sábado, 30 de agosto de 2008

Ao Lado da Música (VII) - Edita Gruberovà

Edita Gruberová nasceu em Bratislava (Eslováquia) a 23 de Dezembro de 1946.

Iniciou os seus estudos musicais no conservatório de Bratislava onde foi aluna de Mária Medvecká. Continuou os estudos na Academy of Performing Arts também em Bratislava, fazendo nesta altura parte de um famoso grupo musical de nome Lúcnica (folk)

Em 1968 Gruberová estreia-se na ópera de Bratislava no papel de Rosina da ópera Il Barbiere di Siviglia de Rossini, obtendo um estrondoso sucesso. Nesta altura, a então Checoslováquia encontrava-se em pleno período comunista, estando as fronteiras para o ocidente completamente fechadas. No entanto em 1969, Gruberova consegue, através da sua professora de canto, uma audição na Ópera de Viena. É de imediato aceite e estreia-se no papel de Rainha da Noite na ópera a Flauta Mágica de Mozart. Nesta altura decide fixar-se em Viena e passa a apresentar-se regularmente na Ópera dessa cidade e nas mais importantes casas de ópera.

A voz de Gruberová é um pouco difícil de enquadrar dentro dos parâmetros que dividem as vozes de soprano. No início de carreira podemos considerar a sua voz como a de um soprano de coloratura, isto é com muita agilidade, capaz de executar passagens extremamente rápidas e de atingir notas muito agudas. Já mais recentemente, Gruberová poderá ser considerada como um soprano dramático de coloratura, isto é, com a agilidade e extensão vocal no registo agudo de um soprano de coloratura, mas com maior potência vocal.

O princípio da carreira (soprano de coloratura) foi marcado pelas interpretações notáveis de Zerbinetta da ópera Ariadne auf Naxos de Richard Strauss e da Rainha da Noite da Flauta Mágica de Mozart, aliás Gruberova sempre foi muito elogiada pela crítica nas sua interpretações do reportório Mozartiano.

Mais tarde a cantora lança-se em papeis mais arrojados do reportório Belcantista e mais exigentes do ponto de vista vocal e dramático (soprano dramático de coloratura), nomeadamente em óperas de Bellini, Rossini e Donizetti. De salientar neste campo as interpretações nas famosas óperas de Donizetti: Roberto Devereux (Isabel I), Maria Stuarda e Anna Bolena.

A cantora conta actualmente com 61 anos de idade e não deixa de lançar-se em novas "aventuras". Actualmente interpreta a mais famosa e difícil ópera de Bellini, Norma, e recentemente estreou-se em Lucrezia Bórgia de Donizetti no Gran Teatro del Liceu de Barcelona.

A opinião do críticos relativamente a Gruberová, está longe de ser consensual. Para alguns seu reportório devia restringir-se a Mozart. Para outros as interpretações nas óperas de Bellini, Rosssini e Donizetti são uma referência.

A forma diferente como a cantora "ataca" as notas agudas sempre foi um tema de discussão entre os críticos e o público. Ultimamente a sua capacidade de executar notas agudas em pianíssimo tem sido muito elogiada.

Apelidada por muitos como "Rainha do Bel Canto" dos nossos dias, Gruberová é uma voz de referência no panorama lírico europeu da actualidade.

Ouvir e ver Gruberová em palco é, sem dúvida, uma experiência inolvidável.



Lançado pela editora Nightingale Classics em 2004, este triplo CD resulta de uma gravação ao vivo de uma récita da ópera Il Barbiere di Seviglia (O Barbeiro de Sevilha) de Gioacchino Rossini, em Munique em Novembro de 1997.

O Barbeiro de Sevilha é uma das óperas de Rossini mais apresentadas no palcos líricos. Esta ópera foi, aliás apresentada na rubrica Lado a Lado com a música a 4 de Dezembro de 2007.

Do elenco fazem parte os seguintes cantores:

Rosina - Edita Gruberová
Berta - Rosa Laghezza
Conte Almaviva - Juan Diego Flórez
Figaro - Vladimir Chernov
Don Bartolo - Enric Serra
Don Basílio - Francesco Ellero d'Artegna
Fiorelli, Ambrogio, Un Ufficiale - James Anderson

Coro e orquestra da Ópera da Baviera sob direcção do Maestro Ralf Weikert.

Destaca-se a interpretação de Edita Gruberová como Rosina, papel que a cantora começou a interpretar desde muito cedo na sua carreira. Em 1997 Gruberová contava já com 50 anos de idade, mas a sua voz mantinha-se, aliás ainda se mantém, com uma frescura e flexibilidade invejáveis, características indispensáveis para a interpretação de Rosina. A ária "Una Voce Poco Fa" prima pelas passagens de coloratura, que não constituem qualquer dificuldade para a cantora, faltou apenas a nota aguda final (Fá) que Gruberová muitas vezes utilizou na interpretação desta ária (embora esta nota não faça parte da partitura de Rossini).

Juan Diego Flórez, hoje em dia uma estrela do mundo da ópera, estava nesta altura no início da sua carreira. A técnica é irrepreensível, mas talvez ainda faltasse um pouco de emoção.

De salientar também a interpretação de Vladimir Chernov como Fígaro.

Este CD ganhou o prémio ECHO klassik 2005 na Alemanha.



A Deutche Grammophon lançou em 2006 este DVD com uma récita da ópera Roberto Devereux de Gaetano Donizetti, gravada em 2005 na Ópera da Baviera em Munique.

A ópera Roberto Devereux faz parte de um conjunto de óperas que Donizetti dedicou às Rainhas Tudor, nomeadamente, Anna Bolena, Elisabeth I (Roberto Devereux) e Mary Stuart (Maria Stuarda).

Não sendo uma ópera muito representada nos dias que correm, Roberto Devereux, é, sem dúvida, um dos trabalhos de referência do Bel Canto e uma das melhores e mais dramáticas óperas de Donizetti. A exigência em termos vocais e dramáticos para o soprano que interpreta a personagem de Elisabeth I (ou Elisabetta do libretto em Italiano) será demasiado elevada para a maioria dos sopranos.

Com libretto de Salvatore Cammarano (que terá sido acusado de plagiar Felice Romani), a ópera retrata a infelicidade amorosa de Isabel I, Rainha de Inglaterra, ao ver-se traída por Roberto Devereux, Conde de Essex.

Roberto Devereux já tinha sido tema de pelo menos 3 peças teatrais francesas e embora não seja historicamente preciso, revela-se um drama com bastante interesse.

A historia envolve quatro personagens principais, Elisabetta (Rainha Isabel I de Inglaterra), Roberto Devereux (Conde de Essex), o Duque de Nottingham e Sara (Duquesa de Nottingham). Roberto e Sara estão apaixonados, mas a Rainha, que gosta de Roberto, força Sara, sua amiga e confidente, a casar-se com o Duque de Nottingham enquanto Roberto combate na Irlanda.
Roberto regressa a Inglaterra, mas é acusado de traição pelo Conselho da Rainha. No entanto, esta está disposta a perdoá-lo se ele aceitar o seu amor. Roberto não está disposto a trair Sara e é condenado à morte pela Rainha.
O Duque de Nottingham descobre que Sara e Roberto são amantes, por causa de um lenço azul que vira Sara bordar e que mais tarde encontra nas mãos de Roberto. Sara tenta falar com a Rainha para lhe contar que é a sua rival, mas que está disposta a abdicar do seu amor para salvar Roberto. No entanto o Duque impede-a de sair. Quando Sara consegue por fim falar com a Rainha é tarde demais. Roberto acaba de ser executado.
A ópera termina com a Rainha num acesso de loucura a afirmar que não reinará mais. É nesta altura que canta a ária "Quel sangue versato al cielo", uma das árias mais difíceis do reportório Belcantista.

Do elenco desta récita fazem parte os seguinte interpretes:

Elisabetta (Rainha de Inglaterra) - Edita Gruberová
Il Duca di Nottingham - Albert Schagidullin
Sara - Jeanne Piland
Roberto Devereux - Roberto Aronica
Lord Guglielmo Cecil - Steven Humes
Paggio di Roberto - Nikolay Borchev
Giacomo (Rei da Escócia) - Johannes Klama

O coro e a Orquestra da Ópera da Baviera são dirigidos por Friedrich Haider.

A encenação a cargo de Christof Loy está longe de ser consensual. A acção é transportada para a actualidade, com um escritório como cenário. As personagens vestem sobriamente. Homens e mulheres de fato cinzento ou azul escuro. Um toque de cor somente na personagem de Elisabetta.
Este tipo de encenação, muito ao estilo europeu não é muito apreciada por muitos críticos e por alguns públicos, nomeadamente americanos. Para o público europeu, mais habituado a este novo tipo de abordagem cénica, Christof Loy sai, certamente, com um saldo bastante positivo. Esta encenação valeu-lhe o prémio de Director do Ano atribuído pela revista alemã Opernwelt.

Gruberová interpreta Elisabetta com muita convicção e um poder dramático de excepção. É de Salientar a ária final de extrema exigência em termos vocais e dramáticos que Gruberová, nesta altura com 58 anos, interpreta irrepreensivelmente.
O restante elenco é também satisfatório.



Publicado no Ao Lado da Música a 26/02/2008.

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