Uma pandemia de gripe suína é inevitável a nível planetário, mas a existência de um vírus do mesmo subtipo (H1N1) na população humana confere-lhe maior protecção e permitirá produzir uma vacina em poucos meses, defende um especialista.
Esta é a convicção de Pedro Simas, director da Unidade de Patogénese Viral do Instituto de Medicina Molecular (IMM) da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa.
«Trata-se de um vírus de tipo A, cujo subtipo H1N1 saltou a barreira da espécie, passando do porco ao homem devido a uma alteração genética recente para a qual não há ainda explicação», disse hoje à Lusa o investigador.
«Isso faz com que tenham passado a existir nos humanos dois subtipos do vírus, um de estirpe humana e outro de estirpe suína», acrescentou.
A situação é diferente do que tem acontecido nos últimos anos com o H5N1 (da gripe aviária), um subtipo completamente diferente que não existe nos humanos e que, ao passar das aves para o homem, nunca se adaptou e nunca se propagou de homem para homem.
«Ao contrário disso temos agora um subtipo que já existe nos humanos mas é de estirpe diferente e que saltou para o homem e se adaptou, podendo por isso propagar-se de pessoa para pessoa», precisou
Por isso, «esta estirpe vai tornar-se pandémica e isso, na minha opinião, é incontornável», afirmou Pedro Simas. «Mais cedo ou mais tarde vai afectar toda a gente e vai espalhar-se a nível global».
No entanto, sendo o vírus do mesmo subtipo, o cientista considera que «não terá um impacto muito grande», em comparação com as pandemias anteriores, como a gripe de Hong Kong, que resultaram de subtipos novos que apareceram.
«Agora estamos antigenicamente melhor preparados porque já circula na população humana o subtipo H1N1 e estou mais optimista em relação ao impacto que poderá ter, porque, ao propagar-se nos humanos, o vírus adapta-se mais e perde virulência», insistiu.
Outro motivo de optimismo em relação aos danos que a gripe suína pode provocar na população humana, na perspectiva deste especialista em vírus, é o facto de estarmos no fim da época da gripe no hemisfério norte e se poder preparar melhor a próxima época do vírus, depois do Verão.
«Os vírus da gripe não desaparecem de repente», afirmou. «Uma vez entrado na população humana não vai desaparecer e se não causar muito perturbação agora, causará no próximo ano».
Pedro Simas não tem dúvidas de que será produzida uma vacina em poucos meses, embora «não em quantidade suficiente para imunizar toda a gente».
«Vai haver vacina, mais cedo ou mais tarde, porque é um subtipo com o qual podemos trabalhar bem, e vamos ter algum tempo para preparar a próxima época», afirmou.
Por outro lado, a tendência evolutiva não será o vírus sofrer mutações e tornar-se mais virulento, mas o contrário, já que à medida que for passando de pessoa a pessoa se tornará menos perigoso.
Pedro Simas insistiu em que o mau impacto que esta gripe pode ter não é tão grande como se fosse um vírus de um subtipo completamente diferente, em relação ao qual estaríamos completamente desprotegidos.
«Com um subtipo igual, mas com estirpe diferente, o prognóstico já não é tão mau», concluiu.
In Sol
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