Todos achámos estranho a palavra escoteiro, e eu fiquei de verificar se na realidade se podem usar as duas palavras.
A resposta é que, ambas as palavras existem (o que foi uma surpresa para mim), mas não querem dizer a mesma coisa.
Da Infopédia:
Escuteiro:
nome masculino
indivíduo pertencente a uma associação praticante do escutismo
Escoteiro:
nome masculino
adjectivo1. | aquele que viaja sem bagagem, gastando por escote nas estalagens |
2.pioneiro |
1. | desacompanhado |
2. | leve |
3. | veloz |
O que me leva a concluir que, apesar de existir, a palavra escoteiro está mal aplicada no contexto referido.
Adenda:
Afinal, parece que não...
No site dos ESCOTEIROS de Portugal:
Escotismo / Escutismo
Para quem não conhece a A.E.P. e a História do Escotismo em Portugal pode parecer estranho que se utilizem duas grafias para uma palavra, que, além de homófona é homónima. São vulgares as acusações de erro ortográfico a quem utiliza a expressão "escotismo" - assim mesmo, com um "o" - em vez do actualmente mais vulgarizado "escutismo", com "u"Afinal, qual delas está certa? Estão as duas, como adiante veremos, embora talvez mais a primeira.
Em 1913, após experiências feitas por vários grupos, foi fundada a primeira associação escotista portuguesa, a A.E.P. - Escoteiros de Portugal, segundo os princípios delineados por Lord Baden-Powell, o fundador do movimento escotista. Porque a adopção do estrangeirismo “boy-scouts” não agradou aos seus mentores, foi adoptada uma palavra já existente na língua portuguesa, com uma fonética e um significado muito semelhantes ao scout saxónico: escoteiro, (s.m.) pioneiro; aquele que viaja sem bagagem, gastando por escote; adj. leve; veloz. (Dicionário Porto Editora)
Em 1923, a Igreja Católica idealizou criar outra associação escotista, mas com carácter uniconfessional, destinada exclusivamente aos jovens que professavam a religião Católica Romana. Assim nasceu o "Corpo de Scouts Católicos Portugueses", mais tarde "Corpo Nacional de Scouts".
Por desconhecimento da pronúncia inglesa e inspiração no escotismo católico francês, a expressão "scout" era pronunciada à maneira francesa: "secúte". E, embora com outro desfecho, a história repetiu-se - os responsáveis daquele movimento católico tentaram encontrar uma palavra portuguesa que soasse ao ouvido de uma maneira próxima de "secúte" e com um significado ajustável. Escolheram o "escuta", justificando que, para além da semelhança fonética, o "scout" era atento e observador e, por isso, se adequava ao significado da palavra. Apesar de ser um conceito muito redutor veio a vingar, dando origem ao "Corpo Nacional de Escutas".Durante o regime anterior ao 25 de Abril de 1974, a AEP sobreviveu com grandes dificuldades, sendo considerada indesejável e apenas tolerada. Chegou mesmo a ser publicado um Decreto que extinguia a actividade da AEP nas colónias. Entretanto, o CNE, sob os auspícios da Igreja, atingiu uma notável expansão e, felizmente, conseguiu manter acesa a chama escotista durante a longa noite da ditadura. Enquanto o "escotismo" definhava, o "escutismo" foi-se tornando cada vez mais conhecido dos portugueses.
No entanto, até meados do século, é mais frequente encontrar a grafia "escotismo" em livros e jornais portugueses. No entanto o Dicionário da Academia das Ciências de Lisboa reconhece as duas grafias, tanto mais que os brasileiros sempre escreveram "escoteiro".
Esta diferenciação, nunca foi objecto de grande polémica, até porque os escoteiros consideram-se irmãos entre si e os valores da fraternidade escotista estão muito acima de meros preciosismos etimológicos. Pelo contrário, os escoteiros até consideram vantajosa a existência das duas grafias, pois assim se torna muito mais fácil identificar a que associação pertence o adepto dos ideais de Baden-Powell.
E no FLIP
Relativamente ao uso geral da língua, as palavras escoteiro/escuteiro e escotismo/escutismo correspondem a dois pares de sinónimos, a que se podem juntar outros pares como escotista/escutista ou escoteirismo/escuteirismo. Qualquer delas está correcta ortograficamente e pode dizer-se que são pares de variantes gráficas homófonas.
A discussão que se gera à volta delas decorre essencialmente do registo lexicográfico destas palavras (ou da ausência dele) ou de visões ligeiramente diferentes do chamado movimento escutista (ou escotista).
Para compreendermos melhor os argumentos utilizados, é necessário fazer alguma pesquisa, não tanto linguística, mas acerca da história do próprio movimento escutista em Portugal, que permita perceber o motivo da existência destas variantes (no Brasil, o problema não se coloca, pois as variantes com -u- são consideradas lusismos). Para isso, é esclarecedora a breve nota a que podemos aceder no sítio da Associação de Escoteiros de Portugal, que nos apresenta brevemente a história do movimento, salientando que esta foi esta primeira associação de Portugal que utilizou a palavra escoteiro, já existente na língua e com o significado de "pessoa que viaja sem bagagem", para traduzir o inglês scout. Só mais tarde apareceu o Corpo Nacional de Escutas, movimento católico que assumiu uma dimensão maior e que, para a tradução de scout, utilizou a palavra escuta (de que depois derivaram escuteiro e escutista), já existente na língua como derivado regressivo do verbo escutar.
Sem ter a pretensão de fazer um levantamento exaustivo na lexicografia portuguesa, podemos verificar no Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa de José Pedro Machado que a palavra escoteiro está documentada na língua desde o séc. XVI em Lendas da Índia por Gaspar Correia, publicadas pela Ordem da Classe de Ciências Morais, Políticas e Belas Letras da Academia Real das Ciências de Lisboa, sob a direcção de Rodrigo José de Lima Felner, 1858: "...tudo puderam bem carregar, ficando os homens escoteiros e despejados para andar o caminho". O registo da acepção que diz respeito aos membros de movimentos semelhantes àquele que foi criado por Baden-Powell é bem mais recente.
Rebelo Gonçalves, no seu Vocabulário da Língua Portuguesa (Coimbra: Coimbra Editora, 1966), referência importante para a lexicografia portuguesa, considera escoteiro, escotismo e escotista como variantes brasileiras de escuteiro, escutismo e escutista, respectivamente. Nesta opção, segue o que está no Vocabulário Ortográfico Resumido da Língua Portuguesa, da Academia das Ciências de Lisboa (Lisboa: Imprensa Nacional de Lisboa, 1947).
Também o dicionário de Cândido de Figueiredo regista escoteiro como brasileirismo, na acepção que aqui nos interessa e as formas escuta e escuteiro como as preferenciais em Portugal. De notar que estamos a falar da edição coordenada por Rui Guedes (25.ª ed., 1996), pois em edições antigas, nomeadamente na edição de 1913, por exemplo, apenas consta a entrada escoteiro, com a acepção "aquele que viaja sem bagagem".
José Pedro Machado, nas várias edições do Grande Dicionário da Língua Portuguesa (por exemplo, Lisboa: Amigos do Livro, 1981 e Lisboa: Círculo de Leitores, 1991), outra grande referência na lexicografia portuguesa, regista também escuteiro (assinalando neste verbete, que "No Brasil, usa-se a forma escoteiro"), escutismo e escutista (nestes dois últimos verbetes, confrontando com as formas em -o- para avisar o consulente de que se trata de verbetes diferentes, não sinónimos). Curiosamente, não regista escuteirismo, mas sim escoteirismo, definindo-o de maneira bastante abrangente, de modo a incluir o movimento idealizado por Baden-Powell e qualquer movimento organizado em moldes semelhantes. Por outro lado, se no verbete escuteiro este dicionário assinala a forma escoteiro como brasileira, no verbete escoteiro, com o sentido sobre os qual nos debruçamos, não tem qualquer indicação de que se trata de brasileirismo, estando o verbete escoteiro definido, com etimologia e sem qualquer registo geográfico (o mesmo acontece com escotismo, que remete para escoteirismo).
O Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea da Academia das Ciências de Lisboa (Lisboa: Verbo, 2001), por sua vez, parece ser o primeiro a registar os vários pares de variantes gráficas, sem distinguir registos de língua pertinentes. Neste sentido apresenta a definição nas formas com -u-, por serem mais usuais, e uma remissão nas formas com -o-.
Por motivos diversos, quer etimológicos, quer históricos, estes pares de palavras surgiram na língua, à semelhança de muitos outros casos de variação, e podem ser considerados sinónimos, sem que haja motivo para considerar uma ou outra forma mais correcta do que outra. Adicionalmente, e sobretudo entre os membros ou simpatizantes do movimento escotista/escutista em Portugal, a distinção escoteiro ou escuteiro permite também distinguir, respectivamente, entre os membros da Associação de Escoteiros de Portugal (de cariz interconfessional) e os membros, bem mais numerosos, do Corpo Nacional de Escutas (de cariz católico e estruturado numa relação directa com as dioceses).
Apesar de tudo, não me parece correcto que se usem as duas palavras que, ainda por cima são homófonas.
Imaginem a situação:
Alguém me diz: Eu sou esco/uteiro. Ao que me vejo obrigado a perguntar: Mas é esco/uteiro com "u" ou com "o"?
Talvez a Infopédia esteja mal informada neste caso. No Brasil, só se usa a palavra Escoteiro, para nós é muito estranho "Escuteiro". Há no Brasil a União dos Escoteiros do Brasil (http://www.escoteiros.org.br) e mesmo em Portugal existe a Associação de Escoteiros de Portugal (http://escoteiros.net). Alguns sites trazem explicações mais detalhadas sobre estas palavras:
ResponderEliminarhttp://www.flip.pt/tabid/325/Default.aspx?DID=4255
http://escoteiros.net/new_site/artigo-Escotismo_Escutismo-7-0-8
Caro itamarc
ResponderEliminarObrigado pelo seu comentário. Vou colocar esse informação no "post".
E eu que tanto barafustava que escoteiro nem existia...
ResponderEliminarSomos dois Henrique. De qualquer forma as diferenças parecem-me mais a nível "clubístico" do que de evolução linguística.
ResponderEliminarMas é só uma opinião.
Alberto
Pois, eu sabia que existiam as duas. E sabia que podiam ser aplicadas ao que nós conhecemos por 'escuteiros', porque era uma questão que estava relacionada com o tipo de actividade dos escuteiros e a associação às organizações.
ResponderEliminar( Há um tipo de escuteiros, os escoteiros, que são mais vocacionados para viajar e andar à aventura), foi o que na altura me explicaram...
Tb não há quem saiba a diferença entre história e estória...
A verdade é que existem as duas palavras, escuteiros com 'u' e escoteiros com 'o'.
ResponderEliminarAqui em Portugal existem as duas, mas onde se encontra mais jovens , cá , é no movimento escuteiro .
Para nós , a diferença é: um escoteiro com 'o', é um movimento escotista onde a proposta é desenvolvimento do jovem, por meio de um sistema de valores que prioriza a honra, baseado na Promessa e na Lei escoteira, e através da prática do trabalho em equipe e da vida ao ar livre, fazer com que o jovem assuma seu próprio crescimento, tornar-se um exemplo de fraternidade, lealdade, altruísmo, responsabilidade, respeito e disciplina. Um escuteiro com 'u' pertence ao movimento escutista católico , ou seja é é tudo como nos escoteiros , mas que engloba também a religiao .
De país para país , de estado para estado , as coisas são diferentes . No Brasil primeiro são Lobinhos (senão estou enganada), Escoteiros , Senior e Pioneiros .
Em Portugal primeiro são Lobitos , depois Exploradores , Pioneiros e por último Caminheiros . Depois há os cheges e dirigentes .