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Há mais de 30 anos que se fala em unir a Europa e África. O tempo tem mostrado que o projecto é difícil, quase utópico. Mas, mesmo assim, os governos espanhol e marroquino preparam-se para apresentar hoje aos ministros dos Negócios Estrangeiros da União Europeia a ideia ambiciosa de construir um túnel de quase 40 quilómetros.
Apesar de parecer impossível que se concretize este sonho, o desejo de o realizar é grande. O projecto que vai ser apresentado prevê a construção de um duplo túnel ferroviário que una a cidade espanhola de Tarifa e a de Tanger, em Marrocos, com 28 dos 40 quilómetros a atravessar o estreito de Gibraltar debaixo de água. E é aqui, nesta distância, que vista num mapa até parece pequena, que começam os problemas.
O responsável pelo desenho desta obra é o arquitecto suíço, Giovanni Lombardi, de 81 anos, que já participou na construção de outros projectos de grande dimensão como o túnel em Mont Blanc, na Suíça. “Nenhum trabalho no mundo se compara a este. Existem muitos desafios. Primeiro, o mar neste ponto tem profundidade de 300 metros – cerca de cinco ou seis vezes mais fundo que o túnel que liga a Grã-Bretanha e a França”, explicou Lombardi, citado pela “BBC news”.
Terreno de incertezas
O último estudo realizado, através de prospecções geológicas ao fundo oceânico na zona, revelou, no entanto, aquela que se apresenta agora como a maior dificuldade do projecto. Foram detectadas duas falhas de argila no centro do estreito, o que poderia tornar a construção do túnel inviável, tendo em conta a tecnologia existente.
“Não se sabe ao certo se poderá avançar ou não”, reconheceu Ángel Aparício, presidente da empresa pública espanhola que com outra marroquina controla o projecto, citado pelo “El País”. “Nunca uma obra pública se deparou com tantas incertezas”, acrescentou.
Além das zonas argilosas que não prometem um terreno consolidado para construir, as condições geológicas da zona colocam vários obstáculos. “Existem muitos movimentos tectónicos entre as placas europeia e africana, o que implica que teremos muitos movimentos de terra e stress nos materiais”, afirmou Lombardi à “BBC news”.
As dúvidas são tantas que a proposta do grupo, coordenado por Lombardi, vai no sentido da construção de um túnel de reconhecimento desde da costa marroquina até à falha mais a sul.
O problema é escavar um túnel de seis metros de largura até esse ponto para se concluir que “com as máquinas existentes hoje em dia não é viável” realizar a obra, explicou Ángel Aparicio, citado pelo “El País”. O empresário acrescentou que, se não houver maneira de contornar as falhas de argila, “há o risco de depois sermos obrigados a abandonar o projecto”.
Mas imaginemos que todos estes problemas se resolviam. Mesmo assim, haveria um outro: o dinheiro. A obra foi avaliada nos anos 90, em cinco mil milhões de euros. Calcula-se que o custo final possa ser mais do dobro.
Interesse político das duas partes
Desde da década de 80 que se fala de uma alternativa à tradicional travessia por barco entre os dois continentes, caminho aliás onde muitos imigrantes que tentavam chegar à Europa perderam a vida.
Os problemas políticos foram uma difícil barreira que os dois países tiveram que resolver mas, ao que parece, Espanha e Marrocos parecem dispostos a dar o passo em frente depois de tanto tempo.
Ainda recentemente, o primeiro-ministro espanhol, José Rodriguez Zapatero, mostrou o interesse do país no projecto. Em declarações à BBC news disse: “será um grande símbolo dos nossos tempos. Vai mudar a face da Europa e da África. Com o apoio dos membros da União Europeia, podemos construir esta ligação histórica entre os dois continentes”.
Por seu lado, para o ministro dos Transportes marroquino, Karim Ghellab, citado pelo mesmo jornal, o seu país também terá grandes vantagens: “é claramente desejável que Marrocos e a África se juntem à Europa por uma ligação fixa. Vai melhorar as comunicações e permitir que passageiros e mercadorias se movam mais facilmente entre os dois continentes. È um projecto que o mundo precisa”.
Antes deste trajecto houve um inicial que previa a construção de um túnel mais curto, com 14 quilómetros - em vez dos 40 actuais – mas o projecto mostrou ser impossível de concretizar por causa da profundidade do mar nessa zona, 900 metros. Pelo mesmo motivo, foi posta de lado também outra proposta para a construção de uma ponte.
Resta saber se o projecto hoje apresentado à União Europeia vai conseguir convencer os 27 a investir num sonho que por enquanto não parece que tenha “pernas seguras” para andar debaixo de água.
In Público
Com a crive que grassa pelo mundo, é melhor o pessoal ficar quieto até haver fundos que permitam realizar a obra.
ResponderEliminarNão concordo inteiramente consigo.
ResponderEliminarAcho que a crise está também a ser desculpa para não se falar nem se fazer muita coisa. Claro que não falo especificamente deste túnel, que, ao que parece, até pode ser impossível de realizar.
Por falar nisso, coloquei um inquérito aqui no Outras Escritas sobre o assunto :)
Para mim este tunel não tarz nenhuma mais valia...e não tem nada a ver com o tunel.
ResponderEliminarHá barco, ferry e avião, o melhor meio de transporte!
Reflexos
Ao ver esta noticia, acho que no tempo em que vivemos, é uma perca de tempo em fazer coisas deste tipo sem necessidade alguma.
ResponderEliminarQuais são as vantagens que esse túnel trás?
No meu ver nenhuma, só ser for para os terroristas acabar de vez com a Espanha, só se for para começar a transportar pessoas ilegais para a Europa. Acho que é melhor os Espanhóis pensarem melhor, e para se preocuparem com a realidade que vivemos, nas maneiras de ultrapassar a crise em que vivemos.
Acho que há coisas em primeiro lugar para se gastar dinheiro em vez com um túnel que não benificia ninguém.
Caro Ricardo
ResponderEliminarEstive quase para não publicar o seu comentário porque o acho "quase" xenófobo ou racista.
1- Por haver um túnel, não quer dizer que a fronteira entre os dois países deixe de existir.
2 - Grande parte do terrorismo que existem em Espanha deve-se à ETA, ou seja, é um terrorismo interno e deve-se aos próprios espanhóis.