quinta-feira, 6 de maio de 2010

Quinta, Lugares Cruzados VII (Cafés)


Na semana passada a Reflexos escolheu como tema da rubrica Quinta, Lugares Cruzados, a Nossa Casa. Numa atitude reactiva, escolhi para esta semana Os Cafés como lugares a cruzar.

Numa primeira abordagem a este tema, penso no meu pai e no Ervedal (Alentejo). Quando eu era pequeno, era hábito nas pequenas aldeias do interior, os indivíduos do sexo masculino reunirem-se diariamente nos cafés depois de um dia de trabalho. As tertúlias ou conversas de café duravam até à hora de jantar, altura em que erra interrompidas para serem de novo retomadas até à hora de deitar. Os fins-de-semana eram passados de café em café. Este deambular de café em café fazia com que os homens passassem muito pouco tempo em casa e consequentemente participassem pouco no processo educativo dos seus filhos. Infelizmente isto aconteceu comigo, o que fez com que o meu relacionamento com o meu pai fosse nos tempos da minha infância e adolescência algo frio e distante. Felizmente a situação alterou-se mais tarde e criaram-se entre nós laços bem mais fortes.

Por outro lado, foi através do meu avô, pai do meu pai, homem bastante mais "caseiro", que tomei pela primeira vez contacto com um café a sério, daqueles cafés míticos que geralmente só existem nas cidades. A idas com o meu avô Alberto a Estremoz eram bastante frequentes e à chegada impunha-se sempre uma ida ao Café Central, um dos míticos cafés da cidade. Ficávamos sempre na mesma mesa e lembro-me como se fosse hoje, das maravilhosas torradas de pão de forma que ali comia. Hoje, o Café Central já não existe. Transformaram-no numa loja de chineses (obrigado ao João Vieira por esta informação). No entanto, o Café Alentejano e o famoso Café Águias d'Ouro mantêm-se abertos e quando visito Estremoz, tomo sempre café neste último.

Resumindo, durante a minha infância e adolescência a minha relação com os cafés foi uma espécie de relação amor-ódio.

Esta situação alterou-se quando iniciei os meus estudos universitários no Porto. Nessa altura o conceito de tertúlia de café foi de tal forma enraizado em mim, que iniciou uma paixão e interesse por este tipo de espaços que dura até hoje.

No café falávamos, no café estudávamos, nos café jogávamos e ríamos e brincávamos! O espaço em si até nem era nada de especial, era pequeno e cheirava muito a tabaco, tinha umas mesas e uns bancos baixos, forrados com napa vermelha. Chamava-se "Bolo Dourado" e hoje em dia já não existe. Lembra-se Reflexos?

E a Padaria Santo António? Este pequeno espaço de padaria/pastelaria/confeitaria/café ficava a caminho de casa. Todos os dias antes das aulas era aí que tomava o meu primeiro café na companhia da Reflexos (tínhamos a sorte de morar os dois para os mesmos lados). No final do dia passávamos novamente pela padaria para um último café e mais dois dedos de conversa. Falávamos de tantas coisas: das aulas, dos professores, dos colegas, de livros... Houve até uma altura em que ficámos viciados em palavras cruzadas! Muitas vezes tínhamos companhia de outros colegas, mas os habitués éramos nós os dois.

Em dias mais festivos, íamos à Cunha, uma pastelaria na Rua Sá da Bandeira. Tinha uns gelados óptimos, mas caros para o nosso bolso. A Cunha ainda hoje existe, e pelo que me pareceu da última vez que estive no Porto, está de saúde. Ainda bem que assim é.

E o Imperial? Café mítico em plena Praça da Liberdade, com um vitral fabuloso em estilo Art Déco. Parava lá sempre para tomar um café quando ia tomar o comboio para o Alentejo na Estação de S. Bento. Tristemente, o Imperial é hoje um McDonalds. Mantiveram-lhe o interior, mas o ambiente perdeu-se.

Quanto a cafés do Porto, devo ainda referir a Brasileira, o Guarani e o Majestic. Cafés que não frequentei muito, mas que foram e são uma referência na cidade. A Brasileira parece que não está a passar pelos melhores dias, mas o Guarani e o Majestic estão de pé e cheios de vitalidade.

Falei de Estremoz e do Porto... e os cafés de Lisboa? A Brasileira do Chiado, o Nicola, o Benard, o Martinho da Arcada, a Suíça, a Mexicana e tantos outros?

E o café onde vou todos os sábados de manhã a que chamam a Esquina do Mundo (Golden Gate no Funchal)?

A lista parece não acabar.

Gosto de café e adoro cafés... Gostos de cafés grandes, espaços de muitas conversas... Cafés belos e míticos... Cafés com história e com histórias para contar.


E você, Reflexos, qual o seu café de eleição?

4 comentários:

  1. Só para informar que o Café Central (Estremoz) não é actualmente uma instituição bancária, mas sim uma "loja dos chineses".

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  2. Caro João Vieira. Obrigado pela correcção.

    Vou corrigir no artigo.

    Cumprimentos

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  3. Antes instituiçãi bancária. Ao menos este mantêm a dignidade ao edifício...

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  4. Instituição bancária e dignidade não combinam numa frase :-)
    Mas indo ao tema, gostei muito do Majestic. Há uns anos fui lá e tomei um delicioso café com uma grande amiga que não via há imenso tempo. Transpira classe.

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