No dia 6 de Novembro de 1919 nascia no Porto Sophia de Mello Breyner Andersen.
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Poetisa e ficcionista, nascida em 1919, natural do Porto, frequentou o curso de Filologia Clássica na Universidade de Lisboa. O seu nome encontra-se ligado ao projecto Cadernos de Poesia, tendo colaborado ainda, ao lado de nomes como o de Jorge de Sena, David Mourão-Ferreira, Ruy Cinatti, António Ramos Rosa, entre outros, entre a década de 40 e 50, em várias publicações, como Távola Redonda e Árvore, que marcaram, na história da literatura contemporânea, a busca de uma terceira via, a do objecto literário em si enquanto projecto intrinsecamente humanista, num panorama literário dividido, até meados do século, entre o princípio social e o princípio estético do objecto artístico. Autora também de traduções, a sua obra recebeu os mais reconhecidos prémios literários, dos quais se destacam, por exemplo, o Prémio Vida Literária da Associação Portuguesa de Escritores, em 1994, o Prémio Camões e o Prémio Pessoa, ambos em 1999, e o Prémio Rainha Sofia da Poesia Ibero-Americana, em Junho de 2003. Desde a publicação de Poesia, em 1944, Sophia afirma-se no panorama da literatura nacional com uma concepção de poesia que, sem deixar de dar continuidade a uma tradição lírica que passa por autores como Camões ou Teixeira de Pascoaes, recupera valores da cultura clássica, funde-os com um humanismo cristão, para contrapor um tempo absoluto a um "tempo dividido", numa aspiração à comunhão do homem com uma natureza de efeito lustral, produzindo uma impressão global de atemporalidade e de inexauribilidade da escrita. O privilégio da essencialidade, da unidade, implica ainda a consciência de que a literatura só cumpre a sua função social e de desalienação do homem quando repudia uma cultura de separação e persegue a "inteireza", "o verdadeiro estar do homem na terra", quando "estabelece a relação inteira do homem consigo próprio, com os outros, e com a vida, com o mundo e com as coisas" (cf. comunicação lida no 1.º Congresso de Escritores Portugueses, in O Nome das Coisas, 1977, p. 76). Deste modo, a poesia de Sophia de Mello Breyner Andresen não deixa de relevar de um sentido ético, radicado num sentido cristão da existência, que impõe à escrita o assumir de uma função social, na denúncia da injustiça, da desigualdade, de qualquer tipo de alienação ou atropelo à dignidade humana, quer em volumes poéticos de maior empenhamento como Livro Sexto, quer em algumas das belíssimas narrativas de Contos Exemplares, como o conto "O Jantar do Bispo" ou "O Homem". Por outro lado, a poesia de Sophia vem resolver o impasse que as cisões do modernismo tinham imposto à palavra poética e apresentar-se como a evolução possível para a escrita poética pós-Pessoa, na medida em que "Enquanto em Pessoa a aspiração à unidade como totalização subjectiva coincide com um movimento de multiplicação e divisão [...], em Sophia a dispersão corresponde a um movimento, não subjectivo, que encontra plenitude em cada coisa, pois a plenitude está na relação e não na totalização por uma subjectividade". (LOPES, Silvina Rodrigues - Poesia de Sophia de Mello Breyner Andresen, Lisboa, ed. Comunicação, 1989, p. 22). Política, católica, helénica, a poesia de Sophia remete o homem para um espaço utópico que, comparável ao lugar buscado pelo casal que protagoniza o conto alegórico 'A Viagem' (in Contos Exemplares), não deixa de corresponder à imagem mais perfeita de uma felicidade humana terrena e possível desde que o homem contemporâneo readmita a sua fidelidade ao tempo, às palavras, à natureza, às coisas: "Ali parariam. Ali haveria tempo para poisar os olhos nas coisas. Ali poderiam respirar devagar o perfume das roseiras. Ali tudo seria demora e presença. Ali haveria silêncio para escutar o murmúrio claro do rio. Silêncio para dizer as graves e puras palavras pesadas de paz e de alegria. Ali nada faltaria: o desejo seria estar ali." Aprendizagem da simplicidade, a arte poética perfilhada por Sophia "É uma poética da experiência, da necessidade de mergulhar de olhos abertos e retirar da diversidade, profusão, estranheza, a forma simples e perfeita que é o poema. Sem que simplicidade e perfeição anulem em absoluto o caos, matriz de todas as formas" (LOPES, Silvina Rodrigues, op. cit., p. 44) ou, segundo as suas próprias palavras, numa das várias "artes poéticas" que formulou: "A poesia não me pede propriamente uma especialização pois a sua arte é a arte de ser. Também não é tempo ou trabalho o que a poesia me pede. Nem me pede uma ciência, nem uma estética, nem uma teoria. Pede-me antes a inteireza do meu ser, uma consciência mais funda do que a minha inteligência, uma fidelidade mais pura do que aquela que eu posso controlar. Pede-me uma intransigência sem lacuna. Pede-me que arranque da minha vida que se quebra, gasta, corrompe e dilui uma túnica sem costura. Pede-me que viva atenta como uma antena, pede-me que viva sempre, que nunca durma, que nunca me esqueça. Pede-me uma obstinação sem tréguas, densa e compacta. // pois a poesia é a minha explicação com o universo, a minha convivência com as coisas, a minha participação no real, o meu encontro com as vozes, as imagens." ("Arte Poética II" in Antologia, Lisboa, 1968, p. 231.). Foi casada com o advogado e jornalista Francisco Sousa Tavares, de quem teve cinco filhos. Esteve desde cedo ligada a movimentos de luta anti-fascista, tendo sido uma notória activista contra o regime salazarista: apoiou, com o marido, a candidatura do General Humberto Delgado; subscreveu o "Manifesto dos 101", um documento da autoria de um grupo de activistas católicos contra a guerra colonial e o apoio da Igreja Católica à política do Governo de Salazar; fundou e integrou a Comissão Nacional de Apoio aos Presos Políticos; e, depois do 25 de Abril, foi Deputada à Assembleia Constituinte. Desde sempre, foi público o seu apoio à causa timorense. Na sua obra, que inclui, para além da poesia, a literatura infantil - sobretudo contos - e o ensaio, coexistem referências marcantes e recorrentes como o mar e a praia, a infância e a família, e ainda a civilização grega, reflexo da sua cultura clássica e da sua paixão por aquele país. Sophia de Mello Breyner Andresen faleceu a 2 de Julho de 2004, em Lisboa. Bibliografia: Poesia, Coimbra, 1944; Dia do Mar, Lisboa, 1947; Coral, Porto, 1950; No Tempo Dividido, Lisboa, 1954; Mar Novo, Lisboa, 1958; Cristo Cigano, Lisboa, 1961;Livro Sexto, Lisboa, 1962; Geografia, Lisboa, 1967; Antologia, Lisboa, 1968; Grades (antologia de poemas de resistência), Lisboa, 1970; 11 Poemas, Lisboa, 1971;Dual, Lisboa, 1972; O Nome das Coisas, Lisboa, 1977; Navegações, Lisboa, 1983; Ilhas, Lisboa, 1989; Obra Poética, 3 vols., Lisboa, 1990-91; Musa, 1994; Signo - Escolha de Poemas, Lisboa, 1994; O Búzio de Cós e Outros Poemas, Lisboa, 1997; Mar, 2001; O Rapaz de Bronze, 1956; A Menina do Mar, 1958; A Fada Oriana, 1958; Noite de Natal, Lisboa, 1960; O Cavaleiro da Dinamarca, 1964; Os Três Reis do Oriente, desenhos de Manuel Lapa, Estúdios Cor, 1965; A Floresta, 1968; Tesouro, Porto, 1978; A Árvore, Porto, 1985; Era Uma Vez Uma Praia Lusitana, Lisboa, Expo 98, 1997; O Nu na Antiguidade Clássica (ensaio), Estúdios Cor, 1975; O Colar, 2001; Para além de numerosas outras obras, ensaios, traduções, declarações e leitura de poemas da autora, destacam-se: Contos Exemplares, Lisboa, 1962; Histórias da Terra e do Mar, Lisboa, 1984
Sophia de Mello Breyner Andresen. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2008. [Consult. 2008-11-05]
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