sábado, 9 de agosto de 2008

Ao Lado da Música (IV) - Ella Fitzgerald

Ella Jane Fitzgerald nasceu em Newport News no estado da Virgínia (Estado Unidos da América) a 25 de Abril de 1917.

Ella teve uma infância conturbada, com a separação dos pais e a morte da mãe. Viveu nesta altura na Virgínia, em Nova Iorque e novamente na Virgínia. Chegou a ser internada num reformatório de onde fugiu para viver algum tempo nas ruas.

Interessou-se desde muito cedo pela dança e pretendia ser bailarina. No entanto, adorava Jazz e ouvia frequentemente as gravações de Louis Armstrong, Bing Crosby e The Boswell Systers.

O interesse pela dança foi colocado de parte quando debutou como cantora a 21 de Novembro de 1934 (já de novo em Nova Iorque) no Apollo Theather (Harlem). Ganhou nesse dia o concurso para cantores e pode dizer-se que foi nesse momento que começou a sua meteórica carreira.

Detentora de uma voz extraordinária pelos seus naturais dotes de frescura, extensão (3 oitavas) e elasticidade, Ella começou por integrar a banda do baterista Chick Webb em 1935, obtendo, repentinamente, êxitos por toda a parte. Em 1938, grava com esta banda "A-Tisket, A-Tasket" (co-autora) que se tornou num enorme sucesso, junto do público.

Chick Webb morre em 1939 e Ella assume a direcção da Banda que foi renomeada "Ella Fitzgerald and Her Famous Orchestra".

Em 1942 termina a banda e Ella dedica-se a uma carreira a solo, assinando contrato com a editora discográfica Decca. Na segunda metade da década de 1940 contactou com o "novo" estilo bebop ingressando na grande orquestra de Dizzy Gillespie. Nesta época, abandona-se a divertimento de fazer música por puro prazer e o seu "scat" florescente (canto entoado sobre sílabas sem sentido escolhidas só pelo seu gosto rítmico e fónico) tornou-se um dos mais interessantes e perfeitos da história do Jazz. O seu álbum de 1945 "Flying Home", foi descrito anos mais tarde pelo New York Times como um dos trabalhos com mais influência no Jazz vocal da época.

Entre 1946 e 1951 gravou com Louis Armstrong um conjunto de obras, semeado de pequenas maravilhas, nas quais a simplicidade, o humor e o contraste das duas vozes são verdadeiramente notáveis.

Em 1955, Ella Fitzgerald deixa a Decca e passa a gravar para a editora criada pelo seu "manager" Norman Granz - Verve Records. Até esta altura a cantora sempre assumiu que o seu estilo era o bebop e que a sua carreira giraria sempre à sua volta. No entanto, um pouco influenciada pro Norman Granz, Ella sentiu que havia muito mais coisas igualmente interessantes que poderia fazer com a sua voz. Lança, assim, e, 1956 o álbum "Ella Fitzgerald Sings the Cole Porter Songbook", conquistando assim audiências fora do meio jazzístico.
Ella Fitzgerald Sings the Cole Porter Songbook foi o primeiro de oito "Songbooks" lançados pela Verve Records entre 1956 e 1964. Os compositores escolhidos para cada um dos álbuns, em que Fitzgerald grava temas conhecidos e algumas raridades, constituem um dos legados mais importantes deixados pela cantora para a história da música (isto mesmo considerando que os estilos interpretados se afastam muitas vezes do Jazz e se enquadram mais no pop).

Entre 1972 e 1983 Ella volta a gravar álbuns inteiramente dedicados a canções de compositores como Cole Porter (Ella Louves Cole), George Gershwin (Nice Work If You Can Get It) e António Carlos (Tom) Jobim (Ella Abraça Jobim).

Mesmo gravando estes trabalhos um pouco fora do âmbito do Jazz, a cantora nunca deixou durante a sua carreira, de fazer digressões um pouco por toda a parte, afirmado-se como uma das melhores cantoras de Jazz de sempre.

Em 1972 o sucesso estrondoso da álbum "Jazz at Santa Monica Civic'72" fez com que Norman Granz, que entretanto tinha vendido a Verve à MGM em 1967, voltasse a criar uma editora discográfica a Pablo Reccords, novamente focalizada na carreira de Ella Fitzgerald. Ella grava cerca de 20 álbuns para esta editora.

Durante os final da década de 1980, a voz de Ella entra em decadência, com o recurso intensivo a pequenas frases (associado à respiração deficiente) e a um vibrato excessivo (vibração excessiva da voz que geralmente surge nos cantores com mais idade).

Já com alguns problemas de saúde, Ella grava o seu último álbum em 1991 e o seu último espectáculo ocorreu em 1993.

Ella Fitzgerald morre a 15 de Junho de 1996.

No seu livro "Os caminhos do Jazz", Guido Boffi sintetiza da seguinte forma a carreira desta cantora - "Para a história do Jazz, Ella Fitzgerald permanecerá uma cantora completa, que escolheu um estilo baseado sobretudo na pureza de expressão, na valorização do ritmo, na flexibilidade tímbrica e no conhecimento técnico, frutos de um trabalho duro e sistemático".


Lançado em 2005 pela Verve Records, este álbum reúne dois nomes grandes do Jazz. Ella Fitzgerald e Louis Armstrong.

O CD é uma compilação de temas incluídos noutros álbuns de Ella Fitzgerald disponíveis na mesma editora, nomeadamente Ella and Louis (1956), Ella and Friends (1950) e Ella and Louis Again (1957).

Acompanham Ella Fitzgerald (voz) e Louis Armostrong (trompete e voz):


Oscar Peterson (piano)
Herb Ellis (guitarra)
Ray Brown (baixo)
Louie Bellson, Bud Rich e Johnny Blowers (bateria)
Paul Webster (trompete)
Hank D'Amico (Clarinete)
Frank Ludwig (sax tenor)
Hank Jones (piano)
Everett Barksdale (guitarra)
Orquestra de Sy Oliver (direcção e arranjos)

Segundo a editora, o álbum reúne 11 da canções de amor mais belas alguma vez escritas, apresentadas com um novo significado, uma nova química e uma nova "vida" por Ella Fitzgerald e Louis Armstrong nas raras ocasiões em que se reuniram para gravar em estúdio.

Fazem parte desta compilação os seguintes temas:

The Nearness of You - (Hoagy Carmichael - Ned Washington)
Stars Fell on Alabama - (Frank Perkins - Mitchell Parish)
Dream a Little Dream of Me - (Fabian Andre - Wilbur Schwandt - Gus Kahn)
Under a Blanket of Blue - (Jerry Livingston - Al J. Neiburg - Marry Symes)
Moonlight in Vermont - (Karl Suessdorf - John Blackburn)
Love is Here To Sty - (George Gershwin - Ira Gershwin)
Let's Do It (Let's Fall in Love) - Cole Porter)
Would You Like To take a Walk - (Harry Warren - Mort Dixon - Billy Rose)
Isn't This a Lovely Day) - (Irving Berlin)
Autumm in New York - (Vermon Duke)
Tenderly - (Walter Gross - Jack Lawrence)

A voz de Ella conjuntamente com a trompete e a voz rouca e grave de Louis, resultam numa combinação perfeita para interpretar estes temas com um acentuado carácter romântico e sensual.


Lançado pela Eagle Vision em 2005, este DVD retrata a primeira passagem de Ella Fitzgerald pelo Festival de Jazz De Montreux.

Pelo Festival de Jazz de Montreux têm passado, desde a sua fundação em 1967, os maiores nomes do Jazz (e não só, a partir dos anos 70 o festival abriu-se a outros tipos de música, mantendo o Jazz como referência).

Nesta altura já a carreira de Ella Fitzgerald se tinha afirmado dentro e fora do mundo do Jazz.

Neste concerto de 1969, Ella apresenta um reportório que vai desde o Jazz mais puro ou clássico até ao Pop. Diz-se que os críticos estavam um pouco cépticos com o reportório escolhido, mas que o resultado final foi excelente e esta primeira passagem de Ella pelo festival constituiu um marco importante.

Acompanhada por Tommy Flanagan (paino) e por Frank De La Rosa (contrabaixo) e Ed Thigpen (bateria), Ella interpreta os seguentes temas:

Give me That Simple Live
This Girl's in Love With You
I Won't Dance
A Place for Lovers
That Old Black Magic
Useless Landscape
I Love You Madly
Trouble Is a Man
A Man and a Woman
Sunshine of Your Love
Well Alright Okay You Win
Hey Jude
Scat Medley
A House is Not a Home

Controverso para alguns, por não contemplar apenas temas de Jazz, nesta passagem de Ella Fitezgerald pelo Festival de Jazz de Montreux, este DVD é, no entanto, uma referência para todos os que apreciam a voz e arte da cantora dentro e fora do Jazz.


Publicado no Ao Lado da Música a 22/01/2008

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