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Maria Malibran, nascida María Felicia García Sitches (Paris, 24 de março de 1808 – Manchester, 23 de setembro de 1836) foi uma cantora lírica (mezzosoprano) francesa, mas de ascendência espanhola, que se tornou a diva mais famosa, ainda atualmente, da primeira metade do século XIX e pertencia à talentosa família musical dos García, da qual fez parte a também célebre cantora - e sua irmã - Pauline Viardot-García.
Vida e carreira
O famosíssimo tenor e professor de canto Manuel García, seu pai, era conhecido pela dureza com que comandou o aprendizado de canto da filha, permitindo que ela cantasse canções suas para amigos, mas depois a confinando para que se dedicasse totalmente aos estudos.[1] Com apenas quatro anos, a pequena Maria já acompanhava a vida itinerante de sua família musical pela Inglaterra, França e Itália, e aos oito apareceu pela primeira vez nos palcos, ao lado do pai, na Agnese de Paër.[2]
Malibran cantou uma protagonista de ópera pela primeira vez aos 17 anos, em 1825, em Londres, como Rosina de O Barbeiro de Sevilha, substituindo outra célebre cantora da época, Giuditta Pasta (1797-1865).[2] Durante sua carreira, cantou e se radicou freqüentemente na Inglaterra.
Logo após seu primeiro sucesso, como Rosina de O Barbeiro de Sevilha, viajou para Nova York com a trupe de seu pai, que consistia principalmente de membros da família, onde também obteve grande êxito. Cantou Zerlina na estréia estadunidense do Don Giovanni de Mozart. Ali conheceu e, por insistência do pai e contra sua vontade, casou com o empresário François Eugene Malibran, 28 anos mais velho que ela - segundo alguns, o pai a teria forçado por interesse em uma promessa de recompensa de 100.000 francos. Seu esposo, entretanto, faliu logo após o casamento e chegou a ser preso, o que levou à separação deles.[3] Malibran, que havia parado de cantar, voltou a fazer concertos, organizando ela própria alguns na Filadélfia.[2]
Em 1826, Maria voltou à Europa e abandonou o marido, onde iniciou uma carreira de grande sucesso, em especial, na Itália, França e Inglaterra, destacando-se sobretudo no repertório de Gioacchino Rossini - que se tornou amigo e colaborador dela - em óperas como Semiramide, Tancredi, La Cenerentola e Otello.[2] A partir de 1830 e durante mais seis anos, mesmo antes de obter de fato a anulação do seu curto matrimônio, teve um relacionamento estável com o violinista belga Charles de Bériot, tendo com ele dois filhos, dos quais um morreu, restando um filho.[3]
Em 1832, ela cantou seu primeiro Romeo, de I Capuleti e i Montecchi, em Bolonha, tornando-se a partir de então uma grande intérprete de Bellini. Em 1834, cantou sua primeira Norma e, em 1835, participou da estréia mundial da Maria Stuarda de Donizetti.[4] Nesse debute, desafiou a censura imposta à obra e cantou passagens do texto consideradas incendiárias.[5] Em 1834, mudou-se para a Inglaterra, sendo aclamada em performances em Londres.
Em 1836, obteve o divórcio do antigo marido pelas leis francesas, casando-se em março com Bériot. Um mês depois, todavia, sofreu uma queda de cavalo, mas se recusou a consultar um médico e continuou a se dedicar à carreira. Chegou a fazer três concertos consecutivos em Manchester, sentindo grande dor, e realizou, em 27 de maio do mesmo ano, a estréia mundial da ópera The Maid of Artois, composta para ela pelo seu amigo Michael Balfe, com quem cantara várias vezes e que assim cumpria uma promessa feita a ela.[6] Sua saúde foi progressivamente piorando por conseqüência da queda, e ela acabou morrendo em 23 de setembro daquele ano, em Manchester.
Voz e legado
Durante os seus anos de fama, Malibran conquistou a admiração de diversos compositores, como Gaetano Donizetti, Vincenzo Bellini, Felix Mendelssohn, Frédéric Chopin e Franz Liszt. Donizetti escreveu para ela sua Maria Stuarda; Bellini para ela compôs uma nova versão de I Puritani e de La Sonnambula, adaptada à tessitura mais grave da artista, e Mendelssohn, a ária de concerto Infelice! com acompanhamento de violino para ela e seu amante Charles de Bériot. O antigo Teatro di San Giovanni Crisostomo, em Veneza, foi rebatizado como Teatro Malibran em sua homenagem.[7]
Considera-se que seu timbre deva ter sido o de uma mezzo-soprano de coloratura com uma extensão vocal de cerca de três oitavas (Ré2 a Ré5), o que lhe permitia cantar também vários papéis, desde os escritos ou convencionados para soprano até os para contralto.[8] Sua voz original deve ter sido de contralto, mas sob o treinamento de Manuel García desenvolveu toda a extensão típica de soprano.[4] Era considerada também uma atriz particularmente convincente e emocionante nos palcos e dona de uma personalidade magnética que atraía a platéia onde cantasse. Apesar dos vários elogios de compositores e artistas da época, alguns, como o pintor Eugène Delacroix, a acusavam de não ter classe e refinamento e de tentar "agradar às massas que não têm gosto artístico nenhum".
O mito em torno de Malibran também deriva de seus múltiplos talentos e grande energia: gostava muito de cavalgar, nadar, falava cinco línguas, era hábil também como pianista, desenhista (sobretudo de caricaturas) e compositora , e muitas vezes desenhava ou mesmo produzia seus próprios figurinos. Além disso, sua personalidade intrigante e e forte, beleza e comportamento incomum para a época, aumentaram a sua aura de lenda da ópera.[1][8]
Sobre sua atuação no palco e presença, a novelista George Sand disse após vê-la:[4]
"Ela me fez chorar, estremecer - em uma palavra, sofrer -, como se eu tivesse testemunhado uma cena da vida real. Essa mulher é o principal gênio da Europa, tão bonita quanto uma das Virgens de Rafael, simples, vigorosa e sem afetações."
Em 2007, a mezzo-soprano italiana Cecilia Bartoli lançou um novo álbum, intitulado Maria, em homenagem à diva franco-espanhola, iniciando também uma turnê em vários locais do mundo acompanhada de um museu móvel com pertences de Maria Malibran e informações sobre ela, o que atraiu nova atenção para essa legendária diva.[9]
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