sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Joan Sutherland - Biografia

No passado dia 15 de Janeiro dediquei a rubrica Ao Lado da Música que apresentava na RTP Madeira a Joan Sutherland.

Escrevi na altura uma pequena biografia da cantora que publiquei no blogue da rubrica e que transcrevo hoje, dia do seu aniversário, para o Outras Escritas.

Joan Sutherland nasceu em Sydney na Austrália, a 7 de Novembro de 1926. Como a maioria dos grandes cantores, Sutherland teve desde cedo contacto com a música. A sua mãe era mezzo-soprano e mesmo em criança a pequena Joan escutava com atenção a sua.

As primeiras aulas de canto foram, assim, orientadas pela mãe e, talvez por esse facto, Joan Sutherland começou a estudar no registo de mezzo-soprano.

Aos 18 anos inicia aulas de canto com Aida e John Dickens que concluem imediatamente que a sua voz não é de mezzo-soprano, mas sim de soprano, isto é, com um registo mais agudo. Conta-se que Sutherland ficou surpreendida com esta conclusão dos seus professores, uma vez que sempre tinha estudado com a mãe num registo de mezzo-soprano, menos agudo, portanto.

Em 1948, Joan Sutherland conhece um jovem pianista, Richard Bonynge que passou a acompanhá-la em alguns recitais na Austrália e que se viria a tornar-se uma das pessoas mais importantes da sua carreia e da sua vida (casariam uns anos mais tarde). Bonynge era de opinião que a voz de Sutherland poderia ser trabalhada num registo ainda mais agudo do que aquele em que estava a trabalhar. Joan tinha uma voz gigantesca em termos de potência e pensou na altura que seria um soprano dramático . Um soprano dramático tem uma voz com uma grande potência, mas com pouca agilidade (dificuldade em executar passagens muito rápidas ou notas muito agudas). Este tipo de voz é ideal para as óperas de Wagner.

Depois de uma breve carreira como "dactilógrafa" e de ter ganho alguns concursos de voz, nomeadamente em 1949 o "Sydney Sun Aria" e em 1950 o "Mobil Quest", Joan Sutherland parte para Londres para pôr em prática o seu grande sonho, tornar-se cantora residente da Royal Opera House, um dos maiores teatros de ópera da altura (e da actualidade).
Em Londres volta a encontrar Richard Bonynge com quem casa em 1954. Joan tem como professor de canto Clive Carey e Richard Bonynge estuda composição e regência.

Mais uma vez nos seus estudos em Londres, Sutherland desenvolveu a sua voz como soprano dramático, embora Bonynge estivesse convencido que a sua voz detinha uma agilidade especial e capacidade para ser trabalhada num registo mais agudo.
Depois de uma audição na Royal Opera House (Covent Garden), é-lhe oferecido um contrato de dois anos nesta casa de ópera. Joan estreia-se na ópera "A Flauta Mágica de Mozart" em 1952. Ainda nesse ano estreia-se como Clotilde (personagem secundária) na ópera "Norma" de Bellini, ao lado de Maria Callas. Foi esta a única ocasião em que as duas Divas cantaram juntas.

Com a ajuda e entusiasmo de Richard Bonynge, estreia-se também em 1952 no papel principal de Amélia na ópera de Verdi "Um Baile de Máscaras".

Por esta altura, e embora com várias apresentações em diferentes papeis na Royal Opera House, Richard Bonynge convence Sutherland de que a sua voz é ideal para interpretação de repertório de Bel canto, isto é, Sutherland possuía um tipo de voz raro. Era um soprano dramático de coloratura, uma voz de soprano com uma potência considerável, mas também com muita agilidade e com capacidade de atingir notas extremamente agudas.

A 17 de Fevereiro de 1959 dá-se uma viragem na então curta carreira de Sutherland. Deu-se nesse dia a estreia da ópera "Lucia de Lammermoor" de Donizetti na Royal Opera House. Sutherland assumiu o papel principal de Lucia, dirigida pelo maestro Tulio Serafin. Da ópera faz parte uma ária de loucura, característica de muitas óperas de Bel canto, em que a personagem, como o próprio nome indica, enlouquece. Estas árias são de extrema dificuldade de execução, quer a nível vocal, que a nível cénico. Sutherland foi um sucesso estrondoso. Como se costuma dizer "a casa vaio abaixo com aplausos".
A partir daqui a carreira de Sutherland foi catapultada e as estreias nos mais famosos teatros de ópera do mundo (Milão, Veneza, Paris, Nova Iorque, etc) foram enormes sucessos. Sutherland passa a ser dirigida por Bonynge em praticamente todas as suas actuações e depois de uma récita ocorrida no Teatro La Fenice de Veneza, Sutherland passa a ser chamada de La Stupenda.

Devido às capacidades da sua voz, Sutherland e Bonynge recuperaram muitas operas do repertório de Bel canto (compositores dos séc. XVIII e XIX), trabalho já iniciado por Maria Callas durante a sua carreira, óperas estas que estavam afastadas dos palco há longos anos.

Sempre com muito cuidado na escolha dos seus trabalhos, Sutherland conseguiu que a sua voz se mantivesse praticamente intacta durante décadas. Trabalhou com os melhores cantores da sua época e deixou um legado importantíssimo em gravações de áudio e vídeo.

Destacam-se as suas interpretações de:

Lucia - Lucia de Lammermoor (Donizetti)
Norma - Norma (Bellini)
Elvira - I Puritani (Bellini)
Maria - Maria Stuarda (Donizetti)
Amina - La Sonnambula (Bellini)
Marie - La Fille du Regiment (Donizetti)
Semiramide - Semiramide (Rossini)
Lucrezia - Lucrezia Borgia (Donizetti)
Anna - Anna Bolena (Donizetti)
Violetta - La Traviata (Verdi)
Gilda - Rigoletto (Verdi)
Elvira - Il Trovatore (Verdi)


Terminou a sua carreira no dia de Ano Novo em 1990 (aos 63 anos) na Royal Opera House, ao Lado de Luciano Pavarotti e de Marylin Horne com quem tinha trabalhado inúmeras vezes.

Ao longo da sua vida recebeu várias condecorações sendo a mais importante a de "Comandante do Império Britânico" concedida pela Rainha Isabel II em 1961. Passou a designar-se a partir desta data Dame Joan Sutherland.

Continua ainda hoje a sua actividade no meio musical como júri de alguns concursos de canto.

Joan Sutherland é para muitos a "Voz do século XX"

Sem comentários:

Enviar um comentário

Comente o Outras Escritas