sábado, 26 de julho de 2008

Ao Lado da Música (II) - Miles Davis - Uma Lenda do Jazz

No seu livro "Os Caminhos do Jazz", Guido Boffi afirma - "Não existe, no mundo do Jazz, um outro músico que, de modo análogo a Miles Davis, tenha sido capaz de atravessar com a sua trompete muitos movimentos fervilhantes que nasciam progressivamente na modera cena musical jazzistíca... Davis foi até ao fim um artista sensibilíssimo na apresentação das novas tendências e das mudanças nas novas formas de expressão".

Começamos, assim, no Lado a Lado com a Música a nossa deambulação pelo mundo do Jazz.

Miles Davis nasceu nos Estado Unidos da América em Alton - Illinois em 26 de Maio de 1926. Cedo começou o seu interesse pela música. A mãe pretendia que estudasse piano, mas uma trompete oferecida pelo pai despertou mais interesse a Miles. Era o início.

Depois de concluir os seus estudos de iniciação musical e de ter pertencido a algumas bandas no Illinois, Miles muda-se para Nova Iorque aos 19 anos, com uma bolsa de estudo na Juilliard Scholl of Music. Cedo abandona os estudos e passa a pertencer ao quinteto liderado por Charlie Parker. Surguem a primeiras gravações integradas no estilo bebop.

Em 1948 surgem os primeiros contactos entre Miles Davis e o pianista Gil Evans, que nos seus arranjos utilizava instrumentos que na altura não faziam parte das bandas de jazz como a tuba e o corne francês. Surge assim, o que na altura foi considerando, um insólito noneto (tuba, corne francês, trombone, trompete, sax contralto e sax barítono, piano, contrabaixo e bateria), liderado por Miles e que permite novas e mais leves sonoridades afastando-se, assim, do bebop. A esta nova corrente chamou-se cool jazz. O noneto designado por "Tuba Band" é considerado por muitos críticos umas das mais fascinantes bandas de jazz de todos os tempos.

Após uma fase obscura e de repensamento, Miles funda em 1955 um quinteto destinado a entrar na história do jazz. O Miles Davis Quintet formado para além do próprio Miles Davis como trompetista, por John Coltrane no sax tenor, Red Garland no baixo, Paul Chambers no contrabaixo e Philly Jo Jones na bateria, adopta um estilo próximo do bebop, mas com uma influência do blues e do gospel (hard bop), introduzida principalmente pela presença do saxofone. O quinteto é dissolvido em 1957, uma vez que Miles se opunha ao consumo de droga por parte de alguns dos seus participantes.

Em 1957 grava, improvisando, a banda sonora do filme Fim de Semana no Ascensor de Louis Malle, obra que contém antecipações para a viragem de Miles para a modalidade.
Para dar voz a este conceito derivado da música antiga grega e da eclesiástica medieval, reúne de novo em 1958 Red Garland, Paul Chambers Philly Jo Jones e John Coltrane a quem junta no sax alto Julian "Cannonball" Adderley e no piano Bill Evans. Grava nesta altura Kind of Blue considerado por muitos o melhor disco de Miles Davis e um dos álbuns mais belos e importantes de toda a história do jazz.

Em 1963 Miles forma um novo quinteto mas abandonado em parte pelo público ligou-se ao rock e introduziu instrumentos eléctricos no conjunto (1969). Reune Wayne Shorter (sax soprano), Cick Corea e Herbie Hancock (pianos eléctricos) Joe Zawinul (órgão), John McLaughlin (guitarra), Dave Holland (contrabaixo) e Tony Williams(bateria). Esta ligação ao rock foi criticada por muitos apreciadores de jazz.

Até ao inicio dos anos 90 Miles continua a gravar e a viajar por todo o mundo em inúmeros concertos, mudando várias vezes de editora e continuando a ser criticado por muitos por se afastar do jazz. No entanto, mesmo nesta fase, a sonoridade característica da trompete de Miles foi sempre mantida.

A 28 de Setembro de 1991, Miles morre, deixando um legado enorme de gravações em disco e vídeo.


O álbum Kind of Blue, editado pela Columbia em 1959 e reeditado inúmeras vezes é, talvez, o trabalho mais significativo de Miles Davis.

Com uma linha melódica invejável num estilo próximo do jazz modal, este álbum faz, certamente parte da colecção discográfica de qualquer apreciador de jazz. Para os menos aficionados ou para os que são ainda apenas curiosos, esta é uma boa obra para iniciação.

Kind of Blue surge depois de Miles ter dissolvido o famoso Miles Davis Quintet que se celebrizou entre 1955 e 1957.
No entanto, em 1959 Miles volta a reunir alguns elementos do quinteto, nomeadamente no caso do álbum Kind of Blue, Paul Chambers e Jonh Coltrane, a quem junta Julian "Cannonball" Adderley, James Cobb e Wynton Kelly e Bill Evens (pianista branco).

Assim, Kind of Blue conta com as interpretações de:

Miles Davis - Trompete;
Julian "Cannonball" Adderley - Sax Alto
John Coltrane - Sax Tenor
Wynton Kelly - Piano (Faixa 2)
Bill Evans - Piano
Paul Chambers - Contrabaixo
Jimmy Cobb - Bateria

Fazem parte do álbuns os seguinte temas, todos compostos por Miles Davis:

So What
Freddie Freeloader
Blue in Green
Al Blues
Flamengo Sketches

Kind of Blue é um dos álbuns de jazz mais vendidos de sempre, se não o mais vendido. Reúne nos 5 temas apresentados toda a magia e arte de Males Davis.



A Legacy lançou em 2001 o DVD intitulado "The Miles Davis Story". O DVD baseia-se num documentário produzido e realizado por Mike Dibb para a "Channel 4 television".

Para os interessados na vida e obra de Miles Davis, este documentário é essencial. As várias fases da vida e da carreira de Miles são aqui retratadas de forma pormenorizada, como base em entrevistas feitas as familiares, amigos, produtores e grandes interpretes do jazz que conheceram e tocaram com Miles.

Conjuntamente com as as entrevistas são apresentados pequenos excertos em vídeo de gravações em estúdio e de concertos. Infelizmente os excertos apresentados são de muito curta duração e frequentemente interrompidos pelas entrevistas. Este facto, pode não ser importante para os grandes apreciadores de jazz e de Miles, que certamente possuem gravações em disco ou DVD dos concertos ou gravações de estúdio apresentados, mas para os menos conhecedores seria certamente mais interessante haver excertos de maior duração.

Do documentário fazem parte, entre outros, entrevistas com:

Miles Davis
Jimmy Cobb - Baterista
Shirley Horne - Cantora
Frances Miles - 1ª mulher
Ian Carr - Biografo de Miles Davis
Gil Evans
Bob Weinstock - Prestige Records
George Avakian - Columbia Records


Miles Davis - So What foi lançado pela editora Salt Peanuts e faz parte de uma colecção designada por "Modern Jazz on DVD".

O DVD contem dois conjuntos de temas.

O primeiro conjunto, gravado a 2 de Abril de 1959 inclui:

So What - (Miles Davis)
The Duke - (Dave Burbeck)
Blues for Pablo (Gil Evans)
New Rhumba (Ahmad Jamal)

Miles é neste caso acompanhado por:

John Coltrane - sax tenor
Wynton Kelly - piano
Paul Chambers - contrabaixo
Jimmy Cobb - Bateria
Gil Evans Orquestra

De notar que esta gravação foi feita exactamente no mesmo ano em que foi gravado o álbum Kind of Blue, na altura em que Miles volta a reunir alguns dos membros do famoso Miles Davis Quintet, desfeito uns anos antes.

O segundo conjunto de temas, gravado em Novembro de 1967, mostra Miles já noutra fase da sua carreira, mas ainda antes da sua ligação ao rock. Acompanham Miles Davis:

Wayne Shorter - sax tenor
Herbie Hancock - piano
Ron Carter - contrabaixo
Tommy Williams - Bateria

São interpretados os seguintes temas:

Footprints (Wayne Shorter)
Walkin' (Richard Carpenter)
Gingerbread Boy (Jimmy Health)


A captação de imagem foi feita a preto e branco. A qualidade do som e da imagem é bastante aceitável, tendo sido a captação de som feita em mono.


Publicado no Ao Lado da Música a 8/1/2008

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