Li este pequeno livro enquanto estive em Lisboa. Lê-se tão depressa, que nem cheguei a colocá-lo na área "Estou a ler " do Outras Escritas.
O autor define esta "No meu deserto" como um "Quase romance" e esta expressão, além de original, encaixa perfeitamente na obra e no tipo de escrita.
Que se desenganem os leitores que esperam desta obra a grandeza e densidade do "Equador" ou mesmo, em menor escala, do "Rio das Flores". "No meu deserto" relata uma pequena história de amor, contada a duas vozes. Uma história de amor efémera que acontece durante uma expedição ao deserto e que termina logo após, porque só fez sentido no deserto.
Lê-se em pouco mais de uma hora ou, para os que gostam de saborear as palavras, numa tarde de verão...
“Esta história que vos vou contar passou-se há vinte anos. Passou-se comigo há vinte anos e muitas vezes pensei nela, sem nunca a contar a ninguém, guardando-a para mim, para nós que a vivemos. Talvez tivesse medo de estragar a lembrança desses longínquos dias, medo de mover, para melhor expor as coisas, essa fina camada de pó onde repousa, apenas adormecida, a memória dos dias felizes.” «Éramos donos do que víamos: até onde o olhar alcançava, era tudo nosso. E tínhamos um deserto inteiro para olhar.» «Ali estavas tu, então, tão nova que parecias irreal, tão feliz que era quase impossível de imaginar. Ali estavas tu, exactamente como te tinha conhecido. E o que era extraordinário é que, olhando-te, dei-me conta de que não tinhas mudado nada, nestes vinte anos: como nunca mais te vi, ficaste assim para sempre, com aquela idade, com aquela felicidade, suspensa, eterna, desde o instante em que te apontei a minha Nikon e tu ficaste exposta, sem defesa, sem segredos, sem dissimulação alguma.» «Parecia-me que já tínhamos vivido um bocado de vida imenso e tão forte que era só nosso e nós mesmos não falávamos disso, mas sentíamo-lo em silêncio: era como se o segredo que guardávamos fosse a própria partilha dessa sensação. E que qualquer frase, qualquer palavra, se arriscaria a quebrar esse sortilégio.» «Eu sei que ela se lembra, sei que foi feliz então, como eu fui. Mas deve achar que eu me esqueci, que me fechei no meu silêncio, que me zanguei com o seu último desaparecimento, que vivo amuado com ela, desde então. Não é verdade, Cláudia. Vê como eu me lembro, vê se não foram assim, passo por passo, aqueles quatro dias que demorámos até chegar juntos ao deserto.»
Pois, o Equador está numa fasquia bastante alta e criou bastantes expectaivas nos leitores.
ResponderEliminarEu já não gosstei tanto do Rio das Flores... senti-o como 'obra inacabada'... não cheguei ao fim com aquele 'gostinho' de satisfação...
Deste já ouvi tanta coisa que nem sei... só qdo ler..