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domingo, 24 de julho de 2011

Maria Lúcia Lepecki


Morreu Maria Lúcia Lepecki, uma brasileira residente em Portugal (portuguesa por casamento), especialista em Literatura Portuguesa e que era contra o acordo ortográfico.



sábado, 23 de abril de 2011

Dia do Livro

Gosto de livros. Dos pequenos, dos grandes, dos contos, dos romances e dos misteriosos policiais. Gosto de lhes tocar e sentir-lhes o cheiro e até de olhar para eles na estante.

Hoje é dia do livro e, por isso, resolvi "oferecer-me" um...


Bom dia do livro e boas leituras.

terça-feira, 6 de julho de 2010

terça-feira, 16 de março de 2010

Faz anos hoje - Camilo Castelo Branco

Camilo Castelo Branco nascei a 16 de Março de 1825.

Da Infopédia:

Novelista entre os anos 50 e 80 do século XIX e um dos grandes génios da Literatura Portuguesa, Camilo Ferreira Botelho Castelo Branco nasceu a 16 de Março de 1825, em Lisboa, e suicidou-se a 1 de Junho de 1890 em S. Miguel de Seide, Famalicão. Órfão de mãe aos dois anos e de pai aos nove, passou, a partir desta idade, a viver em Vila Real com uma tia paterna. Aos 16 anos, casou-se com Joaquina Pereira, em Friúme, Ribeira de Pena. Em 1844, instalou-se no Porto com o intuito de cursar Medicina, acabando por não passar do 2.o ano. Em 1845, estreou-se na poesia e no ano seguinte no teatro e também no jornalismo - actividade, aliás, que nunca abandonaria. Viúvo desde 1847, fixou-se definitivamente no Porto a partir de 1848 (onde, em 1846, já estivera preso por ter raptado Patrícia Emília, um dos seus tumultuosos amores, de quem teria uma filha). De 1849 a 1851 consolidou a sua actividade jornalística, retomou o teatro, estreou-se no romance com Anátema (1851), conheceu a alta-roda portuense bem como os meios boémios e foi protagonista de aventuras romanescas.
Em 1853, abandonou o curso de Teologia no Seminário Episcopal, fundou vários jornais e em 1855 tornou-se o redactor principal de O Porto e de Carta. Nessa altura, o seu nome começava a soar nos meios jornalísticos e literários do Porto e de Lisboa: já alimentara várias polémicas e publicara alguns romances. Mas foi a partir de 1856 que atingiu a maturidade literária (no domínio dos processos de escrita) com o romance (por alguns autores considerado novela) Onde Está a Felicidade?. Foi ainda neste ano que iniciou o relacionamento amoroso com Ana Plácido, casada desde 1850 com Manuel Pinheiro Alves.
Por proposta de Alexandre Herculano, foi eleito sócio da Academia Real das Ciências de Lisboa em 1858 - ano em que nasceu Manuel Plácido, filho de Camilo e de Ana Plácido. Em 1860, Manuel Pinheiro Alves desencadeou o processo de adultério: em Junho foi presa a mulher e a 1 de Outubro Camilo entregou-se na cadeia da Relação do Porto. D. Pedro V visitou-o, em 1861, na cadeia, e a 16 de Outubro desse ano os réus foram absolvidos. Era intensa a actividade literária de Camilo (não sendo a esse facto de todo alheias as dificuldades económicas): entre 1862 e 1863, o escritor publicou onze novelas e romances atingindo uma notoriedade dificilmente igualável. Em 1864, fixou-se na quinta de S. Miguel de Seide (propriedade de Manuel Pinheiro Alves que, entretanto, falecera em 1863) e nasceu-lhe o terceiro filho, Nuno. Quatro anos depois, dirigiu a Gazeta Literária do Porto; em 1870 iniciou o processo do viscondado (o título ser-lhe-ia atribuído em 1885) e, em 1876, tomou consciência da loucura do segundo filho, Jorge. No ano seguinte morreu Manuel Plácido. A partir de 1881, agravaram-se os padecimentos, incluindo a doença dos olhos que o afectava. Em 1889, por ocasião do seu aniversário, foi objecto de calorosa homenagem de escritores, artistas e estudantes, promovida por João de Deus. No ano seguinte, já cego, impossibilitado de escrever (a escrita foi, no fim de contas, a sua grande paixão), suicidou-se com um tiro de revólver. A casa de Seide é hoje o museu do escritor e na sua vizinhança foram inauguradas, a 1 de Junho de 2005, as novas instalações do Centro de Estudos Camilianos.
Camilo foi o primeiro escritor profissional entre nós. Dotado de uma capacidade prodigiosa para efabular narrativas, conhecedor profundo do idioma, observador, ora complacente ora sarcástico, da sociedade (sobretudo da aristocracia decadente e da burguesia boçal e endinheirada), inclinado (por gosto, por temperamento e formação) para a intriga e análise passionais (muitas vezes atingindo o sublime da tragédia, como no Amor de Perdição), este genial autor romântico deixou-nos uma obra incontornável (apesar de irregular) na evolução da prosa literária portuguesa. De facto, foi na novela passional e no "romance de costumes" que Camilo se notabilizou, legando-nos uma série de personagens ainda hoje inesquecíveis, quadros e situações que valem pela espontaneidade narrativa, pelo ritmo avassalador da acção, pela sugestão realista e ainda pela novidade temática, como em A Queda dum Anjo. A sua versatilidade literária e criadora (aliada à necessidade de não perder o público com a progressiva influência de Eça e de Teixeira de Queirós) levaram-no a assimilar (depois de ter parodiado) a atitude estética e os processos de escrita do Realismo e do Naturalismo, visíveis nesse notável livro que é A Brasileira de Prazins e em certa medida já iniciados com Novelas do Minho.
A sua arte de narrar constituiu, a par da de Eça de Queirós, um modelo literário para muitos escritores, principalmente até meados do século XX.
As suas obras principais são: A Filha do Arcediago, 1855; Onde está a Felicidade?, 1856; Vingança, 1858; O Romance dum Homem Rico, 1861; Amor de Perdição, 1862; Memórias do Cárcere, 1862; O Bem e o Mal, 1863; Vinte Horas de Liteira, 1864; A Queda dum Anjo, 1865; O Retrato de Ricardina, 1868; A Mulher Fatal, 1870; O Regicida, 1874; Novelas do Minho, 1875-1877; Eusébio Macário, 1879; A Brasileira de Prazins, 1882.
Além destas obras em prosa narrativa, assinale-se ainda os outros géneros (ou domínios) pelos quais se repartiu o labor de Camilo: poesia, teatro (de que se devem destacar O Morgado de Fafe em Lisboa, 1861, e O Morgado de Fafe Amoroso, 1865), dezenas de traduções (do francês e do inglês), polémica, prefácios, biografia, história, crítica literária, jornalismo e epistolografia (compreendendo mais de duas mil cartas).

Bibliografia: Da extensíssima bibliografia de Camilo salientam-se Pundonores Desagravados, 1845 (sátiras); Anátema, 1851 (novela); Inspirações, 1851 (poesias); Mistérios de Lisboa, 1854 (folhetim); O Livro Negro do Padre Dinis, 1855 (novela); A Filha do Arcediago, 1857 (novela); Amor de Perdição, 1862 (novela); Memórias do Cárcere, 1862 (memórias); Esboços de Apreciações Literárias, 1865 (crítica literária); Vaidades Irritadas e Irritantes, 1866 (opúsculo); A Queda de um Anjo, 1866 (novela); O Retrato de Ricardina, 1868 (novela); Curso de Literatura Portuguesa, 1876 (crítica literária); Eusébio Macário, 1879 (novela); A Corja, 1880 (novela); A Brasileira de Prazins, 1883 (novela)

Camilo Castelo Branco. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2010. [Consult. 2010-03-17]

segunda-feira, 15 de março de 2010

Faz anos hoje - Carolina Michaëlis

Carolina Michaëlis de Vasconcelos nasceu a 15 de Março de 1851.

Da Infopédia:

Romancista, filóloga e historiadora da literatura portuguesa, nascida em 1851, em Berlim, e falecida em 1925, no Porto. Foi basicamente autodidacta, pois no seu tempo não era permitido às mulheres frequentar os ensinos médio e superior. Publicou trabalhos na área da língua e literaturas italiana e espanhola com apenas 16 anos e cedo se tornou conhecida nos meios intelectuais europeus. Apaixonou-se pela cultura, língua e literatura portuguesas, tendo-se interessado especialmente por assuntos românicos, trocando correspondência com alguns membros da Geração de 70, como Teófilo Braga e Joaquim de Vasconcelos, com quem viria a casar, adquirindo nacionalidade portuguesa. Foi a primeira mulher a leccionar numa universidade portuguesa, mais concretamente na Universidade de Coimbra, desenvolvendo o seu trabalho de investigação no âmbito da cultura portuguesa medieval e quinhentista. Dirigiu, na sua fase inicial, a revista Lusitânia, de estudos portugueses, constituída por dez números publicados de Janeiro de 1924 a Outubro de 1927, em Lisboa, e redigiu artigos para jornais importantes na época, como O Comércio do Porto e o Primeiro de Janeiro. Recebeu várias honras, entre elas, os títulos Doutor Honoris Causa pelas Universidades de Friburgo (1893) e Hamburgo (1923), ambas alemãs, e pela Universidade de Coimbra (1916). Em 1901, foi-lhe entregue a insígnia de Oficial da Ordem de Santiago da Espada pelo rei D. Carlos. Apesar de ter havido resistência por parte de membros mais conservadores, Carolina Michaëlis e a escritora Maria Amália Vaz de Carvalho foram as duas primeiras mulheres a ser admitidas na Academia de Ciências de Lisboa, em 1912.

Carolina Michaëlis de Vasconcelos. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2010. [Consult. 2010-03-16]

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Faz anos hoje - Fernando Assis Pacheco

No dia 1 de Fevereiro de 1937 nasceu Fernando Assis Pacheco.

Da Infopédia:

Poeta, ficcionista e crítico literário, licenciado em Filologia Germânica pela Universidade de Coimbra, onde, ainda estudante, participou em actividades teatrais, Fernando Assis Pacheco dedicou-se ao jornalismo, como colaborador de África, Bandarra, Cabo Verde, Caliban, Diário de Lisboa, Fenda, Nova, O Jornal, Sílex ou Vértice e coordenador do Jornal de Letras, Artes e Ideias , desenvolvendo ainda a actividade de tradutor (traduziu, entre outros, Gabriel Garcia Márquez e Pablo Neruda). A sua poesia, marcada, nos primeiros volumes, pela experiência traumatizante da guerra colonial, insere-se numa tendência realista, onde a denúncia social acolhe as inovações do experimentalismo e da pesquisa linguística.

Bibliografia: Walt: ou o Frio e o Quente, Amadora, 1978; Trabalhos e Paixões de Benito Prada: galego da província de Ourense que veio a Portugal ganhar a vida, Lisboa, 1994; Cuidar dos Vivos, Coimbra, 1963; Câu Kiên: Um Resumo, Lisboa, 1972; Viagens na Minha Guerra, Lisboa, 1972; Memórias do Contencioso, 1976; Catalabanza, Quiolo e Volta, Coimbra, 1976; Siquer este Refúgio, Lisboa, 1976; Enquanto o Autor Queima um Caricoco, seguido de Sons Que Passam, Porto, 1978; Memórias do Contencioso e Outros Poemas, Porto, 1980; A Profissão Dominante, Lisboa, 1982; Nausicaah!, Lisboa, 1984; Variações em Sousa, Lisboa, 1984; A Bela do Bairro e Outros Poemas, Lisboa, 1986; Desversos, Lisboa, 1990; A Musa Irregular, Lisboa, 1991

Fernando Assis Pacheco. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2010. [Consult. 2010-02-01]

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Faz anos hoje - José Rodrigues Miguéis

No dia 9 de Dezembro de 1901 nasceu José Rodrigues Miguéis.

Da Infopédia:

Romancista, novelista, contista, dramaturgo, desenhador, cronista, licenciou-se em Direito na Universidade de Lisboa, em 1924, e, como bolseiro da Junta de Educação Nacional, obteve uma pós-graduação em Ciências Pedagógicas, na Universidade de Bruxelas, em 1933. Ligado ao grupo literário da
Seara Nova , colaborou em periódicos como Alma Nova, O Diabo e Revista de Portugal , e dirigiu, com Bento de Jesus Caraça, o semanário Globo , apreendido em 1932. Professor do ensino secundário e secretário da Liga Propulsora da Instrução, distinguiu-se pelos seus dons de orador, pedagogo, ideólogo. Em 1930, rompeu com a Seara Nova , depois da publicação de artigos onde defendia que os intelectuais têm o dever de passar das afirmações doutrinais à acção, cabendo-lhes, numa perspectiva marxista, um papel de condução e de comunhão com as massas populares organizadas, até ser atingido, por todos os meios, o fim da renovação nacional. Em 1932, publicou a sua obra de estreia, Páscoa Feliz , à qual foi atribuído o Prémio Casa da Imprensa, nitidamente impregnada pela grande admiração que nutria por Raul Brandão, nesses anos de definição literária e ideológica. Impedido de leccionar e de publicar em jornais portugueses, progressivamente coarctado nas suas possibilidades de actuação, à medida que a ditadura instituída em 1926 afinava os seus instrumentos de repressão, expatriou-se nos Estados Unidos, não deixando contudo de colaborar com a imprensa portuguesa e espanhola e de revisitar Portugal. Nos Estados Unidos, foi editor assistente das Selecções do Reader's Digest, tradutor e professor universitário. Nomeado membro efectivo da Hispanic Society of America, correspondente da Academia de Ciências de Lisboa, e agraciado, em 1979, com a Ordem Militar de Santiago de Espada, no grau de Grande Oficial. Na Bélgica, nos Estados Unidos, no Brasil, cenários do itinerário pessoal, a experiência do exílio impõe-se como uma das marcas da ficção de José Rodrigues Miguéis, ressentida, para Eduardo Lourenço (cf. O Canto do Signo , 1994), desse estatuto permanente de "estranho e estrangeiro" que atravessa temáticas, perspectiva do narrador e personagens. Alheia às etiquetas literárias que desde as suas primeiras publicações pretenderam rotulá-lo de "russo ou queirosiano, romântico ou realista", a escrita de José Rodrigues Miguéis parte da preocupação com uma função pedagógica da literatura, da necessidade de compreender a relação entre o indivíduo e a sociedade, não coincidindo, porém, com a estética neo-realista portuguesa, entre outros aspectos por um ponto de vista subjectivo sobre o universo social. A opção por um realismo que recusa simultaneamente o modelo queirosiano ("A frieza caricatural de Eça repelia-me", "Nota do Autor" à 2.ª edição de Páscoa Feliz , 1958, p. 155) e um neo-realismo "dos que se metem pelos olhos dentro" (Ibi, p. 151), por um realismo que não se confunde com a especificidade do realismo social brasileiro e norte-americano, por um realismo simultaneamente pessoal e consciente da sua responsabilidade ética e social, conferem ao escritor um espaço único na ficção realista contemporânea. Traduziu em língua portuguesa Erskine Caldwell, F. Scott Fitzgerald, Carson MacCullers, Stendhal. Parte da sua obra encontra-se traduzida em inglês, italiano, alemão, polaco, checo e russo. Bibliografia: Páscoa Feliz, Lisboa, 1932; Onde a Noite se Acaba, Rio de Janeiro, 1946; Saudades para Dona Genciana, Lisboa, 1956; O Natal do clandestino, Lisboa, 1957; Léah e Outras Histórias, Lisboa, 1958; Uma Aventura Inquietante, Lisboa, 1958; Um Homem Sorri à Morte - Com Meia Cara, Lisboa, 1959; A Escola do Paraíso, Lisboa, 1960; Gente de Terceira Classe, Lisboa, 1962; É Proibido Apontar. Reflexões de um Burguês - I, Lisboa, 1964; Histórias de Natal, Lisboa, 1970; Nikalai! Nikalai, seguido de A Múmia, Lisboa, 1971; O Espelho Poliédrico, Lisboa, 1972; Comércio com o Inimigo, Porto, 1973; As Harmonias do "Canelão". Reflexões de um Burguês - II, Lisboa, 1974; O Milagre Segundo Salomé, 2 vols., vol. I, Lisboa, 1974, vol. II, Lisboa, 1975; O Pão não Cai do Céu, Lisboa, 1981; Pass(ç)os Confusos, Lisboa, 1982; Uma Flor na Campa de Raul Proença, Lisboa, 1985; Idealista no Mundo Real, Lisboa, 1986; Aforismos e Desaforismos de Aparício, Lisboa, 1996; Arroz do Céu, Lisboa, 1994; O Passageiro do Expresso, Lisboa, 1960

José Rodrigues Miguéis. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2009. [Consult. 2009-12-09]

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Caim - José Saramago

Acabei de ler o polémico Caim de José Saramago.

Em primeiro lugar devo referir que não percebo a polémica que se gerou em torno do livro. Claro que Saramago é um escritor importante (para muitos um bom escritor e para outros nem tanto) e que quando se põe em causa o livro sagrado se fica sujeito às mais diversas reacções da Igreja Católica.

Depois de ler o livro, considero que muitos dos comentários que se fizeram são perfeitos disparates. Saramago não ofende a Igreja Católica e também não ofende Deus, ou deus como escreve.

Em Caim, Saramago apenas põe em causa algumas das acções de Deus que são descritas na bíblia. Por exemplo, incendiar Sodoma e Gomorra não fez com que morressem milhares de crianças e mulheres inocentes?

E depois há uns aspectos mais práticos que são hilariantes. Por exemplo na Arca de Noé, as mulheres não tinham mãos a medir com a limpeza. É que colocar tantos animais num espaço fechado fez com que estivesse tudo sempre "mijado e cagado" (palavras do autor).

A maioria dos críticos literários não considera Caim ao nível de outras obras de Saramago, de qualquer forma, penso que o seu humor e a sua inteligência do autor estão sempre presentes.

Recomendo...

PS: nunca li a bíblia. Nunca me despertou qualquer interesse.

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Faz anos hoje - Mark Twain

No dia 30 de Novembro de 1835 nasceu Mark Twain.

Da Infopédia:

Escritor norte-americano, de nome verdadeiro Samuel Langhorne Clemens, nascido em 1835, na Florida, e falecido em Abril de 1910. Quando tinha 4 anos a família mudou-se para Hannibal, na margem do Rio Mississípi. O pai de Twain morreu em 1847 e ele tornou-se aprendiz de impressor (1847-55). Entre 1853-54 viajou pelos diversos estados, trabalhando como impressor. Após uma breve viagem ao Brasil, tornou-se piloto fluvial no Mississípi (1857-61). Nessa época adoptou o pseudónimo de Mark Twain, que na linguagem de verificação da profundidade dos rios significa "duas marcas" na sonda. Foi jornalista e conquistou a atenção do público com o conto The Celebrated Jumping Frog of Calaveras County, publicado em 1865 num jornal e depois editado em livro com outros ensaios (1867). Em 1867 Twain visitou a França, a Itália e a Palestina, recolhendo material para o seu livro The Innocents Abroad (1869), que estabeleceu a sua reputação de humorista. Twain casou em 1870 e fixou-se em Hartford, Connecticut. Dois anos depois publicou Roughing It, e em 1873 The Gilded Age. Em 1876 foi publicada a primeira das suas grandes obras, The Adventures of Tom Sawyer (Tom Sawyer), romance baseado nas experiências da adolescência do autor no Rio Mississípi. No seu livro seguinte, A Tramp Abroad (1880) o autor revisitou a Europa, regressando ao seu território com Life on the Mississippi. A obra-prima da carreira literária de Twain, The Adventures of Huckleberry Finn (Huckleberry Finn), foi publicada em 1884. O livro, que à semelhança de Tom Sawyer parecia um livro para jovens, constituía na realidade uma fábula da América urbana e industrial que na época de Twain ameaçava o sonho de liberdade junto da natureza. Huck representava muitas das aspirações da sociedade americana, com as quais o público facilmente se identificou. O romance estabeleceu definitivamente Twain como um dos grandes humoristas da literatura mundial. Entretanto foram publicadas outras obras do autor: A Connecticut Yankee in King Arthur's Court (1889), The Tragedy of Pudd'nhead Wilson (1894) e Personal Recollections of Joan of Arc (1896). A década de 1890 foi marcada por dificuldades financeiras e nos últimos anos de vida o gosto de Twain pela caricatura burlesca deu lugar a um pessimismo satírico. A dimensão irónica do mundo e em particular do sonho americano revelaram a nova paisagem americana em toda a sua materialidade. A sensibilidade do escritor, dividida na transição da América para a era industrial, influenciou particularmente William Dean Howells, amigo próximo de Twain.

Mark Twain. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2009. [Consult. 2009-11-30]

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Faz anos hoje - D. Francisco Manuel de Melo

No dia 23 de Novembro de 1608 nasceu Francisco Manuel de Melo.

Da Infopédia:

Escritor multifacetado, nascido a 23 de Novembro de 1608 e falecido a 24 de Agosto de 1666, é considerado uma das personalidades portuguesas mais proeminentes do século XVII. De ascendência nobre, a sua formação realizou-se até aos 10 anos na corte, onde adquiriu as bases do respeitante à sua elevada posição social. Depois, os Jesuítas transmitiram-lhe não só uma alargada erudição classicista e um pouco de hebraico, como também o prepararam nos estudos matemáticos em que era particularmente bom. Antes de se tornar membro da Ordem de Cristo, serviu durante cinco anos as armadas espanholas. Alternou este serviço com o recrutamento militar e a frequência da corte madrilena, tornando-se conhecido de Quevedo e de outras figuras literárias. Mais tarde, comandou as tropas portuguesas na Guerra dos Trinta Anos e combateu contra os Holandeses (1639). No ano seguinte ajudou a reprimir a revolta da Catalunha. Após um curto período de prisão por razões políticas, tomou partido a favor de D. João IV e, em 1641, dirigiu-se para Londres. Nesta cidade foi incumbido, como general da armada, de trazer uma frota da Holanda para Portugal. Seguiram-se algumas tarefas de menor importância e, em 1644, foi novamente encarcerado. Foi durante o tempo de clausura que redigiu a maioria das suas obras e ao mesmo tempo lutou pela libertação. Em 1655 foi degredado para o Brasil. Na Baía, melhorou as suas finanças com o negócio do açúcar e continuou a escrever. Passados três anos regressou à pátria e em 1660 animava a Academia dos Generosos. Seguiu-se o início da carreira diplomática, que lhe permitiu viajar pela Europa. Pouco antes da sua morte, com 57 anos, foi ainda deputado da Junta dos Três Estados. A nível literário é uma figura considerável da cultura aristocrática peninsular do seu tempo. O seu trabalho bilingue comporta comédias, novelas, versos líricos e, pensa-se, algumas sátiras que se terão perdido. Versou sobre assuntos historiográficos, moralistas, políticos e militares. No apólogo Hospital das Letras fez a primeira revisão crítica geral de autores literários antigos e modernos em português; projectou uma Biblioteca Lusitana de Autores e também um Parnaso Poético Português. De entre as obras que deixou merecem referência Epanáforas de Vária História Portuguesa (1651, como historiador), a farsa Auto do Fidalgo Aprendiz (provavelmente escrita antes de 1646 mas publicada somente em 1676, como dramaturgo), Obras Morales (1664, publicadas durante a sua missão como diplomata em Roma), Obras Métricas (1665, onde reuniu a sua poesia) e a famosa Carta de Guia de Casados (prosa).
Bibliografia: Aula Política, Cúria Militar; Epístola Declamatória, Política Militar (1638); Historia de los movimientos y separación de Cataluña (1645); Obras Morales (1664; inclui El Mayor Pequeño, ed. 1647 e El Fenis de Africa, ed. 1648-49); Obras Métricas (1665; inclui Doze sonetos, 1628; Las tres Musas del Melodino, 1649 e Pantheon, 1650); Carta de Guia de Casados (1651); Epanáforas de Vária História Portuguesa (1660); Cartas familiares (1664); Auto do Fidalgo Aprendiz (1676); Apólogos Dialogais (1721); Tratado da Ciência Cabala (1724); Feira de Anexins (1875); Tácito Português (1940); D. Teodósio II (1944)

D. Francisco Manuel de Melo. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2009. [Consult. 2009-11-23]

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Faz anos hoje - Miguel Torga

No dia 12 de Agosto de 1907 nasceu Miguel Torga

Da Infopédia:
Pseudónimo de Adolfo Correia da Rocha e autor de uma produção literária vasta e variada, nasceu em S. Martinho de Anta, Vila Real, a 12 de Agosto de 1907, e morreu em Coimbra, a 17 de Janeiro de 1995. Depois de ter trabalhado no Brasil, entre os 13 e os 18 anos (experiência que viria ser evocada na série de romances de inspiração autobiográfica Criação do Mundo), Adolfo Correia da Rocha regressou a Portugal, vindo a licenciar-se em Medicina. Durante os estudos universitários, em Coimbra, travou conhecimento com o grupo de escritores que viriam a fundar a Presença, chegando a publicar nas edições da revista o seu segundo volume de poesia, Rampa. Em 1930, depois de assinar, com Edmundo de Bettencourt e Branquinho da Fonseca, uma carta de dissensão enviada à direcção da publicação coimbrã, co-funda as efémeras revistas Sinal e Manifesto. Não obstante a passagem pelo grupo presencista, no momento da suas primícias literárias, Miguel Torga assumirá, ao longo dos cerca de cinquenta títulos que publicou - frequentemente em edições de autor e à margem de políticas editoriais - uma postura de independência relativamente a qualquer movimento literário. Os seus textos poéticos, numa primeira fase, abordaram temas bucólicos, a angústia da morte, a revolta, temas sociais como a justiça e a liberdade, o amor, e deixaram transparecer uma aliança íntima e permanente entre o homem e a terra. Na poesia, depois de algumas colectâneas ainda imbuídas de certo dramatismo retórico editadas no início dos anos trinta, a publicação dos volumes onde ostenta já o pseudónimo Miguel Torga - segundo Pilar Vásquez Cuesta (cf. Revista de Ocidente, Agosto de 1968), esta invenção pseudonímica simboliza, pela analogia com a urze, a obrigação de constância, firmeza e beleza que o artista deve manter, por mais adversas que sejam as estruturas pessoais e históricas em que se move, ao mesmo tempo que "a escolha do nome Miguel responde ao propósito de acrescentar um novo elo lusitano a toda uma cadeia espanhola (Miguel de Molinos, Miguel de Cervantes, Miguel de Unamuno) de pensamento combativo e rebelde" - como Lamentação (1934), O Outro Livro de Job (1936), Libertação (1944), Odes (1946), Nihil Sibi (1948), Cântico do Homem (1950), Penas do Purgatório (1954), Orfeu Rebelde (1958), Câmara Ardente (1962) ou Poemas Ibéricos (1965), firmam uma poesia que é "fundamentalmente a busca da fidelidade no Terrestre, a busca da aliança sem mácula do homem com o Terrestre; a busca da inteireza do homem no Terrestre" (ANDERSEN, Sophia de Mello Breyner, cit. in Boletim Cultural do Serviço de Bibliotecas Itinerantes e Fixas da Fundação Calouste Gulbenkian, n.º 10, dedicado a Miguel Torga, Maio de 1988, p. 72). Ancorada no húmus natal, essa poesia dá também conta de uma "ambição de absoluto" que, para Torga, deve "permanecer como simples acicate, pura aspiração, porque o homem tem de realizar-se no relativo, a sua felicidade possível está no relativo, logo na contradição, na luta, numa esperança desesperada", não renegando "essa condição dramática de homem, besta e espírito, egoísmo e entrega generosa" (COELHO, Jacinto do Prado, cit. ibi., p. 72). Na prosa, obras como Bichos, Contos da Montanha e Novos Contos da Montanha marcaram, até aos nossos dias, sucessivas gerações de leitores que aí se deslumbraram com uma fusão entre o homem, o mundo animal e o mundo natural, vazada numa prosa "a um tempo sortílega e enxuta, despegada do efémero, agarrada ao concreto" (cf. MOURÃO-FERREIRA, David - "Miguel Torga e a Respiração do Mundo, ibi., p. 8). No domínio narrativo, a sua bibliografia contém ainda os seis volumes da ficção de inspiração autobiográfica Criação do Mundo e os dezasseis volumes do Diário, onde compaginam textos de vários géneros, desde os poemas e da reflexão cultural e ideológica, ao testemunho subjectivo de acontecimentos históricos, a notas tomadas nas inúmeras digressões pelo país. A sua bibliografia conta ainda com algumas páginas de intervenção cívica ou de ensaísmo como Fogo Preso ou Traço de União, bem como quatro títulos de teatro. Prevalecendo em qualquer dos géneros que cultivou "uma obsessão metafísica da liberdade" (a expressão é de Jesús Herrero, em Miguel Torga, Poeta Ibérico (cit. Ibi., p. 73), atestada biograficamente, durante a longa ditadura salazarista, por uma rebeldia que lhe valeu a apreensão e interdição de várias obras, bem como a proibição de saída do país e o levantamento de obstáculos ao exercício da sua actividade profissional, para David Mourão-Ferreira (Saudação a Miguel Torga, cit. ibi, p. 75), "O que há [...] de absolutamente invulgar, porventura único, no caso de Miguel Torga é a circunstância de ele ser, cumulativamente, quer como poeta, quer como prosador, um indivíduo inconfundível, um telúrico padrão e um cívico expoente da própria Pátria, um artístico paradigma da língua em que se exprime, um predestinado legatário de valores culturais em permanente abalo sísmico, um atento receptor e um sensível transmissor dos inúmeros problemas - quantos deles talvez indissolúveis - do Homem de todos os quadrantes, ora considerado na moldura dos condicionalismos que o cerceiam, ora ainda mais frequentemente entendido sb specie aeternitatis". É nesta medida que Fernão de Magalhães Gonçalves (Ser e Ler Torga, cit. ibi., p. 76) considera o modo como a obra de Miguel Torga "é progressivamente estruturada por três discursos ou níveis de sentido que evoluem através de fenómenos de divergência e de convergência numa suscitação dialéctica que põe a nu o movimento das elementares componentes dramáticas da natureza humana: o apelo da transcendência (discurso teológico), o fascínio telúrico (discurso cósmico) e o imperativo da liberdade (discurso sociológico)". Naquele que ainda é um dos mais profundos estudos sobre Miguel Torga, Eduardo Lourenço refere-se, percorrendo os vários níveis da sua matéria poética (incidindo particularmente na relação com o presencismo, na problemática religiosa e no sentimento telúrico que a percorre), a um "desespero humanista" que, partindo da "espécie de indecisão e luta que nela se trava entre um conteúdo que devia fazer explodir a forma e todavia se consegue moldar nela", "É humanista por ser filho da intenção mil vezes expressa na obra de Miguel Torga de confinar a realidade humana unicamente no Homem e na sua aventura cósmica, embora a presença mesma desse desespero testemunhe que essa intenção não encontra no espírito total do poeta uma estrada luminosa e larga. Como a todos os lugares reais ou ideais em que o homem busca a salvação, conduz a este humanismo [...] a porta estreita de uma agonia pessoal" (LOURENÇO, Eduardo - "O Desespero Humanista em Miguel Torga", in Tempo e Poesia, Porto, editorial Inova, 1974, p. 123). Proposto por duas vezes para Nobel da Literatura (1960 e 1978), a sua obra e a sua personalidade constituíram um referente cultural a nível nacional e internacional, tendo recebido, em vida, os Prémios Montaigne (1981), Camões (1989), Vida Literária (da Associação Portuguesa de Escritores, em 1992), o Prémio de Literatura Écureuil (do Salão do Livro de Bordéus, em 1991) e o Prémio da Associação Internacional de Críticos Literários, em 1994. Bibliografia: Ansiedade, Coimbra, 1928; Rampa, poemas, Coimbra, 1930; Tributo, poemas, Coimbra, 1931; A Terceira Voz, s/l, 1934; Lamentação, poema, s/l, 1941; Libertação, poemas, Coimbra, 1944; Odes, Coimbra, 1946; Nihil Sibi, poesia, Coimbra, 1948; Cântico do Homem, Coimbra, 1950; O Outro Livro de Job, s/l, 1936; Alguns Poemas Ibéricos, s/l, 1952; Penas do Purgatório, poemas, Coimbra, 1954; Orfeu Rebelde, Coimbra, 1958; Câmara Ardente, poemas, Coimbra, 1962; Poemas Ibéricos, Coimbra, 1965; Portugal, Coimbra, 1950; Traço de União: Temas Portugueses e Brasileiros, Coimbra, 1955; Fogo Preso, Coimbra, 1976; Diário, Coimbra, 1941-1990 (15 vols.); Pão Ázimo, contos, s/l, 1931; Bichos, Coimbra, 1940; Pedras Lavradas, contos, Coimbra, 1951; Vindima, Coimbra, 1945; A Criação do Mundo, 6 vols., s/l (1937; 1938; 1939; 1974; 1981); Montanha, contos, s/l, 1941; Rua, novelas e contos, s/l, 1942; O Senhor Ventura, Coimbra, 1943; Terra Firme, s/l, 1941; Mar, s/l, 1941; Sinfonia, poema dramático em quatro actos, Coimbra, 1947; O Paraíso, farsa, Coimbra, 1949

Miguel Torga. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2009. [Consult. 2009-08-12]

sábado, 13 de junho de 2009

Fernando Pessoa

No dia 13 de Junho de 1888 nascia Fernando Pessoa.

Da Infopédia:

Poeta, ficcionista, dramaturgo, filósofo, prosador, Fernando Pessoa é, inequivocamente, a mais complexa personalidade literária portuguesa e europeia do século XX. Após a morte do pai, partiu com sete anos para a África do Sul onde o seu padrasto ocupava o cargo de cônsul interino. Durante os dez anos que aí viveu, realizou com distinção os estudos liceais e redigiu alguns dos seus primeiros textos poéticos, atribuídos a pseudónimos, entre os quais se salienta o de Alexander Search. Com dezassete anos, abandona a família e regressa a Portugal, com a intenção de ingressar no Curso Superior de Letras. Em Lisboa, acaba por abandonar os estudos, sobrevive como correspondente comercial de inglês e dedica-se a uma vida literária intensa. Desenvolve colaboração com publicações (algumas delas dirigidas por si) como A República, Teatro, A Águia, A Renascença, Eh Real, O Jornal, A Capital, Exílio, Centauro, Portugal Futurista, Athena, Contemporânea, Revista Portuguesa, Presença, O Imparcial, O Mundo Português, Sudoeste, Momento. Com Mário de Sá-Carneiro e Almada Negreiros, entre outros, leva, em 1915, a cabo o projecto de Orpheu, revista que assinala a afirmação do modernismo português e cujo impacto cultural e literário só pôde cabalmente ser avaliado por gerações posteriores. Tendo publicado em vida, em volume, apenas os seus poemas ingleses e o poema épico Mensagem, a bibliografia que legou à contemporaneidade é de tal forma extensa que o conhecimento da sua obra se encontra em curso, sendo alargado ou aprofundado à medida que vão saindo para o prelo os textos que integram um vastíssimo espólio. Mais do que a dimensão dessa obra, cujos contornos ainda não são completamente conhecidos, profícua em projectos literários, em esboços de planos, em versões de textos, em interpretações e reflexões sobre si mesma, impõe-se, porém, a complexidade filosófica e literária de que se reveste. Dificilmente se pode chegar a sínteses simplistas diante de um autor que, além da obra assinada com o seu próprio nome, criou vários autores aparentemente autónomos e quase com existência real, os heterónimos, de que se destacam - o seu número eleva-se às dezenas - Ricardo Reis, Álvaro de Campos e Alberto Caeiro, cada um deles portador de uma identidade própria; de uma arte poética distinta; de uma evolução literária pessoal e ainda capazes de comentar as relações literárias e pessoais que estabelecem entre si. A esta poderosa mistificação acresce ainda a obra multifacetada do seu criador, que recobre vários géneros (teatro, poesia lírica e épica, prosa doutrinária e filosófica, teorização literária, narrativa policial, etc.), vários interesses (ocultismo, nacionalismo, misticismo, etc.) e várias correntes literárias (todas por si criadas e teorizadas, como o paulismo, o interseccionismo ou o sensacionismo). Elevando-se aos milhares de milhares as páginas já publicadas sobre a obra de Fernando Pessoa, e, muito particularmente, sobre o fenómeno da heteronímia, uma das premissas a ter em conta quando se aborda o universo pessoano é, como alerta Eduardo Lourenço, não cair no equívoco de "tomar Caeiro, Campos e Reis como fragmentos de uma totalidade que convenientemente interpretados e lidos permitiriam reconstituí-la ou pelo menos entrever o seu perfil global. A verdade é mais simples: os heterónimos são a Totalidade fragmentada [...]. Por isso mesmo e por essência não têm leitura individual, mas igualmente não têm dialéctica senão na luz dessa Totalidade de que não são partes, mas plurais e hierarquizadas maneiras de uma única e decisiva fragmentação. (p. 31) Avaliando a posteriori o significado global dessa aventura literária extraordinária revestem-se de particular relevo, como aspectos subjacentes a essas múltiplas realizações e a essa Totalidade entrevista, entre outros, o sentido de construtividade do poema (ou melhor, dos sistemas poéticos) e a capacidade de despersonalização obtida pela relação de reciprocidade estabelecida entre intelectualização e emoção. Nessa medida, a obra de Fernando Pessoa constitui uma referência incontornável no processo que conduz à afirmação da modernidade, nomeadamente pela subordinação da criação literária a um processo de fingimento que, segundo Fernando Guimarães, "representa o esbatimento da subjectividade que conduzirá à poesia dramática dos heterónimos, à procura da complexidade entendida como emocionalização de uma ideia e intelectualização de uma emoção, à admissão da essencialidade expressiva da arte" bem como à "valorização da própria estrutura das realizações literárias" (cf. O Modernismo Português e a sua Poética, Porto, Lello, 1999, p. 61). Deste modo, a poesia de Fernando Pessoa "Traçou pela sua própria existência o quadro dentro do qual se move a dialéctica mesma da nossa Modernidade", constituindo a matriz de uma filiação textual particularmente nítida à medida que a sua obra, e a dos heterónimos, ia, ao longo da década de 40, sendo descoberta e editada, a tal ponto que, a partir da sua aventura poética, se tornou impossível "escrever poesia como se a sua experiência não tivesse tido lugar." (LOURENÇO, Eduardo, cit. por MARTINHO, Fernando J. B. - Pessoa e a Moderna Poesia Portuguesa - do "Orpheu" a 1960, Lisboa, 1983, p. 157.) Bibliografia: 35 Sonnets, Lisboa, 1918; English Poems, I, II e III, Lisboa, 1921; Mensagem, Lisboa, 1934; Obras Completas, 11 vols., Ática, 1942-80; Obra Poética (org., intr., e notas de Maria Aliete Galhoz), Rio de Janeiro, 1965; Obras em Prosa (org., intr., e notas de Cleonice Berardinelli), Rio de Janeiro, 1974; Obra Poética e em Prosa, (org. intr. bibli. e not. de António Quadros), 17. vols, Lisboa, 1985-86, 3 vols, Porto, 1986. Edições Críticas da Obra de Fernando Pessoa: Fernando Pessoa-Ricardo Reis: Os Originais, as Edições, o Cânone das Odes (org. e apres. Silva Belkior), 1983; O Manuscrito de O Guardador de Rebanhos (edição fac-similada com texto crítico de Ivo Castro), Lisboa, 1986; Texto Crítico das Odes de F. Pessoa-Ricardo Reis: tradição impressa revista e inéditos (notas e comen. de Silva Belkior), Lisboa, 1988; A Passagem das Horas de Álvaro de Campos (edição crítica de Cleonice Berardinelli), Lisboa, 1988; Edição Crítica de Fernando Pessoa, vol. II, Poemas de Álvaro de Campos (edição crítica de Cleonice Berardinelli), 1990, reed., aum. e corr. 1992; Álvaro de Campos - Livro de Versos (ed. crítica org. e apres. por Teresa Rita Lopes), Lisboa, 1993; Edição Crítica de Fernando Pessoa, volume V, Poemas Ingleses, tomo I (ed. João Dionísio), 1993; Mensagem - Poemas Esotéricos (edição crítica e coord. José Augusto Seabra), Madrid, 1993; Edição Crítica de Fernando Pessoa, vol. III, Poemas de Ricardo Reis (edição crítica por Luis Fagundes Teles), Lisboa, 1994; Poemas Completos de Alberto Caeiro prefácio de Ricardo Reis posfácio de Álvaro de Campos (recolha, transcrição e notas de Teresa Sobral Cunha, posfácio de Luís de Sousa Rebelo), 1994; Edição Crítica de Fernando Pessoa, volume I, Poemas de Fernando Pessoa: Quadras (ed. Luís Prista), Lisboa, 1997; Edição Crítica de Fernando Pessoa, volume V, Poemas Ingleses, tomo II (ed. João Dionísio), 1997; Edição Crítica de Fernando Pessoa, volume V, Poemas Ingleses, tomo III (ed. Marcus Angioni e Fernando Gomes), 1999. Edição Crítica de Fernando Pessoa, volume I, Poemas de Fernando Pessoa, 1934-1935, tomo V, (ed. Luís Prista), Lisboa, 2000.Correspondência: Cartas a Armando Cortes-Rodrigues (intr. e ed. Joel Serrão), Lisboa, 1944, reed. 1960; Cartas a João Gaspar Simões (editadas e prefaciadas pelo destinatário), Lisboa, 1957, reed. 1988; Cartas de Sá-Carneiro a Fernando Pessoa, 2 vols., Lisboa, 1958-59; Cartas de Amor de F. Pessoa, vol. I (org. e pref. Urbano Tavares Rodrigues), Lisboa, 1958; (org., posfác. e notas de D. Mourão-Ferreira, estabelecimento do texto e preâmbulo de Maria da Graça Queirós), 2 vols., Lisboa, Ática, 1978; Correspondência inédita de Mário de Sá-Carneiro a Fernando Pessoa (leitura, intr. e notas de Arnaldo Saraiva), Porto, 1980; Cartas de Amor de Ofélia a Fernando Pessoa (org. de Manuela Nogueira e Maria da Conceição Azevedo), Assírio e Alvim, 1996; Correspondência Inédita, (org. e notas Manuela Parreira da Silva, pref. Teresa Rita Lopes), Lisboa, 1996; Correspondência (1923-1935) (ed. Manuela Parreira da Silva), Lisboa, Assírio e Alvim, 1999; Correspondência (1902-1934) (ed. Manuela Parreira da Silva), Lisboa, 2000

Fernando Pessoa. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2009. [Consult. 2009-06-09]

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Festa do Livro do Funchal

Começou ontem a Festa do Livro do Funchal (35ª Feira do Livro do Funchal).

O tempo parece que começa a ajudar e a chamar-nos para a rua.

Aqui fica o programa deste ano.

21 de Maio de 2009
a 31 de Maio de 2009

35ª Feira do Livro do Funchal, uma organização da Câmara Municipal do Funchal, que traz ao Funchal escritores nacionais e internacionais, embora a aposta principal continue a ser a divulgação daquilo que se escreve na Madeira. Diversas actividades se associam a este evento, nomeadamente quanto a animação, a peça da Com.Tema CSI Funchal, no “Baltazar Dias”, assim como o Speakers Corner, espectáculo de rua encenado pelo Teatro Experimental do Funchal. Como habitualmente ocorrerá a Noite dos Poetas. Espaços infantis, sessões de autógrafos, workshops de manipulação e construção de fantoches e concertos de bandas e grupos musicais são outros tantos complementos de um certame que contará com a presença de 23 expositores, entre livrarias, editoras, alfarrabistas e instituições, e que quer atrair cada vez mais gente para os prazeres da leitura e dos livros.


Placa Central da Avenida Arriaga

Segunda a sexta das 13h00 às 21h00
Fins-de-semana das 13h00 às 22h00

In www.netmadeira.com

domingo, 26 de abril de 2009

Mário de Sá-Carneiro

No dia 26 de Abril de1916 morria em Paris, Mário de Sá-Carneiro.

Da Infopédia:

Poeta e ficcionista, Mário de Sá-Carneiro constitui, tal como Fernando Pessoa e Almada-Negreiros, um dos principais representantes do Modernismo português. Nasceu em Lisboa, a 19 de Maio de 1890, e morreu precocemente a 26 de Abril de 1916, também em Lisboa. Iniciou os seus estudos em Direito na cidade de Coimbra, tendo partido depois para Paris, em 1912, para cursar também Direito, estudos que abandonaria pouco depois por se ter deixado seduzir por uma vida desregrada e de boémia. De temperamento instável e inadaptado, dedicou-se, na capital francesa, à produção de grande parte da sua obra poética. A figura de Mário de Sá-Carneiro assume uma importância basilar para a compreensão do modo como o Modernismo português se foi formando com caracteres próprios na recepção das correntes de vanguarda europeias, processo de que a correspondência que estabeleceu com Fernando Pessoa dá um testemunho documental precioso e que culminaria com a publicação de Orpheu, em 1915. Os poemas que edita no primeiro número de Orpheu, destinados a Indícios de Oiro, são, a este título, significativos da sua adesão às estéticas paúlica e sensacionista, que na correspondência entre os dois grandes poetas fora gerada, glosando, então, em moldes muito devedores do simbolismo-decandentismo, a abjecção de um eu em conflito com um outro, reverso da sua frustração e insatisfação ("Eu não sou eu nem o outro, / Sou qualquer coisa de intermédio: / Pilar da ponte de tédio / Que vai de mim para o Outro,..."), ao mesmo tempo que a publicação de "Manucure", no segundo número de Orpheu, revela uma incursão por uma forma poética mais próxima da escrita da vanguarda futurista, no que contém de autonomização do significante. Já antes de Orpheu, a colaboração de Mário de Sá-Carneiro na revista Renascença (1914) - onde Fernando Pessoa publica Impressões de Crepúsculo -, com a edição de Além (apresentado como uma tradução portuguesa de certo Petrus Ivanovitch Zagoriansky), instituíra a sua experiência poética na charneira entre a herança simbolista e as tentativas paúlicas e interseccionistas. Mário de Sá-Carneiro constitui ainda um paradigma da prosa modernista portuguesa pela publicação das narrativas Céu em Fogo e A Confissão de Lúcio, construídas frequentemente a partir do estranhamento de um narrador insolitamente introduzido em situações onde o erotismo, o onirismo e o fantástico se associam aos temas obsessivos do desdobramento e autodestruição do eu. O seu suicídio, com 26 anos (em 1916, Paris), parecendo vir selar aquele sentimento de inadaptação à vida, de permanente incompletude, de narcísico auto-aviltamento e, sobretudo, de consciência dolorosa da irremediável cisão do eu, consubstanciada na dramática tensão entre um eu, vil e prosaico, e um outro, seu duplo ideal, que alimentaram tematicamente a obra, nimbou-o para a posteridade de uma aura de poeta maldito, que deixaria um forte ascendente sobre a poesia contemporânea de gerações posteriores à sua. Com efeito, a mensagem poética do autor de Indícios de Oiro ecoa postumamente na literatura presencista da geração de 50 e até surrealista, passando por nomes absolutamente diversos como Sebastião da Gama, Mário de Cesariny ou Alexandre O'Neill. Bibliografia: Princípio: Novelas Originais, Lisboa, 1912; A Confissão de Lúcio, Lisboa, 1914; Céu em Fogo, Lisboa, 1915; Cartas a Fernando Pessoa, Lisboa, 1958-59; Dispersão: 12 Poesias, Lisboa, 1914; Indícios de Oiro, Porto, 1937; Poesias, 1946; Poemas Completos, Lisboa, 1996

Mário de Sá-Carneiro. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2009. [Consult. 2009-04-26]

quinta-feira, 23 de abril de 2009

William Shakespeare

No dia 23 de Abril de 1564 nascia William Shakespeare.

Da Infopédia:

Poeta e dramaturgo inglês nascido em 1564, em Stratford-Upon-Avon, e falecido em 1616. O seu aniversário é comemorado a 23 de Abril e sabe-se que foi baptizado a 26 de Abril de 1564. Stratford-Upon-Avon era então uma próspera cidade mercantil, uma das mais importantes do condado de Warwickshire. O seu pai, John Shakespeare, era um comerciante bem sucedido e membro do conselho municipal. A mãe, Mary Arden, pertencia a uma das mais notáveis famílias de Warwickshire. Shakespeare frequentou o liceu de Stratford, onde os filhos dos comerciantes da região aprendiam Grego e Latim e recebiam uma educação apropriada à classe média a que pertenciam. São conhecidos poucos factos da vida de Shakespeare entre a altura em que deixou o liceu e o seu aparecimento em Londres como actor e dramaturgo por volta de 1599. Em 1582 casou com Anne Hathaway, oito anos mais velha do que ele, e o casal teve três filhos: Suzanna (nascida em 1583), e os gémeos Hamnet e Judith (nascidos em 1585). A primeira referência a Shakespeare como actor e dramaturgo encontra-se em A Groatsworth of Wit (1592), um folheto autobiográfico da autoria do dramaturgo londrino Robert Greene, onde o escritor é acusado de plágio. Nesta altura Shakespeare era já conhecido em Londres, embora não se saiba com exactidão a data do seu aparecimento na capital. Em virtude do encerramento dos teatros londrinos entre 1592-94, Shakespeare compôs nessa época dois poemas narrativos: Venus and Adonis (publicado em 1593) e The Rape of Lucrece (publicado em 1594). No Inverno de 1594 integrou a mais importante companhia de teatro isabelina, The Lord Chamberlain's Men, onde permaneceu até ao final da sua carreira. A companhia deveu à popularidade de Shakespeare o seu lugar privilegiado entre as restantes companhias de teatro até ao encerramento dos teatros pelo Parlamento inglês em 1642. Em 1598 foi inaugurado o Globe Theatre, o teatro da companhia a que Shakespeare se associara, construído pelo actor e empresário Richard Burbage no bairro de Southwark, na margem sul do Tamisa. Depois da ascensão ao trono de Jaime I (em 1603) a companhia The Lord Chamberlain's Men passou para a tutela real, e o seu nome foi alterado para The King's Men. A passagem de Shakespeare pelos palcos associa-se a breves desempenhos: Adam na peça As You Like It e o fantasma (Ghost) em Hamlet. Depois de ter comprado algumas propriedades em Strattford, Shakespeare retirou-se para a sua terra natal em 1610, mantendo todavia o contacto com Londres. O Globe Theatre foi destruído pelo fogo no dia 23 de Junho de 1613, durante uma representação da peça Henry VIII. Além de uma colecção de sonetos e de alguns poemas épicos, Shakespeare escreveu exclusivamente para o teatro. As suas 37 peças dividem-se geralmente em três categorias: comédias, dramas históricos e tragédias. Entre os dramas históricos, género que primeiro cultivou, destacam-se Richard III (Ricardo III), Richard II (Ricardo II) e Henry IV (Henrique IV). Entre as suas comédias contam-se Love's Labour's Lost, The Comedy of Errors, The Taming of the Shrew, a comédia de intenção séria The Merchant of Venice (O Mercador de Veneza), As You Like It (Como Quiserem) e A Midsummer Night's Dream (Um Sonho de Uma Noite de Verão). A tragédia não é uma forma que pertença exclusivamente a um determinado período na evolução da obra de Shakespeare. Sob influência de Marlowe, a forma de tragédia já se encontrava nas peças que dramatizavam episódios da História inglesa. Em Romeo and Juliet (Romeu e Julieta) e Julius Caesar (Júlio César) Shakespeare combinou a perspectiva histórica com uma interpretação trágica dos conflitos humanos. O período em que Shakespeare escreveu as suas grandes tragédias iniciou-se com Hamlet, escrita entre 1600-1602, a que se seguiram Othelo, Macbeth, King Lear, Anthony and Cleopatra e Coriolanus, todas elas compostas entre 1601 e 1608. Na última fase da carreira de Shakespeare situam-se as peças de tom mais ligeiro: Cymbeline, The Winter's Tale e The Thempest. Parte das obras de Shakespeare foram publicadas durante a vida do autor, por vezes em edições pirateadas, mas só em 1623 apareceu a edição "Fólio", compilada por John Heminges e Henry Condell, dois actores que tinham trabalhado com Shakespeare. No século XVIII as peças foram publicadas por Alexander Pope (em 1725 e 1728) e Samuel Johnson (em 1765), mas só com o Romantismo se compreendeu a profundidade e extensão do génio de Shakespeare. No século XX reforçou-se a tendência para considerar a obra de Shakespeare integrada nos contextos dramáticos que a suscitaram. Embora em muitos casos seja impossível datar precisamente as peças do autor, uma cronologia aproximada revela a evolução da sua obra: Antes de 1594: Henry VI; Richard III; Titus Andronicus; Love's Labour's Lost; The Two Gentlemen of Verona; The Comedy of Errors; The Taming of The Shrew. Entre 1594-1597: Romeo and Juliet; A Midsummer Night's Dream; Richard II; King John; The Merchant of Venice. Entre 1597-1600: Henry IV; Henry V; Much Ado About Nothing; Merry Wives of Windsor; As You Like It; Julius Caeser; Troilus and Cressida. Entre 1601-1608: Hamlet; Twelfth Night; Measure for Measure; Alls Well That Ends Well; Othello; King Lear; Macbeth; Timon of Athens; Anthony and Cleopatra; Coriolanus. Depois de 1608: Pericles; Cymbeline; The Winter's Tale; The Tempest; Henry VIII. Poemas (datas desconhecidas): Venus and Adonis; The Rape of Lucrece; Sonnets; The Phoenix and The Turtle.
William Shakespeare. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2009. [Consult. 2009-04-23]

terça-feira, 14 de abril de 2009

Simone de Beauvoir

No dia 14 de Abril de 1986 morria Simone de Baeuvoir.

Da Infopédia:

Escritora francesa, nascida em 1908 e falecida em 1986, foi a companheira de Jean-Paul Sartre e uma feminista convicta. Em 1947 publica o seu primeiro romance, L'Invitée (A Convidada ), seguindo-se os ensaios Pyrrhus et Cinéas (1945), Pour une morale de l'ambiguité (1947) e le Deuxiéme Sexe (1948). Ao romance Les Mandarins (Os Mandarins , 1954) seria atribuído o Prémio Goncourt. Escreveu ainda obras de carácter memorialista (Les Mémoires d'une jeune fille rangée - Memórias de Uma Menina Bem Comportada , 1958; La force de l'Âge - A Força da Idade , 1960; La force des choses - A Força das Coisas , 1963).

Simone de Beauvoir. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2009. [Consult. 2009-04-14]

terça-feira, 7 de abril de 2009

Almada-Negreiros

No dia 7 de Abril de 1893, nascia em S- Tomá e Príncipe, Almada-Negreiros.

Da Infopédia:

Artista e escritor polifacetado, José de Almada-Negreiros nasceu a 7 de Abril de 1893, em S. Tomé e Príncipe, e morreu a 15 de Junho de 1970, em Lisboa. "Pela sua obra plástica, que o classifica entre os primeiros valores da pintura moderna; pela sua obra literária, que vibra de uma igual e poderosa originalidade; pela sua acção pessoal através de artigos e conferências - Almada-Negreiros, pintor, desenhador, vitralista, poeta, romancista, ensaísta, crítico de arte, conferencista, dramaturgo, foi, pode dizer-se que desde 1910, uma das mais notáveis figuras da cultura portuguesa e uma das que mais decisivamente contribuíram para a criação, prestígio e triunfo de uma mentalidade moderna entre nós". Assim apresenta Jorge de Sena, no primeiro volume das Líricas Portuguesas, o homem que, com Fernando Pessoa e Mário de Sá-Carneiro, mais marcou plástica e literariamente a evolução da cultura contemporânea portuguesa Órfão desde tenra idade, viajou para Lisboa com sete anos para casa de uma tia materna. Frequentou os estudos primários e liceais em Lisboa, no Colégio Jesuítico de Campolide, Liceu de Coimbra e Escola Nacional de Lisboa. Entre 1919 e 1920, seguiu estudos de pintura em Paris, aí trabalhando como bailarino de cabaré e empregado numa fábrica de velas, redigindo na capital francesa muitos dos textos e grafismos que viriam a ser célebres, como o "auto-retrato". Viveu entre 1927 e 1932 em Espanha, onde realizou várias encomendas para particulares e públicos. Embora já tivesse colaborado com textos e grafismos em algumas publicações, como Portugal Artístico ou Ilustração Portuguesa, e tivesse participado com êxito no 1.º Salão do Grupo dos Humoristas Portugueses, é a sua colaboração no número 1 de Orpheu, em 1915, onde publica o texto ainda incompletamente revelador Frizos (A Cena do Ódio, destinada a Orpheu 3, só viria a ser publicada em Contemporânea), que lhe dará a base de lançamento para uma postura iconoclasta (o Manifesto Anti-Dantas, apresentado no mesmo ano, é modelar neste ataque generalizado a uma intelectualidade convencional, burguesa e passadista), tornando-se um dos principais representantes da vertente vanguardista do movimento modernista. Em 1917, participa no projecto Portugal Futurista, publicando nesse órgão do "Comité Futurista de Lisboa", que co-fundara, no mesmo ano, com Santa-Rita, o Ultimatum Futurista às Gerações Portuguesas do Século XX, texto que já tinha sido objecto de performance pública, e os os textos simultaneístas Mima Fatáxa e Saltimbancos. Desenvolve paralelamente uma intensa actividade artística, tendo colaborado, com grafismos e com criação literária, em várias publicações, como Diário de Lisboa, Athena, Presença, Revista Portuguesa, Cadernos de Poesia, Panorama, Atlântico, Seara Nova e tendo fundado outras, como os "Cadernos de Almada-Negreiros", SW, onde, em 1935, no primeiro número, tenta equacionar, com o máximo de clareza, as relações entre civilização e cultura, entre arte e política, entre indivíduo e colectividade, aí vindo também a publicar um dos seus vários textos dramáticos, SOS, que, com Deseja-se Mulher, deveria integrar o projecto, originalmente escrito em castelhano, Tragédia da Unidade. Uma análise da obra de Almada-Negreiros não pode deixar de considerar a complementaridade que nela assumem as várias formas de expressão artística, nem de verificar que, independentemente do suporte escolhido (argumento e coreografia de bailados, exposições, happening, produções publicitárias, cinema, jornais manuscritos, telas, frescos, mosaicos, vitrais, painéis de azulejos, palestras radiofónicas, cenários e figurinos, cartões de tapeçaria, etc.), toda a realização artística de Almada se distingue por certos traços comuns, não necessariamente antitéticos, como a graciosidade e a irreverência, a ingenuidade e a inteligência, o populismo e o esteticismo, a abstracção e o concreto. Na tentativa de encontrar a arte poética subjacente à sua actividade exclusivamente literária, Celina Silva considera que a "performance constitui o universal maior de toda a produção" de Almada-Negreiros: "evidenciando-se no literário através da adopção de uma concepção do verbal que é encarada enquanto acção", essa performance verbal que "tanto é típica da postura vanguardista quanto se revela reinstauração do verbal nos seus primórdios [...] implica um exercício da palavra-acção radicada numa postura geradora de uma ficção do eu", ao mesmo tempo que "A espontaneidade e o cunho comunicativo radicam numa ambição totalizante, eivada de optimismo e euforia, que, pela abrangência de que se reveste, aponta para um projecto de alargada recepção, embora projectado por uma elite" (cf. SILVA, Celina - A Busca de Uma Poética da Ingenuidade ou a (Re)Invenção da Utopia (Reflexão Sistematizante acerca da Produção Literária de José de Almada-Negreiros, Porto, Faculdade de Letras, 1992, pp. XIII, XIV). A "poética da ingenuidade" explanada por Celina Silva, anulando qualquer descontinuidade entre a forma linguística do poema, do drama, do texto de intervenção, e a expressão do ensaio, da teoria poética ou filosófica, encontraria numa "sofistificação da simplicidade" (cf. Sena, Jorge de in Obras Completas de Almada Negreiros, vol. I, Lisboa, INCM, 1985, p. 17) o equilíbrio entre poesia e conhecimento, num autor para quem "A Poesia "conhece" e não "sabe" (Prefácio ao Livro de Qualquer Poeta).

Almada-Negreiros. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2009. [Consult. 2009-04-07]

quinta-feira, 12 de março de 2009

Raul Brandão

No dia 12 de Março de1867 nascia no Porto, Raul Brandão.

Da Infopédia:

Prosador, ficcionista, dramaturgo e pintor, oriundo da Foz do Douro, no Porto, nasceu a 12 de Março de 1867, mas viveu parte da sua vida em Lisboa, onde veio a falecer a 5 de Dezembro de 1930. Descendente de homens do mar, a sua infância foi marcada pela paisagem física e humana da zona piscatória da Foz do Douro. Ainda no Porto, conviveu com os jovens escritores António de Oliveira, António Nobre e Justino de Montalvão com quem, em 1892, subscreveu o manifesto Nefelibatas. Iniciou a sua carreira literária em 1890 com Impressões e Paisagens. Frequentou o curso superior de Letras, mas ingressou na carreira militar. Colocado em Guimarães, retirou-se para a Casa do Alto, quinta próxima de Guimarães, local de produção da maior parte da sua obra literária, alternando o isolamento nortenho com estadias em Lisboa, onde desenvolveu paralelamente uma actividade jornalística, tendo colaborado em publicações como o Imparcial, Correio da Noite, Correio da Manhã e O Dia. Nestes últimos, é constante o seu debruçar sobre o terrível drama da condição humana, perpassado pelo sofrimento, a angústia, o mistério e a morte. São também constantes as referências aos ofendidos e humilhados, face visível da expressão humana que é um dos motivos mais regulares na sua obra. Ao longo de uma obra multifacetada, Raul Brandão viria a ser um dos escritores que, a par de Fernando Pessoa, mais influíram na evolução da literatura portuguesa do século XX, sendo eleito figura tutelar não apenas de gerações suas contemporâneas, como o grupo reunido em torno de Seara Nova, ou o chamado grupo da Biblioteca Nacional (Jaime Cortesão, Raul Proença, Aquilino Ribeiro, Câmara Reis), como de gerações posteriores para as quais a redescoberta da obra de Raul Brandão serviu de esteiro para o reformular de estruturas novelísticas tradicionais. Esse processo de ruptura que se enceta com A Farsa, romance que dá a voz à personagem Candidinha, um ser marginalizado pela sociedade em quem, sob a farsa da submissão, se condensa um discurso de ódio, de inveja e de maldade, culminaria em obras-primas como Os Pobres e Húmus. Dificilmente qualificáveis como romances, estas duas obras, aproximando-se de caracteres da escrita poética e filosófica, colocam em causa os modos de representação do real para se afirmar como uma meditação sobre a metafísica da dor e sobre o absurdo da condição humana, dentro da qual as coordenadas de tempo, espaço, intriga ou personagens, apenas esboçadas, servem de cenário universal e abstracto para o drama secular da luta do homem entre o sonho e a desgraça. Conjugando a influência de Dostoievski, com o simbolismo e com um sentido de modernismo, registado em processos como a fragmentação do eu [nas duas obras acima enunciadas, o eu tenta opor-se à voz de um alter-ego, o filósofo Gabiru, cujo discurso, também na primeira pessoa, é esboçado nos "papéis do Gabiru" (Húmus) ou na "filosofia do Gabiru" (Os Pobres)], Raul Brandão inaugura uma forma de escrita romanesca que, rompendo com a linearidade do tempo e da sintaxe narrativa, se desenvolve de forma circular em torno de símbolos e palavras-chave como árvore, sonho, dor, espanto, morte. Entre a redacção e a publicação de Os Pobres (1906) e Húmus (1917), Raul Brandão publicou os romances históricos El-Rei Junot (1912), A Conspiração de 1817 (1914, reeditado, em 1917, com o título: 1817 - A Conspiração de Gomes Freire) e O Cerco do Porto, pelo coronel Owen (1915), obras que, tendo por objecto as convulsões do início do século XIX, se até certo ponto divergem da obra ficcional do autor pela exigência de rigor no tratamento da matéria histórica, revelam também uma tendência para envolver os conteúdos de um sentido universalizante anunciado desde a introdução a El-Rei Junot, quando afirma, numa reflexão metafísica que poderia ser colocada na boca do Gabiru, que "A história é dor, a verdadeira história é a dos gritos. [...] O Homem tem atrás de si uma infindável cadeia de mortos a impeli-lo, e todos os gritos que se soltaram no mundo desde tempos imemoriais se lhe repercutem na alma. - É essa a história: o que sofreste, o que sonhaste há milhares de anos, tacteou, veio, confundido no mistério, explodir nesta boca amarga, neste gesto de cólera...". Em conexão ainda com a obra de ficcionista, Raul Brandão publicou três volumes de Memórias (vol. I, 1923; vol. II, 1925; vol. III, 1933) onde evoca episódios, figuras, boatos, chistes políticos e sociais; e apresenta um testemunho directo sobre acontecimentos históricos. No prefácio ao primeiro desses volumes memorialísticos, a comprovar que as fronteiras entre os vários géneros cultivados por Raul Brandão têm contornos diluídos, a voz do autor torna-se, pela mesma angústia metafísica, indistinta da das suas personagens ficcionais, ao afirmar que "O Homem é tanto melhor quanto maior quinhão de sonho lhe coube em sorte. De dor também", ao constatar a inutilidade da vida ("Agarro-me a um sonho; desfaz-se-me nas mãos; agarro-me a uma mentira e sempre a mesma voz me repete: - É inútil! Inútil!"), ao concluir que " Deus, a vida, os grandes problemas, não são os filósofos que os resolvem, são os pobres vivendo. O resto é engenho e mais nada. As coisas belas reduzem-se a meia dúzia: o tecto que me cobre, o lume que me aquece, o pão que como, a estopa e a luz. / Detesto a acção. A acção mete-me medo. De dia podo as minhas árvores, à noite, sonho. Sinto Deus - toco-o. Deus é muito mais simples do que imaginas. Rodeia-me - não o sei explicar. Terra, mortos, uma poeira de mortos que se ergue em tempestades, e esta mão que me prende e me sustenta e que tanta força tem... [...] Teimo: há uma acção interior, a dos mortos, há uma acção exterior, a da alma. A inteligência é exterior e universal e faz-nos vibrar a todos duma maneira diferente. Destas duas acções resulta o conflito trágico da vida. O homem agita-se, debate-se, declama, imaginando que constrói e se impõe - mas é impelido pela alma universal, na meia dúzia de coisas essenciais à vida, ou obedece apenas ao impulso incessante dos mortos." (Memórias, vol. I, Lisboa, Perspectivas e Realidades, s/d, p. 14). Raul Brandão é ainda autor de várias peças de teatro, onde temática ou formalmente subverte as expectativas da recepção dramática do início do século XIX, em peças como O Gebo e a Sombra, O Rei Imaginário, O Doido e a Morte, Eu Sou um Homem de Bem ou O Avejão. Bibliografia: Impressões e Paisagens, Porto, 1880; História Dum Palhaço: A Vida e o Diário de K. Maurício, Lisboa 1986; A Farsa, Lisboa, 1903; Os Pobres, Lisboa, 1906; Húmus, 1917; A Morte do Palhaço e o Mistério da Árvore, Lisboa, 1926; O Pobre de Pedir, Lisboa, 1931; O Gebo e a Sombra, O rei Imaginário, O Doido e a Morte, Porto, 1923; Jesus Cristo em Lisboa, Lisboa, 1927; O Avejão, Lisboa, 1929; Os Pescadores, Lisboa, 1923; Ilhas Desconhecidas, Lisboa, 1926; Portugal Pequenino, Lisboa, 1930; Correspondência Completa entre Raul Brandão e Teixeira de Pascoaes, Lisboa, 1995; El-Rei Junot, Lisboa, 1912; A Conspiração de 1817, Porto, 1914; Memórias, 1.º vol., Porto, 1919; Memórias, 2.º vol., Lisboa, 1925; Memórias - Vale de Josafat, 3.º vol., Lisboa, 1933

Raul Brandão. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2009. [Consult. 2009-03-12]