terça-feira, 13 de abril de 2010

Rossini for tenor - Rockwell Blake

Já referi aqui no Outras Escritas por variadíssimas vezes, que o tenor Rockwell Blake é um dos tenores que mais aprecio a interpretar Rossini.

Adquiri recentemente um CD duplo do tenor, lançado em 2004 que conjuga dois álbuns editados em 1987 e 1989.

Neste trabalho o tenor presenteia-nos com a sua interpretação das árias mais famosas do reportório rossiniano que são das árias de mais difícil interpretação para qualquer cantor.

Conheço muito bem a voz de Blake quer por gravações quer ao vivo. Tive a sorte de assistir a uma das últimas aparições do tenor em palco quando interpretou no Teatro Nacional de S. Carlos a personagem de Uberto na ópera La Donna del Lago de Rossini em 2005. Digo que tive sorte porque o tenor não fazia inicialmente parte do elenco, mas acabou por ser o substituto de Juan Diego Flórez que cancelou por motivo de doença. Para muitos, o facto de Flórez não comparecer nas duas récitas programadas foi um infortúnio, mas para mim ter a oportunidade de ouvir Blake foi uma dádiva.

Mas falemos da voz. O timbre não é belo, admito isso, mas é especial. Já aqui referi por variadíssimas vezes que não gosto particularmente de vozes cujo timbre não é facilmente identificável. Por mais belas que sejam, essas vozes parecem-me sempre demasiadamente artificiais e dizem-me pouco.

Não sendo o timbre de Blake a característica que mais se destaca na sua voz, há toda uma série de outras características que fazem dele um dos melhores intérpretes de Rossini que alguma vez ouvi.
Em primeiro lugar devo falar da técnica. É soberba! De tal forma que nem nos apercebemos que existe. Não será isto um contra-senso? - perguntar-me-ão. Não é! A técnica deve existir, mas deve ser o mais imperceptível possível, pelo menos para quem ouve. Por exemplo, Blake parece que não tem qualquer necessidade de respirar. Não há praticamente respirações perceptíveis nas suas interpretações a não ser as que introduz propositadamente para acrescentar alguma emotividade.

Em segundo lugar a extensão vocal. As diferenças de cor entre as passagens graves e agudas são quase imperceptíveis, as notas graves não perdem muito em volume e as agudas são interpretadas sem qualquer evidência de esforço (ré sobre-agudo por exemplo).

Finalmente a agilidade. Inconfundível e incomparável. As passagens mais rápidas são interpretadas sem quaisquer falhas. As notas estão lá todas e de forma clara sem dissimulações (a-a-a e não ah - ah - ah).

Dos CD fazem parte, para além da árias mais famosas de Rossini, dois duetos para tenores (Ermione e Ricciardo e Zoraide) e o famoso terceto para tenores da ópera Armida. Acompanham Blake os temores Peter Jeffes e Peter Bronder.

Este é, sem dúvida, uma das melhores obras em CD da minha vasta colecção. Chama-se Rossini for Tenor, mas atrever-me-ia a chamar-lhe Tenor for Rossini.


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