sábado, 15 de novembro de 2008

Ao Lado da Música (XVIII) - Marilyn Horne

Marilyn Horne nasceu nos Estados Unidos da América em Bradford (Pennsylvania) a 16 de Janeiro de 1934. Desde muito cedo na sua vida foi influenciada pelo pai a prosseguir o seu sonho de se tornar cantora de ópera. Aliás, o pai, até morrer, teve sempre um papel bastante importante na carreira da cantora.

Aos treze anos, depois da família se ter mudado para Long Beach na Califónia, integra o Los Angeles Concert Youth Chorus, onde sempre teve um papel de destaque como Soprano.

Mais tarde estuda canto com William Vennard na University of Southern California em Los Angeles onde assiste também às Master Classes de Lotte Lehmann.

Embora tenha iniciado os seus estudos como Soprano, cedo os seus professores compreenderam que as suas características vocais se adequavam mais a um registo de Mezzo-soprano.

Embora, caracterizada como Mezzo-soprano, isto é, uma voz mais encorpada nos registos médio e grave que a do Soprano, mas com um registo agudo praticamente igual, a voz de Marilyn Horne é bastante mais que isso. O seu registo grave, bastante poderoso, leva-nos muita vezes a pensar a sua voz como Contralto, a voz feminina de registo mais grave. Outra característica importante da voz da cantora é a sua agilidade em qualquer dos registos. A voz, com uma extensão rara de mais de três oitavas, é capaz de executar passagens extremamente rápidas, ou seja, Marilyn Horne deve ser considerada um Mezzo-soprano de Coloratura, mas com uma potência muito apreciável, característica rara na maioria deste tipo de Mezzo-sopranos.

A cantora debutou na ópera aos vinte anos de idade (1954) no papel de Hata na ópera The Bartered Bride de Smetana na ópera de Los Angeles. Ainda nesse ano deu voz a Carmen de Bizet em versão de filme, papel que foi interpretado pela actriz Carmen Jones.

Depois da morte de seu pai, em 1957, Marilyn Horne parte para a alemanha, onde assina contrato com a companhia de ópera de Gelsenkirchen e onde se mantém durante 3 anos, interpretando papeis de soprano nomeadamente, Mimi (La Bohème - Puccini), Guilietta (Tales of Hoffmann - Offenbach) e Amélia (Simon Boccanegra - Verdi). Destaca-se nesta altura a sua interpretação de Marie na ópera Wozzeck do compositor austríaco Alban Berg. Os aplausos dos críticos a esta interpretação (que a cantora nem queria fazer), valeram-lhe o regresso aos Estados Unidos a convite da ópera de S. Francisco. A cantora deixa a Alemanha em 1960.

A sua interpretação de Marie na ópera Wozzeck é amplamente aclamada pelo público e pela crítica nos Estados Unidos e Marilyn Horne passa a ser conhecida internacionalmente.

Em 1961, a cantora aparece pela primeira vez acompanhada pelo soprano Joan Sutherland, com quem viria durante a sua carreira a interpretar inúmeras óperas. Aliás, Joan Sutherland e Marilyn Horne ficarão para a história como duas das vozes que mais se completam. No ano de 1961 Horne interpreta a personagem de Agnese (Mezzo-soprano) da ópera Beatrice di Tenda de Bellini com Joan Sutherland como Beatrice.

Depois do êxito no papeis de Marie e Agnese, a cantora estreia-se nos mais importantes palcos operáticos do mundo. Salientam-se as suas interpretações com Joan Sutherland nas óperas Norma e Semiramide de Bellini e Rossini, respectivamente.

A cantora é por muito críticos considerada a melhor interprete dos papeis de Rossini para Mezzo-soprano, com destaque para Rosina do Barbeiro de Sevilha, Falliero da ópera Bianca e Falliero (papel para contralto), Isabella de L'italiana In Algeri, Arsace da ópera Semiramide, Tancredi da ópera homónima e Angelina de La Cenerentola.

Importa também referir a interpretação de Rinaldo personagem da ópera homónima de Handel, que a cantora interpretou no Metropolitan de Nova Iorque e que nunca aí tinha sido interpretada neste palco operático.

Marilyn Horne retirou-se dos palcos em 1999 com um recital no Chicago Symphony Center. Tem hoje uma fundação com o seu nome que ajuda a preservar a arte dos recitais vocais e que se dedica também ao ensino.

A cantora ficará na história como um dos melhores Mezzo-sopranos de sempre.


The Spectacular Voice of Marilyn Horne foi lançado pela Decca em 1998 com reedição posterior integrada no conjunto de 11 CD's intitulado Marilyn Horne - The Complete Decca Records em Março de 2008.

As capacidades vocais da cantora para interpretação de várias árias de Rossini para Mezzo-soprano e Contralto são claramente evidenciadas neste álbum. A agilidade e potência vocais com que Marilyn Horne interpreta Rossini fazem deste trabalho uma obra essencial para os apreciadores do Bel canto iltaliano.

Fazem parte do CD os seguintes temas:

Bel raggio lusinghier - Semiramide
Cruda Sorte! - L'italiana in Algeri
Di tanti palpiti - Tancredi
Nacqui all'affanno...Non più mesta - La Cenerentola
Mura felici - La donna del lago
Tanti affetti - La dona del lago
L'ora fatal s'apressa... Guisto ciel! - L'assedio di Corinto
Avanziam... Non temer, d'un basso affetto... I destini tradir ogni speme!... Signor, che tutto puoi... Sei tu che stendi, o dio - Lássedio di Corinto

Embora com edição de 1998, ainda é relativamente fácil encontrar este álbum nas discotecas ou em lojas on-line.

Para uma visão geral da carreira de Horne, o conjunto de 11 CD's The Complete Decca Records é uma referência.

Lançado pela Deutsche Grammophon no final de 2006 este duplo DVD apresenta-nos um récita da ópera L'italiana in Algeri ocorrida no Metropolitan de Nova Iorque a 11 de Janeiro de 1986.

L'italiana in Algeri é uma ópera cómica de Gioachino Rossini com libretto italiano em dois actos de Angelo Anelli e estreada no ano de 1813 no Teatro de San Benedetto de Veneza.

Espontânea e desenvolta, a comédia distingue-se pelo argumento delirante, no qual sobressai a agilidade das peripécias e o hábil desenho das personagens, enquadrados por um ambiente oriental.

Sinopse

Elvira, mulher de Mustafà, Rei de Argélia, confidencia tristemente à sua escrava Zulma que o marido já não a ama. Quando Mustafà entra, acompanhado por Haly, capitão dos corsários, Elvira tenta falar-lhe, mas o Rei ordena-lhe que se retire para os seus aposentos com Zulma e os eunucos. Para se ver livre dela, resolve dá-la em casamento ao seu escravo italiano, Lindoro, sem atender às razões de Haly, acaba por ordenar a este que lhe arranje uma italiana, daquelas que tanto arreliam os seus apaixonados, farto que estava de mulheres dóceis e modestas. Concede-lhe seis dias para o conseguir ou espera-o a morte.

Lindoro, que recorda Isabella, a sua noiva que ficara em Itália, não se sente nada entusiasmado com a proposta de Mustafà e tenta escapar à vontade de Rei, mas este, entre lisonjas e ameaças, obriga-o a segui-lo para admirar a mulher que decidira dar-lhe por esposa.

Entretanto, um navio italiano naufraga na costa e Haly acorre para o pilhar e fazer prisioneiros. Entre estes encontram-se Isabella, vinda por mar à procura de Lindoro, e Taddeo, que a acompanha como seu admirador e que ela, para o salvar da morte, faz passar por seu tio. Haly anuncia à bela italiana que será apresentada ao Rei e que se tornará a rainha do seu harém. Taddeo fica horrorizado, mas Isabella assegura-lhe que com a sua astúcia feminina e desenvoltura saberá fazer frente àquele terrível Mustafà.

Numa sala do palácio, o Rei informa Lindoro que um navio veneziano acaba de pagar o seu resgate e que se o jovem deseja voltar à pátria, se apresse a levar Elvira e que, além disso, dar-lhe-à tanto ouro que ficará riquíssimo. Com notícia que lhe traz Haly que entre os prisioneiros do navio naufragado se encontra uma formosíssima italiana, Mustafà, radiante, afasta-se com o seu séquito para ir recebê-la dignamente, enquanto Lindoro procura convencer Elvira a esquecer o marido ingrato e a segui-lo para Itália, onde poderá ter os amantes que quiser.

Isabella é apresentada a Mustafà, que de imediato se apaixona. Ela finge corresponder a fim de tirar as maiores vantagens da situação. Entretanto entram Lindoro e Elvira, para se despedirem do Rei. O encontro imprevisto faz inflamar ainda mais o coração dos dois jovens. Mas Isabella não perde a cabeça e, ao saber por Mustafà que a sua ex-mulher e o seu escravo vão partir para Itália, simula uma grande indignação. Se Mustafà quer ter uma atitude digna, que fique com Elvira e que ponha o escravo Lindoro ao seu serviço. Mustafà, fascinado por Isabella, cede à sua vontade provocando o espanto geral.

Elvira, Zulma, Haly e um grupo de eunucos comentam a condescendência de Mustafà e a esperteza de Isabella, que poderá ser útil à causa de Elvira. Mustafà, entrando a seguir, afirma que saberá conquistar a bela italiana, excitando a sua ambição. Na sala deserta, encontram-se Isabella e Lindoro, o qual assegura à sua bem amada que nunca tencionara atraiçoá-la e que a projectada viagem a Itália com Elvira era apenas um estratagema para poder voltar para junto dela.

Isabella arquitecta então um plano com Lindoro para abandonarem a Argélia e fugirem juntos no mesmo barco para Veneza. saem os dois e entra Mustafà que, cada vez mais apaixonado por Isabella, decide atribuir a Taddeo, que naturalmente julga seu tio, o título de Kaimakan. Em troca, este deverá ajudá-lo a conquistar Isabella. Tadeo, obrigado a escolher entre a tortura e a tarefa humilhante de fazer de alcoviteiro, aceita o título prestigioso, respeitado por todos.

Num maravilhoso aposento junto ao mar, Isabella veste-se à turca. Conversando com Elvira, ensina-lhe a maneira mais conveniente para conservar um marido. É necessário dominar os homens e não ser dominada. Mustafà, à parte, ordena a Lindoro que conduza Isabella à sua presença e Taddeo que lhe faça companhia e se retire assim que ele fizer sinal, espirrando. Isabella entra, murmurando palavras ternas a Mustafà, que espirra várias vezes, mas Taddeo finge não ouvir. Então Isabella, divertida com a situação, manda servir o café em três chávenas, uma das quais destinada a Elvira. Mustafà mostra-se muito aborrecido com a presença de Elvira, mas Isabella recorda-lhe a sua promessa de ser gentil com a esposa e o Rei, obrigado a condescender para não irritar a bela e prepotente italiana, começa a suspeitar que está ser alvo de troça.

Enquanto Haly louva a inteligência e a astúcia das mulheres italianas, Lindoro e Taddeo (que não descobriu ainda que o escravo é o noivo de Isabella) asseguram a Mustafà que Isabella está apaixonadíssima por ele e que o quer nomear, com grande pompa e solenidade, o seu Pappataci (Come e cala). O Rei fica muito lisonjeado, mesmo sem saber o que significa aquele título. Os dois explicam-lhe que se trata de um título muito considerado em Itália reservado aos conquistadores irresistíveis. Um verdadeiro Pappataci deve pensar somente em comer, beber, dormir e divertir-se.

Isabella, que obteve do Rei os escravos italianos para preparar a cerimónia, disfarça alguns de Pappataci. Encarrega outros de se manterem no barco prontos para a fuga e informa todos da partida que pretende pregar a Mustafà. Taddeo ajuda-a, convencido naturalmente de que ela deseja enganar Mustafà por amor dele.

Inicia-se a cerimónia. Mustafà, vestindo solenemente de Pappataci e lisonjeado por se encontrar no meio de tantos italianos com o mesmo título, promete observar escrupulosamente o regulamento da ordem. Deve jurar não ver, não ouvir e não se intrometer, comer e gozar apenas. Fingem depois pô-lo à prova. Isabella e Lindoro trocam frases amorosas e ele, obedecendo às ordens, continua a comer sem se preocupar com o que acontece. Quando um navio acosta ao palácio, Lindoro, Isabella e os escravos italianos entram nele à pressa, enquanto Taddeo apercebendo-se finalmente que Lindoro é o noivo da mulher que serviu com tanta devoção, procura despertar Mustafà para que ele impeça a fuga dos dois apaixonados. Mas Mustafà mantém-se fiel ao juramento dos Pappataci. De novo, Taddeo tem de escolher entre a tortura de ficar, e a humilhação de auxiliar os objectivos de Lindoro e Isabella; escolhe a humilhação e embarca com os outros.

Acorrem entretanto Elvira, Zulmira e Haly com os eunucos completamente embriagados (obra também de Isabella), aos quais Mustafà, dando-se conta de que foi enganado, ordena inutilmente que prendam os fugitivos, que se afastam já no barco. "Mulheres italianas nunca mais!", afirma Mustafá, resignado. Pedindo perdão, volta para junto da sua dócil esposa Elvira.

Elenco

Mustafà - Paolo Montarsolo
Elvira - Myra Merrit
Zulma - Diane Kesling
Haly - Spiro Malas
Lindoro - Douglas Ahlstedt
Usabella - Marilyn Horne
Taddeo - Allan Monk

Coro e Orquestra do Metropolitan sob a direcção de James Levine.

Marylin Horne conquista mais uma vez o publico do Metropolitan com a sua interpretação de Isabella. Aliás Horne apresentava-se no Met regularmente nesta ópera, aliás das 46 vezes que a ópera tinha sido levado à cena, Horne foi a protagonista de 36.

Publicado no Ao Lado da Música a 13/05/2008

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