Maria da Graça Queirós), 2 vols., Lisboa, Ática, 1978; Correspondência inédita de Mário de Sá-Carneiro a Fernando Pessoa (leitura, intr. e notas de Arnaldo Saraiva), Porto, 1980; Cartas de Amor de Ofélia a Fernando Pessoa (org. de Manuela Nogueira e Maria da Conceição Azevedo), Assírio e Alvim, 1996; Correspondência Inédita, (org. e notas Manuela Parreira da Silva, pref. Teresa Rita Lopes), Lisboa, 1996; Correspondência (1923-1935) (ed. Manuela Parreira da Silva), Lisboa, Assírio e Alvim, 1999; Correspondência (1902-1934) (ed. Manuela Parreira da Silva), Lisboa, 2000

Fernando Pessoa. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2009. [Consult. 2009-06-09]

domingo, 26 de abril de 2009

Mário de Sá-Carneiro

No dia 26 de Abril de1916 morria em Paris, Mário de Sá-Carneiro.

Da Infopédia:

Poeta e ficcionista, Mário de Sá-Carneiro constitui, tal como Fernando Pessoa e Almada-Negreiros, um dos principais representantes do Modernismo português. Nasceu em Lisboa, a 19 de Maio de 1890, e morreu precocemente a 26 de Abril de 1916, também em Lisboa. Iniciou os seus estudos em Direito na cidade de Coimbra, tendo partido depois para Paris, em 1912, para cursar também Direito, estudos que abandonaria pouco depois por se ter deixado seduzir por uma vida desregrada e de boémia. De temperamento instável e inadaptado, dedicou-se, na capital francesa, à produção de grande parte da sua obra poética. A figura de Mário de Sá-Carneiro assume uma importância basilar para a compreensão do modo como o Modernismo português se foi formando com caracteres próprios na recepção das correntes de vanguarda europeias, processo de que a correspondência que estabeleceu com Fernando Pessoa dá um testemunho documental precioso e que culminaria com a publicação de Orpheu, em 1915. Os poemas que edita no primeiro número de Orpheu, destinados a Indícios de Oiro, são, a este título, significativos da sua adesão às estéticas paúlica e sensacionista, que na correspondência entre os dois grandes poetas fora gerada, glosando, então, em moldes muito devedores do simbolismo-decandentismo, a abjecção de um eu em conflito com um outro, reverso da sua frustração e insatisfação ("Eu não sou eu nem o outro, / Sou qualquer coisa de intermédio: / Pilar da ponte de tédio / Que vai de mim para o Outro,..."), ao mesmo tempo que a publicação de "Manucure", no segundo número de Orpheu, revela uma incursão por uma forma poética mais próxima da escrita da vanguarda futurista, no que contém de autonomização do significante. Já antes de Orpheu, a colaboração de Mário de Sá-Carneiro na revista Renascença (1914) - onde Fernando Pessoa publica Impressões de Crepúsculo -, com a edição de Além (apresentado como uma tradução portuguesa de certo Petrus Ivanovitch Zagoriansky), instituíra a sua experiência poética na charneira entre a herança simbolista e as tentativas paúlicas e interseccionistas. Mário de Sá-Carneiro constitui ainda um paradigma da prosa modernista portuguesa pela publicação das narrativas Céu em Fogo e A Confissão de Lúcio, construídas frequentemente a partir do estranhamento de um narrador insolitamente introduzido em situações onde o erotismo, o onirismo e o fantástico se associam aos temas obsessivos do desdobramento e autodestruição do eu. O seu suicídio, com 26 anos (em 1916, Paris), parecendo vir selar aquele sentimento de inadaptação à vida, de permanente incompletude, de narcísico auto-aviltamento e, sobretudo, de consciência dolorosa da irremediável cisão do eu, consubstanciada na dramática tensão entre um eu, vil e prosaico, e um outro, seu duplo ideal, que alimentaram tematicamente a obra, nimbou-o para a posteridade de uma aura de poeta maldito, que deixaria um forte ascendente sobre a poesia contemporânea de gerações posteriores à sua. Com efeito, a mensagem poética do autor de Indícios de Oiro ecoa postumamente na literatura presencista da geração de 50 e até surrealista, passando por nomes absolutamente diversos como Sebastião da Gama, Mário de Cesariny ou Alexandre O'Neill. Bibliografia: Princípio: Novelas Originais, Lisboa, 1912; A Confissão de Lúcio, Lisboa, 1914; Céu em Fogo, Lisboa, 1915; Cartas a Fernando Pessoa, Lisboa, 1958-59; Dispersão: 12 Poesias, Lisboa, 1914; Indícios de Oiro, Porto, 1937; Poesias, 1946; Poemas Completos, Lisboa, 1996

Mário de Sá-Carneiro. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2009. [Consult. 2009-04-26]

quinta-feira, 23 de abril de 2009

William Shakespeare

No dia 23 de Abril de 1564 nascia William Shakespeare.

Da Infopédia:

Poeta e dramaturgo inglês nascido em 1564, em Stratford-Upon-Avon, e falecido em 1616. O seu aniversário é comemorado a 23 de Abril e sabe-se que foi baptizado a 26 de Abril de 1564. Stratford-Upon-Avon era então uma próspera cidade mercantil, uma das mais importantes do condado de Warwickshire. O seu pai, John Shakespeare, era um comerciante bem sucedido e membro do conselho municipal. A mãe, Mary Arden, pertencia a uma das mais notáveis famílias de Warwickshire. Shakespeare frequentou o liceu de Stratford, onde os filhos dos comerciantes da região aprendiam Grego e Latim e recebiam uma educação apropriada à classe média a que pertenciam. São conhecidos poucos factos da vida de Shakespeare entre a altura em que deixou o liceu e o seu aparecimento em Londres como actor e dramaturgo por volta de 1599. Em 1582 casou com Anne Hathaway, oito anos mais velha do que ele, e o casal teve três filhos: Suzanna (nascida em 1583), e os gémeos Hamnet e Judith (nascidos em 1585). A primeira referência a Shakespeare como actor e dramaturgo encontra-se em A Groatsworth of Wit (1592), um folheto autobiográfico da autoria do dramaturgo londrino Robert Greene, onde o escritor é acusado de plágio. Nesta altura Shakespeare era já conhecido em Londres, embora não se saiba com exactidão a data do seu aparecimento na capital. Em virtude do encerramento dos teatros londrinos entre 1592-94, Shakespeare compôs nessa época dois poemas narrativos: Venus and Adonis (publicado em 1593) e The Rape of Lucrece (publicado em 1594). No Inverno de 1594 integrou a mais importante companhia de teatro isabelina, The Lord Chamberlain's Men, onde permaneceu até ao final da sua carreira. A companhia deveu à popularidade de Shakespeare o seu lugar privilegiado entre as restantes companhias de teatro até ao encerramento dos teatros pelo Parlamento inglês em 1642. Em 1598 foi inaugurado o Globe Theatre, o teatro da companhia a que Shakespeare se associara, construído pelo actor e empresário Richard Burbage no bairro de Southwark, na margem sul do Tamisa. Depois da ascensão ao trono de Jaime I (em 1603) a companhia The Lord Chamberlain's Men passou para a tutela real, e o seu nome foi alterado para The King's Men. A passagem de Shakespeare pelos palcos associa-se a breves desempenhos: Adam na peça As You Like It e o fantasma (Ghost) em Hamlet. Depois de ter comprado algumas propriedades em Strattford, Shakespeare retirou-se para a sua terra natal em 1610, mantendo todavia o contacto com Londres. O Globe Theatre foi destruído pelo fogo no dia 23 de Junho de 1613, durante uma representação da peça Henry VIII. Além de uma colecção de sonetos e de alguns poemas épicos, Shakespeare escreveu exclusivamente para o teatro. As suas 37 peças dividem-se geralmente em três categorias: comédias, dramas históricos e tragédias. Entre os dramas históricos, género que primeiro cultivou, destacam-se Richard III (Ricardo III), Richard II (Ricardo II) e Henry IV (Henrique IV). Entre as suas comédias contam-se Love's Labour's Lost, The Comedy of Errors, The Taming of the Shrew, a comédia de intenção séria The Merchant of Venice (O Mercador de Veneza), As You Like It (Como Quiserem) e A Midsummer Night's Dream (Um Sonho de Uma Noite de Verão). A tragédia não é uma forma que pertença exclusivamente a um determinado período na evolução da obra de Shakespeare. Sob influência de Marlowe, a forma de tragédia já se encontrava nas peças que dramatizavam episódios da História inglesa. Em Romeo and Juliet (Romeu e Julieta) e Julius Caesar (Júlio César) Shakespeare combinou a perspectiva histórica com uma interpretação trágica dos conflitos humanos. O período em que Shakespeare escreveu as suas grandes tragédias iniciou-se com Hamlet, escrita entre 1600-1602, a que se seguiram Othelo, Macbeth, King Lear, Anthony and Cleopatra e Coriolanus, todas elas compostas entre 1601 e 1608. Na última fase da carreira de Shakespeare situam-se as peças de tom mais ligeiro: Cymbeline, The Winter's Tale e The Thempest. Parte das obras de Shakespeare foram publicadas durante a vida do autor, por vezes em edições pirateadas, mas só em 1623 apareceu a edição "Fólio", compilada por John Heminges e Henry Condell, dois actores que tinham trabalhado com Shakespeare. No século XVIII as peças foram publicadas por Alexander Pope (em 1725 e 1728) e Samuel Johnson (em 1765), mas só com o Romantismo se compreendeu a profundidade e extensão do génio de Shakespeare. No século XX reforçou-se a tendência para considerar a obra de Shakespeare integrada nos contextos dramáticos que a suscitaram. Embora em muitos casos seja impossível datar precisamente as peças do autor, uma cronologia aproximada revela a evolução da sua obra: Antes de 1594: Henry VI; Richard III; Titus Andronicus; Love's Labour's Lost; The Two Gentlemen of Verona; The Comedy of Errors; The Taming of The Shrew. Entre 1594-1597: Romeo and Juliet; A Midsummer Night's Dream; Richard II; King John; The Merchant of Venice. Entre 1597-1600: Henry IV; Henry V; Much Ado About Nothing; Merry Wives of Windsor; As You Like It; Julius Caeser; Troilus and Cressida. Entre 1601-1608: Hamlet; Twelfth Night; Measure for Measure; Alls Well That Ends Well; Othello; King Lear; Macbeth; Timon of Athens; Anthony and Cleopatra; Coriolanus. Depois de 1608: Pericles; Cymbeline; The Winter's Tale; The Tempest; Henry VIII. Poemas (datas desconhecidas): Venus and Adonis; The Rape of Lucrece; Sonnets; The Phoenix and The Turtle.
William Shakespeare. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2009. [Consult. 2009-04-23]

sábado, 21 de março de 2009

Um Dia

Um dia, gastos, voltaremos
A viver livres como os animais
E mesmo tão cansados floriremos
Irmãos vivos do mar e dos pinhais.

O vento levará os mil cansaços
Dos gestos agitados irreais
E há-de voltar aos nosso membros lassos
A leve rapidez dos animais.

Só então poderemos caminhar
Através do mistério que se embala
No verde dos pinhais na voz do mar
E em nós germinará a sua fala.

Sophia de Mello Breyner

Dia mundial da Poesia


É hoje, dia 21 de Março...

quarta-feira, 18 de março de 2009

António Nobre

No dia 18 de Março de 1900, morria no Porto o poeta António Nobre.

Da Infopédia:

Poeta português, nascido em 1867, no Porto, e falecido a 18 de Março de 1900, na mesma cidade. A infância e a adolescência de António Nobre foram passadas entre Leça da Palmeira, onde o pai, antigo emigrado no Brasil, possuía uma quinta, e a Foz do Douro. Tendo estudado em colégios do Porto, frequentou os principais centros da boémia portuense, convivendo com figuras literárias como Raul Brandão e Júlio Brandão e publicando criação poética. Frequentou posteriormente a Faculdade de Direito de Coimbra, onde, com Alberto de Oliveira, fundou a revista Boémia Nova, cuja polémica com a publicação de Insubmissos, de Eugénio de Castro, constituiu um marco na emergência do Simbolismo e do Decadentismo em Portugal. Foi em Coimbra que, habitando a fortificação medieval que ficaria conhecida como "Torre de Anto", se acentuou o culto por uma postura romântica e egocêntrica, e que elaborou grande número das composições que viriam a integrar a sua principal obra publicada em vida. Em Paris, desde 1890, forma-se em Direito na Sorbonne e, conquanto à margem da dinâmica literária francesa que, por essa altura, consagra o Simbolismo, publica , em 1892, obra onde a voz do lusíada exilado reinventa, entre nostálgico e auto-irónico, uma existência que, nutrida nas tradições de um Portugal puro e preservado, o votou à solidão e ao sofrimento. Não chegando a ocupar o lugar de cônsul para que concorrera em 1893, os últimos anos de vida de António Nobre serão marcados por deslocações frequentes entre os lugares da sua infância e juventude e lugares de repouso, como a Suíça e a Madeira. Uma leitura literal de um biografismo assumido com emotividade e a evocação de um "Portugal da minha infância", vislumbrado em paisagens rurais e em textos plasmados sobre formas populares, permitiu que a publicação de surgisse como um modelo a um tempo de uma estética neo-romântica e neogarrettista que, pelo menos desde o início dos anos 90, fora elaborando as suas propostas teóricas. Mas, na verdade, o mais original do volume passa por uma forma antideclamatória que, inserindo-se num dolorismo e confessionalismo lírico, frequentemente de inspiração autobiográfica, busca a impressão de extrema simplicidade, delindo na sua elaboração a cultura literária e o rigor construtivo que lhe subjazem. É neste sentido que António Nobre se insere numa poesia portuguesa pré-modernista, ao colocar em questão uma língua poética fortemente convencional e normativa. Segundo Gastão Cruz, "enquanto Cesário revoluciona fundamentalmente o nível linguístico, através da renovação vocabular, a revolução de Nobre, não deixando de situar-se igualmente num plano semântico, e por vezes com uma liberdade de associações e uma violência que encontram o que encontramos em Cesário [...], abala, pela primeira vez, os alicerces, e toda a construção, do edifício romântico-parnasiano." (CF. CRUZ, Gastão - A Poesia Portuguesa Hoje, 2.ª ed. aum., Lisboa, Relógio d'Água, Lisboa, 1999, pp. 20-21). No ano de 2000 comemorou-se o centenário da sua morte, através de publicações que relembram a sua vida pessoal e poética, entre outros eventos. Bibliografia: Só, Paris, 1892; Ao Cair das Folhas, Lisboa, 1895; Despedidas, Porto, 1902; Lisboa: Poesia, Lisboa, 1914; Primeiros Versos, Porto, 1937; Canção da Felicidade, Porto, 1951; Alicerces, seguido de Livro de Apontamentos, Lisboa, 1983; Cartas e Bilhetes Postais a J. de Montalvão, Porto, s/d; Cartas Inéditas de António Nobre, Coimbra, 1933; Correspondência com Cândida Ramos, Porto, 1981; Correspondência, Lisboa, 1982

António Nobre. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2009. [Consult. 2009-03-18]

domingo, 8 de março de 2009

João de Deus

No dia 8 de Março de 1830 nascia João de deus.

Da Infopédia:

Poeta e pedagogo, João de Deus de Nogueira Ramos nasceu a 8 de Março de 1830, no Algarve, e morreu a 11 de Janeiro de 1896, em Lisboa. Depois de ter frequentado, durante dez anos, o curso de Direito em Coimbra (onde foi uma das figuras mais destacadas da boémia estudantil da época e se relacionou com alguns elementos da Geração de 70, sobretudo Antero de Quental e Teófilo Braga), de ter dirigido em Beja, entre 1862 e 1864, o jornal O Bejense (onde publicou muitas das suas primeiras poesias), e de ter iniciado a prática de jurisconsulto, foi eleito deputado, em 1868, por Sines. Mudou-se para Lisboa, onde continuou a frequentar ambientes de boémia literária. Colaborou em vários jornais e revistas, como O Académico, Anátema, O Ateneu, Ciências, Artes e Letras, O Fósforo, Gazeta de Portugal, A Grinalda, Herculano, Prelúdios Literários e Revista de Coimbra. Por volta de 1868-1869, coligiu as suas poesias no volume Flores do Campo, a que se seguiram Ramo de Flores (1869), Folhas Soltas (1876), Despedidas do Verão (1880) e Campo de Flores (1893). No seguimento da sua nomeação para o cargo de comissário-geral do ensino da leitura, viria a desempenhar um papel social e cultural da maior distinção, revelando-se decisivos os seus esforços para a alfabetização de camadas cada vez mais alargadas da população portuguesa. A publicação, em 1876, da célebre Cartilha Maternal, método de ensino da leitura verdadeiramente revolucionário no panorama pedagógico nacional, constituiu um marco importante desse processo. Devido, em parte, à sua acção de pedagogo, em 1895 foi agraciado com várias homenagens à escala nacional, entre as quais a de sócio-honorário da Academia Real das Ciências e do Instituto de Coimbra. Como poeta, João de Deus situou-se num momento em que a via ultra-romântica estava já a esgotar-se, mas, apesar do apreço que lhe manifestavam autores como Antero de Quental, não se identificou com as preocupações filosóficas e sociais da Geração de 70. De facto, a temática dominante da sua obra poética afastou-o da nova corrente. O seu lirismo intimista versa constantemente sobre o amor, e por vezes perpassa um sentido de plácida religiosidade, exprimindo-se sempre num estilo simples. A sua obra abrange vários géneros, da ode à elegia, do epigrama à fábula, passando pelo soneto. João de Deus, que Antero considerava, já em 1860, "o poeta mais original do seu tempo", defendeu e praticou um lirismo depurado, inspirado, a exemplo de Garrett, na lírica tradicional portuguesa e na obra camoniana, de onde recuperaria o soneto como um dos seus géneros de eleição.
João de Deus. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2009. [Consult. 2009-03-08]