quinta-feira, 8 de abril de 2010
Quinta Lugares Cruzados III (Ilha deserta)
Nestas deambulações pelos mais diversos lugares, que escrevo às quintas-feiras "ao despique" com a Reflexos, teríamos, mais cedo ou mais tarde que chegar à "Ilha Deserta". Chegámos cedo, e o tema, ou lugar, até foi escolhido por mim...
A ideia que todos temos de uma ilha deserta é a de que será um local paradisíaco onde poderíamos passar o resto dos nossos dias num estado de felicidade eterna, sem nada para fazer, ou por outra, a fazer apenas aquilo que mais gostamos e, muito importante, sem quaisquer problemas ou coisas menos boas para resolver.
Mas será na realidade assim? Eu vivo numa ilha e sinto constantemente necessidade de sair dela e explorar outros locais. Claro que esta ilha pode ser paradisíaca mas é tudo menos deserta. Posso assim desde já concluir, que o facto de um estado do felicidade eterna estar associado a viver numa ilha já é para mim limitativo. Depois, nem tanto ao mar nem tanto à terra, uma ilha sem "viva alma", deve ser um grande aborrecimento...
Confusos? Eu também...
O conceito de "Ilha Deserta" está sempre associado a uma fuga do local onde estamos ou dos problemas que temos de enfrentar nas nossas vidas. É quase como a expressão "estou a precisar de férias" que tanto usamos no nosso dia a dia, quando passamos por situações laborais menos boas que não conseguimos compensar com um descanso de fim-de-semana.
Mas porquê uma ilha e porquê deserta? Seremos todos nós uns Robinsons Crusoes em potência? O facto da ilha sonhada ser deserta, não implicaria vivermos sozinhos o resto dos nossos dias?
E como responder às perguntas "cliché":
-Que obra musical levarias para uma ilha deserta?
-Que livro levarias para uma ilha deserta?
-Que filme?
-Que objectos? Que recordações?
Obras musicais? Em CD, DVD? Mas na ilha existe electricidade?
Sempre podemos levar uns painéis solares, talvez... e mais umas baterias, para podermos ouvir música durante a noite, quando não há sol que alimente os painéis.
E o livro? Só um? Mas se não há nada para fazer, passaríamos muitas horas do dia a ler e o livro seria lido num instante! Solução: levar uma biblioteca...
Filme? Outra vez o problema da electricidade.
Objectos? Quais? A maioria não teria grande utilidade.
Mas falemos da ilha em si, como um espaço físico. Que dimensão teria? Se fosse muito pequena correríamos o risco de ter sempre os "pés de molho", se fosse muito grande andaríamos constantemente perdidos e sem rumo...
E o mar? Água tépida exige-se para tomar uns bons banhos. Mas... se assim for a nossa ilha terá que ser naqueles locais do globo que "apanham com uns furacões jeitosos" que levam tudo pelos ares...
E a comida? Para quem não gosta de cozinhar como eu, este seria certamente um problema difícil de resolver. Já me estou a ver a pedir ajuda ao Sexta-feira (do Robinson Crusoe). Mas se houvesse um Sexta-feira a ilha já não seria deserta...
Por esta altura o leitor já deve estar a pensar que endoideci de vez, que não sei o que quero e que, ainda por cima, só coloco defeitos na "Ilha Deserta", um conceito tão generalizado de felicidade e bem-estar.
Pois a única conclusão a que consigo chegar no meio de tanta deambulação é a de que a "Ilha Deserta" sou eu próprio. O meu mar são as pessoas que me rodeiam e de quem eu gosto, que gostam também de mim e que me completam. O meu livro é uma grande biblioteca na qual me cultivo e cresço todos os dias. E a minha música é a luz dos meus dias e para além de tudo isto ainda tenho as minhas viagens e a minhas paixões... e de vez em quando aquele dolce far niente que sabe tão bem.
O meu bem-estar não o busco num local remoto, busco-o dentro de mim e trabalho afincadamente por ele.
Há sempre coisas a corrigir, há quedas que precisamos dar e acidentes constantes no percurso. Mas fugir adianta? Não! Afinal a "Ilha Deserta" não está em parte nenhuma à nossa espera e não é tábua de salvação alguma.
Portanto, meus caros leitores, termino com uma citação do grande Raul Solnado: Façam favor de ser felizes - à qual acrescento, que enfrentem a vida pelos cornos e tomem todas as decisões que têm que tomar para que a ilha que existe em cada um de vós seja um local aprazível...
E você Reflexos para que ilha deserta fugia?
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Definitivamente, ilha deserta na verdadeira acepção da palavra não será para nós... nem com um Sexta-feira.
ResponderEliminarEsta semana fomos ter ao mesmo 'sítio' ;-)
Pois Sabado agora vou ir ao lido não sei ao certo o local, mais vai haver uma entrega de livros de uma editora na parte da manhã, pois vou com a minha maria la ver a cena...
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