sábado, 16 de agosto de 2008

Ao Lado da Música (V) - Elis Regina

Elis Regina Carvalho Costa nasceu em Porto Alegre no Brasil, a 17 de Março da 1945.

Começou a sua carreira de cantora com apenas 11 anos de idade, num programa para crianças de uma rádio local.

Gravou o primeiro disco "Viva a Brotolândia" em 1961 com 16 anos.

Logo nesta altura, Elis Regina começou a afirmar-se como uma das maiores vozes do Brasil, com uma escolha muito cuidadosa de reportório, que incluía os grandes autores compositores dos estilos Bossa Nova e MPB (Música Popular Brasileira).

Durante os anos 60, 70 e 80, Elis construiu uma carreira bastante sólida, baseada no perfeccionismo técnico e na emoção e energia que transmitia nos seus concertos.

Da sua curta, mas assombrosa carreira, destaca-se em 1975 o espectáculo "Falso Brilhante", que mais tarde originou um disco com o mesmo nome e que ficou um ano em cartaz com perto de 300 apresentações. Desatacam-se também as suas participações em várias edições do "Festival de Música Popular Brasileira (TV Record) e no especial "Mulher 80" (Rede Globo).

Um outro mérito de Elis Regina, foi ter lançando vários compositores brasileiros desconhecidos até então. Nomes como Milton Nascimento, Renato Teixeira, Gilberto Gil e João Bosco, hoje amplamente conhecidos, muito devem à cantora a sua apresentação e aceitação dos públicos brasileiro e internacional.

Ao lado de uma carreira brilhante, Elis criticou muitas vezes a ditadura Brasileira (Anos de Chumbo) e a perseguição política que era feita pelo regime aos músicos. Diz-se que foi a sua popularidade que a manteve fora da prisão.

Políticas à parte, Elis Regina ficará para a história como uma cantora de grande qualidade técnica e com um sentido artístico muito apurado. Temas como Arrastão, Corcovado, Aquarela do Brasil, Águas de Março e Rebento, entre outros, ficarão para sempre gravados na memória do publico brasileiro e internacional que tanto a apreciou.

Elis morre no dia 19 de Janeiro de 1982 aos 36 anos, devido a problemas de saúde relacionados com o abuso de drogas e alcoól.

Lançado pela Warner Music Brasil em 2001, este CD é um relato hitórico da passagem de Elis Regina pelo "Festival de Jazz de Monterux" em 1979.

Neste ano Elis Regina era a cabeça de Cartaz da "Noite Brasileira" do Festival e o seu concerto encontrava-se há muito tempo esgotado. Face à insistência da organização, Elis decide fazer uma matinée no dia do concerto.

A matinée esgotou e Elis encantou. Diz-se que este espectáculo foi como um ensaio geral para o espectáculo que ocorreria durante a noite.

Elis esteve soberba na matinée. Cantou com segurança e com técnica, mas com alguma contenção emocional, os temas que já a tinham celebrizado junto do publico brasileiro e que tiveram muito boa aceitação junto do publico internacional do Festival.

A "noite Brasileira" iniciou-se com uma actuação do pianista Hermeto Paschoal, muito conhecido do meio Jazzistíco internacional, que com a sua banda de músicos fez a casa vir abaixo. No final desta parte do espectáculo o publico aplaudiu Hermeto durante mais de 15 minutos.

O êxito de Hermeto Paschoal, colocou alguma pressão em Elis que se apresentaria logo de seguida. Elis entrou em palco nervosa e pouco emotiva. Conta-se que ao fim dos primeiros 10 minutos de actuação se encontrava exausta. Cantou com precisão mas sem emoção. O público apreciou a sua apresentação mas os aplausos foram mais comedidos. Hermeto tinha ganho a noite.

Quando Elis sai de palco o apresentador chama de novo Hermeto e, surpresas das surpresas, chama também Elis. Os dois talentos estavam assim juntos em palco para fechar a noite. Elis, contrariada, acedeu e entrou em palco.

Hermeto começa a tocar "Corcovado" e quando Elis começa a cantar, o experimentado músico de Jazz, começa a mudar harmonias a e improvisar no piano. Elis acompanha, desafiando o pianista, cresce a cada nota, improvisa. Segue-se "Garota de Ipanema" que Elis detestava e que tinha afirmado que nunca cantaria. Hesita, mas resolve cantar. Canta em português e em inglês. O público entra em delírio.

No final dos espectáculo Elis faz André Midani, o seu produtor, prometer que nunca lançaria em disco o concerto do Festival.

No entanto, Elis morre três anos mais tarde, e André Midani, resolve quebrar a promessa e lançar em 84 um LP onde juntou algumas músicas da matinée com os temas interpretados com Hermeto.

Em 2001, lança este CD com base no LP e em mais algumas músicas da matinée.

Assim, do CD fazem parte os seguintes temas:

Cobra Criada - João Bosco, Paulo Emílio
Cai Dentro - banden Powell, Paulo César Pinheiro
Madalena - Ivan Lins, Ronaldo Monteiro
Ponta de Areia - Milton Nascimento, Fernando Brant
Fé Cega Faca Amolada - Milton Nascimento, Fernando Brant
Maria Maria - Milton Nascimento, Fernando Brant
Na Baixa do Sapateiro - Ary Barroso
Upa Neguinho - Edu Lobo, Gianfranciesco Guarnieri
Corcovado - Tom Jobim
Garota de Ipanema - Tom Jobim, Vinícius de Moraes
Asa Branca - Luiz Gonzaga, Humberto Teixeira
Amor Até ao Fim - Gilberto Gil
Mancanda - Gilberto Gil
Samba Do brado - Djavan
Rebento - Gilberto Gil
Águas de Março - Tom Jobim
Onze Fitas - Fátima Guedes
Agora Tá - Tunai, Sérgio Natureza


Reeditado em 2005 pela Vidisco, o DVD Elis Regina Carvalho Costa, está incluído numa série de concertos realizados pela TV Globo (Brasil) denominada Grande Nomes TV Globo.

A gravação ocorreu no dia 3 de Outubro de 1980, uma ano depois da passagem de Elis pelo Festival de Montreux.

Com um cenário fora do comum, Elis apresenta-se como artista de circo, numa tenda de chita.

O DVD inclui também uma entrevista com Daniel Filho que dirigiu a realização do espectáculo para a TV Globo. Nesta entrevista está bem patente o papel de Elis Regina no meio musical brasileiro.

Fazem parte do concerto os seguintes temas:

Abertura. Arratão (Instrumental) - Edu Lobo, Vinícios de Moraes
Querelas da Brasil - Maurício Tapajóes, Aldir Blanc
Agora Tá - Tunai, Sérgio Natureza
Alô, Alô Marciano - Rita Lee, Roberto de Carvalho
Essa Mulher - Joyce, Ana Terra
Atrás da Porta - Chico Buarque, Francis Hime
Cadeira Vazia - Lupicinio Rodrigues, Alcides Gonçalves
Conversando no Bar - Milton Nascimento, Fernando Brant
O Bêbado e a Equilibrista - João Bosco, Aldir Blanc
Aos Nossos Filhos - Ivan Lins, Vítor Martins
Modinha - Tom Jobim, Vinícius de Moraes
Rebento - Gilberto Gil
Aquarela do Brasil - Ary Barroso
O que Foi Feito Devera - Milton Nascimento, Frenando Brant
Redescobrir - Gonzaguinha

Acompanham Elis:

César Camargo Mariano - Arranjo e piano
Sérgio Henriques - Teclados
Nonô Camargo - Trompete
Cláudio Faria - Trompete
Octávio Bangla Sax Tenor
Don Chacal - Bateria
Paulo Garfunkel - Sax Alto, Flauta, Clariente
Chiquinho Brandão - Flauta
Natan Marques - Guitarra
Kzam Gama - Baixo
Bocato - Trombone
Picolé - Bateria
Lino Simão - Sax Tenor


Publicado no Ao Lado da Música a 12/02/2008

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