quinta-feira, 1 de abril de 2010

Quinta, lugares cruzados II (Aeroporto)


Falar ou, neste caso, escrever sobre o aeroporto, ou um aeroporto num sentido genérico é para mim um prazer. Ao contrário da maioria das pessoas, os aeroportos são para mim locais aprazíveis e onde me sinto bem.

Mas comecemos pelo princípio.

A aviação civil sempre foi para mim um fascínio. Em criança vivia muito longe de um aeroporto e os aviões para mim eram aquelas coisas pequeninas que passavam num céu muito azul e que deixavam um rasto branco atrás de si. As idas frequentes a Lisboa, proporcionavam algum contacto mais próximo com os aviões, uma vez que sobrevoavam a cidade constantemente para aterrar ou descolar. Lembro-me perfeitamente de ficar com o coração a bater mais depressa quando um Boeing 707 da TAP passou mesmo em cima do carro do meu pai na segunda circular, instantes antes de aterrar.

A primeira viagem de avião surgiu uns bons anos mais tarde por altura da viagem de fim de curso. Foi um Porto-Lisboa, seguido de um Lisboa-Recife. Lembro-me bastante bem desta primeira experiência nomeadamente, a chegada ao aeroporto (do Porto), o check in, o embarque, o armar de portas, o push back, o barulho dos motores, o taxiway, a aceleração na pista (rolling), o rotate e o takeoff (descolagem). Tinha finalmente realizado um dos meus sonhos: viajar de avião.

Depois desta primeira experiência, nunca mais parei. O facto de ter vindo viver para uma ilha uns meses depois foi como ouro sobre azul e fez com que passasse a viajar de avião frequentemente.

Mas vamos aos aeroportos, que não quero perder o fio à meada e falar somente de aviões. Os aeroportos são estruturas de apoio ao embarque e desembarque de passageiros e carga em aeronaves. Com a massificação do transporte aéreo, os aeroportos das grandes cidades tornaram-se infraestruturas enormes por onde passam diariamente milhares de pessoas.
Tornar estes locais, seguros, eficientes e ao mesmo tempo aprazíveis para os passageiros, é um autêntico desafio para quem projecta quer um novo aeroporto quer uma remodelação numa estrutura já existente.

Chegar a um aeroporto é, para mim, um prazer. Sei que para a maioria das pessoas, as viagens de avião são maçadoras e utilizar os aeroportos é apenas uma necessidade inevitável, no entanto, se estivermos atentos, estar umas horas num aeroporto, pode tornar-se numa experiência interessante. Falo, obviamente para os que se sentem confortáveis com as viagens de avião. Para os mais receosos é inevitável que o tempo de espera é sempre agonizante.

Neste contexto, há vários tipos de aeroportos e para cada um deles várias experiências possíveis.

Comecemos pelo "aeroporto de casa". Chamo "aeroporto de casa" ao aeroporto que fica mais próximo do local de residência e que é, por esse motivo, o aeroporto que cada um de nós mais utiliza. É também o que melhor conhecemos e talvez o que menos nos surpreende. Há sempre o risco do "aeroporto de casa" se tornar maçador e rotineiro, no entanto, o tempo que nele passamos pode ser sempre aproveitado para colocar alguma leitura em dia ou terminar um trabalho. Para além disso já conhecemos todas as lojas e sempre podemos comprar o perfume de sempre ou uns chocolates para alguém. Como as nossas viagens começam quase sempre neste aeroporto, não precisamos chegar com demasiada antecedência uma vez que conhecemos muito bem todos os locais e os procedimentos para embarcar.

No meu caso, posso afirmar que não tenho um, mas sim dois "aeroportos de casa". O primeiro na Madeira e o segundo em Lisboa. Isto porque a escala em Lisboa é quase sempre inevitável quando se viajar a partir da Madeira. Nenhum destes aeroportos é dos meus preferidos. O da Madeira, embora novo, é acanhado, não muito confortável e sem mangas de embarque, o de Lisboa (terminal 1) é velho, está eternamente em obras e é pouco funcional e o Lisboa (terminal 2) é um autêntico barracão, sem janelas e cheio de correntes de ar.
Como faço então para tornar as minhas passagens frequentes por estes aeroportos mais agradáveis?
Na Madeira é relativamente fácil. Há sempre qualquer coisa interessante para ver da excelente varanda com vista para a pista. A pista do aeroporto da Madeira é das mais interessantes a nível mundial para observação de aterragens e descolagens e mesmo para quem não é fascinado pela aviação, passar uns momentos na varanda pode ser uma experiência interessante. Depois o piso superior da aerogare, precisamente o que dá acesso à varanda, é geralmente calmo e ideal para se ficar um tempo a ler um livro.
Em Lisboa (terminal 1) é mais difícil. Não há muitos locais sossegados, a não ser que o dia seja calmo em termos de tráfego. No entanto há alguns locais do quais se podem observar aterragens e descolagens. É geralmente nestes locais que passo o meu tempo, muitas vezes com um livro e o inevitável mp3.
Lisboa (terminal 2) é dos piores terminais de aeroporto que conheço. Aqui é difícil passar o tempo. Um livro e um mp3 são obrigatórios num espaço interior, onde muitas vezes quase nem se encontra lugar para sentar.

Para além dos "aeroportos de casa" há os aeroportos que, por qualquer razão (trabalho ou lazer), utilizamos com alguma frequência e que conhecemos relativamente bem. Nestes, embora haja sempre pormenores que nos escapam, sentimos-nos quase em casa. Conhecemos as lojas, sabemos que há locais onde é melhor usar o elevador e não a escada rolante e conseguimos quase sempre encontrar um local onde possamos passar um bom bocado, longe das portas de embarque mais utilizadas.
No meu caso, o aeroporto de Bruxelas encaixa perfeitamente nesta categoria. Ao chegar a este aeroporto, passo sempre no mesmo bar restaurante e sento-me sempre na mesma área, ao fundo do terminal, com vista privilegiada para uma das pistas e sem grandes aglomerações de passageiros. Demoro mais de 10 minutos a chegar, mas é um local que vale a pena.

Os aeroportos que conhecemos mal ou que visitamos pela primeira vez, enquadram-se numa outra categoria. Neste caso costumo dividi-los em aeroportos de pequena ou média dimensão e grandes aeroportos. Resalvo que um grande aeroporto é para muitas pessoas o que defini como "aeroporto de casa", o que não é o meu caso nem o de nenhuma pessoa que viva no nosso país.

Comecemos pelos aeroportos de pequena ou média dimensão. Quando conhecemos mal ou desconhecemos um pequeno aeroporto, não nos devemos preocupar em demasia com o que possa acontecer durante o tempo em que ali vamos estar. Geralmente estes aeroportos são locais sossegados e de fácil utilização. As distâncias a percorrer no seu interior nunca são muito grandes e, se chegarmos com a devida antecedência, teremos tempo para chegar confortavelmente à porta de embarque. Se tivermos algum tempo de sobra, encontramos facilmente um local sossegado. Nestes aeroportos costumam existir vários pontos onde se podem observar aterragens e descolagens, uma vez que as pistas costumam situar-se relativamente perto das aerogares.
Como exemplo deste tipo de aeroportos, destaco aquele que considero o melhor aeroporto Português, o aeroporto do Porto. A infra-estrutura é funcional, eficiente, arejada e agradável. Diria que parece que nem estamos em Portugal, mas não gosto de me incluir naquele grupo de portugueses que diz mal de tudo o que é nosso. O aeroporto do Porto é um aeroporto de excelência, que já ganhou muitos prémios e que é português. Sim Senhor!

Finalmente, os grandes aeroportos. Usar pela primeira vez um grande aeroporto pode ser uma aventura. É sempre aconselhável chegar com alguma antecedência, não vá ocorrer algum imprevisto. No caso de se fazer uma escala num destes aeroportos é também aconselhável ter um tempo mínimo de duas horas entre voos.
Na maioria destes aeroportos existem mais do que um terminal e é essencial saber antes de chegar, para qual terminal nos devemos dirigir. O terminais têm vindo a ser construídos à medida que o tráfego tem aumentando, o que significa que há terminais já antigos e terminais modernos. Os terminais mais recentes são geralmente mais agradáveis e fáceis de usar.
Uma zona que pode ser problemática é a do controlo no acesso às portas de embarque. A segurança é cada vez mais apertada e a demora nesta zona pode ser significativa.
Devido ao elevado número de passageiros que frequentam um grande aeroporto, não será de esperar que se encontrem facilmente locais sossegados. No entanto, há sempre aqueles pontos a partir dos quais se podem observar aviões de todo o tamanho e feitio a descolar ou a aterrar. São de evitar as zonas das portas de embarque mais utilizadas, que se encontram geralmente nas zonas mais centrais dos terminais.
Mesmo dentro do mesmo terminal, chegar a porta de embarque do nosso voo pode demorar algum tempo (por vezes mais de 20 minutos), pelo que é preciso estar atento ao horário do voo.

Não frequento grande aeroportos com muita frequência, se bem que tenha estado em todos os maiores da Europa mais do que uma vez (Londres Heathrow, Frankfurt, Amesterdão e Paris Charles de Gaulle). Não consigo escolher o melhor ou o pior. Tudo depende do terminal que se utilize. Por exemplo Já estive num terminal excelente no Aeroporto Paris Charles de Gaulle quando embarcava para um voo da Air France e num péssimo terminal no mesmo aeroporto para embarcar no voo da Icelandair.


Em resumo, utilizar um aeroporto não será para a maioria das pessoas, uma experiência agradável. No entanto, com uns pequenos "truques" podemos sempre tornar útil o tempo que aparentemente ali perdemos.

Para além de tudo isto, os aeroportos são locais mágicos onde momentaneamente se cruzam pessoas de todas as nacionalidades, etnias e credos. São locais de penosas despedidas e de felizes reencontros. São autenticas portas para o mundo...


Dedico este texto a todos os meus amigos da Madeira Spotters que tal como eu, têm um enorme fascínio pela aviação e por tudo o que a rodeia. Aeroportos incluídos.


E você Reflexos, por que aeroportos anda?

4 comentários:

  1. Que saudades de aeroportos.
    O meu de casa esta´classificado como um dos melhores... o de Sá Carneiro...

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  2. Ah, a Reflexos também é do Porto? Muito prazer, não sabia.

    Alberto, até vou estar mais atento ao aeroporto de Zurique, a ver se encontro sítios sossegados para ver a pista. Nunca tinha achado piada às gares, mas o seu post é bem interessante.

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  3. Mário, a Reflexos é tripeira de ginja.

    Quanto a Zurique, o aeroporto não é mau. Passei lá muitas vezes quando a TAP era do grupo da extinta Swissair.

    Um abraço

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  4. :)
    É como dizes Alberto, vale sempre a pena chegar mais cedo ao aeroporto para desfrutar de toda a envolvência.
    Confesso que sou daqueles que antes de chegar ao aeroporto, fico sempre stressado para que não haja atrasos ou outros imprevistos que compliquem as coisas mas, uma vez o check-in feito e os cartões de embarque na mão...ah é hora de aproveitar...especialmente se for em grandes e movimentados aeroportos que, infelizmente não frequento assim tanto...

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