Termino esta série de posts sobre a Lucrezia Borgia de Ancona com a apreciação da voz de Mariella Devia.
Foi por causa de Mariella Devia que fiz esta viagem. Demorei dois dias a chegar a Ancona e dois dia para regressar.
Valeu a pena? Claro que sim...
Já conheço a voz de Devia há muito tempo, visto que tenho várias interpretações da cantora em CD e DVD e no youtube existe uma colecção apreciável de vídeos seus. No entanto, por muito que se esteja familiarizado com uma voz, o que é facto é que as gravações muitas vezes não nos dão uma perspectiva exacta da mesma. Há umas vozes que nos parecem extraordinárias em gravação e que depois nos desiludem ao vivo e há outras cujas qualidades nunca são devidamente evidenciadas em gravação.
Quanto à Devia, devo confessar-vos que tinha algum receio em termos de volume e projecção. Já me aconteceu várias vezes gostar da voz de um cantor e depois ficar desiludido porque mal o consigo ouvir no teatro de ópera.
Estes receios foram postos de parte assim que Devia cantou a primeira nota. A voz tem um volume e uma projecção apreciáveis (mais do que eu esperava). Para além disso é muito clara e acutilante, atingindo-nos como se de uma flecha se tratasse. Para além disso o timbre é belíssimo e a dicção perfeita.
Para além destas qualidades, o que permite à cantora de 62 manter uma voz com possibilidade de interpretar óperas como Lucrezia Borgia, Maria Stuarda, Lucia di Lammermoor e Anna Bolena (todas autênticos "cavalos de batalha" de Donizetti) é sem dúvida a técnica. Realmente, não há uma respiração fora do lugar ou uma nota que acuse esforço.
A cantora foi brilhante nesta interpretação de Lucrezia Borgia. Excedeu todas as minhas expectativas e tornou aquela noite em Ancona verdadeiramente memorável para mim. Terminou a ária final Era desso il figlio mio com um extraordinário mi bemol sobre-agudo em crescendo que fez a casa "vir abaixo", mesmo antes da orquestra terminar...
Ao sair do teatro e depois de longos minutos de aplausos em pé e ovações de brava, fiquei nas redondezas, para tentar a sorte de conseguir falar com Devia. Já estava quase a desistir, quando reparei que havia um grupo de pessoas perto de uma das portas laterais do teatro. Dirigi-me para lá, e lá estava a pequena simples e humilde diva a falar com alguns dos seu apreciadores. Consegui dar-lhe os parabéns, elogiar a sua magnífica voz e tirar a fotografia que já se encontra aqui no Outras Escritas há algum tempo.
Foi o concretizar de um sonho.
Aqui ficam alguns vídeos com excertos das récitas de 19 e 21 de Fevereiro.
Com'è bello - 19/02
Dueto com Dom Alfonso (Alex Exposito)- 19/02
Era desso il figlio mio - 19/02
Dueto com Gennaro (Giuseppe Filianoti) - 19/02
Final do primeiro acto com Gennaro (Giuseppe Filianoti) e Don Alfonso (Alex Exposito) - 19/02
Era desso il figlio mio - 21/02
Também me parece que valeu a viagem. Isto é que é bel canto!
ResponderEliminarAgora ando mais virado para a ópera centro-europeia, são fases, senão também ia a Itália um dia destes.
Obrigado por partilhar. Alberto.
Pois é Mário já reparei nisso.
ResponderEliminarVer ver os Mestres Cantores não é?
Eu tenho um grande defeito: não consigo gostar de Wagner. E nem de Puccini...