quinta-feira, 20 de maio de 2010

Quinta, Lugares Cruzados IX (Praia)


Nesta Quinta, Lugares Cruzados, desafiei a Reflexos a escrever sobre a Praia.

Nasci e cresci no Alentejo, numa pequena aldeia a mais de 100 quilómetros da praia mais próxima. À primeira vista este facto pode dar a entender que terei tido um contacto tardio com o mar, o que na realidade não aconteceu. Desde muito cedo na minha vida, que cerca de um mês de verão era passado em casa das "Tias das Caldas". As Tias, ambas irmãs da minha avó materna viviam (e ainda vivem) nas Caldas da Rainha, uma cidade com pouco interesse, mas que fica mesmo ao lado de praias como as de S. Martinho do Porto, de Peniche, do Baleal, da Nazaré e da Foz do Arelho.

Foi por isso nestas praias da zona Oeste, com águas frias e cheias de "nevoeiro e neblinas matinais" (eram sempre assim as previsões meteorológicas), que passei grande parte dos Verões da minha infância e que mesmo apesar destas condicionantes, eram a alegria do nosso Verão (meu, da minha irmã e dos meus pais também).
Nas Caldas os dias começavam cedo como uma ida à praça para comprar fruta e outros mantimentos para o dia. Regressávamos depois a casa para ultimar os preparativos (esta era a parte menos agradável para nós crianças, porque, mesmo que estivesse quase a chover, ansiávamos por chagar à praia). Depois partíamos para um dia inteiro de praia.
Os primeiros anos foram passados quase exclusivamente em S. Martinho do Porto, porque uma das Tias alugava sempre uma daquelas barracas com riscas coloridas, onde nos podíamos abrigar. Do vento, entenda-se, porque o sol pouco aparecia. Para além disso, a praia de S. Martinho do Porto é uma baía em concha (uma perfeição natural), o que faz com que o mar seja sempre calmo e ideal para as crianças que ou não sabem ainda nadar, ou que ainda se aventuram pouco no mar.
Foi em S. Martinho do Porto que aprendi a nadar, sem que ninguém me tenha ensinado. Aprendi de um dia para outro quando concluí que para não ir ao fundo, basta mexer com algum sincronismo os braços e as pernas.
Os melhores amigos de praia estavam também em S. Martinho, uma vez que as vizinhanças de barraca se mantinham de ano para ano e por isso as crianças eram sempre as mesmas. Éramos bons amigos, apesar de nos falarmos só durante o Verão e de não termos telemóveis nem Facebooks.
Durante a adolescência, as férias nas Caldas mantiveram-se, mas a idas a S. Martinho, passaram a ser intercaladas com idas à Nazaré, ao Baleal e a Peniche. Nestas praias podíamos contactar com o mar a sério e fazer uma das coisas que mais gosto, saltar na ondas. Lembro-me como se fosse hoje de me aventurar nas ondas da Nazaré e de vir ter à praia completamente enrolado numa ou outra das ondas mais fortes. Para além da praia, sempre que íamos à Nazaré era obrigatória a subida ao Sítio no funicular (a que chamam Elevador) e o almoço no restaurante "O Tamanco".

De todas as praias talvez seja a do Baleal a mais bonita e a mais agradável. A vila do Baleal, a poucos quilómetros de Peniche, fica situada numa pequena península que se liga a terra por uma estreita faixa de areia, que em dias de mar tempestuoso acaba por desaparecer nas ondas, transformando o Baleal numa ilha. A praia, de areias finas e brancas, tem uma extensão considerável e zonas de mar abrigadas, ideais para ir a banhos, que contrastam com as zonas mais expostas com ondas ideais para a prática de surf.
As idas ao Baleal, eram quase sempre precedidas de um passeio por Peniche e, pelo menos uma vez no Verão, uma ida ao Cabo Carvoeiro.

Com a chegada da adolescência, as férias nas Caldas foram interrompidas durante três anos. Foram os anos do Algarve (ainda com os pais). Habituados que estávamos às águas frias e revoltas do Oeste, o Algarve apresentou-se-nos como o "paraíso na terra" (hoje mudei completamente de opinião), com os seus dias ensolarados e as suas águas cálidas. Ficávamos hospedados numa casa em Albufeira e a praia que habitualmente frequentávamos era a praia do Peneco, mesmo no centro da então vila. De notar que no início dos anos oitenta, o Algarve tinha ainda algo de paradisíaco que hoje se perdeu completamente.

Depois destes três anos, as férias voltaram a ser passadas em casa das "Tias das Caldas".

Confesso que não me lembro de quando foi a última vez que fiz férias com os meu pais em casa das tias, mas lembro-me de ainda lá ter ido quando já estava na Faculdade.

Depois disso e no que respeita a férias na praia, ainda fui mais umas vezes ao Algarve com os amigos da Faculdade, ao Brasil em viagem de fim de curso, às Canárias e a Cabo Verde.

Hoje em dia não faço férias de praia. O destino praia enquadra-se num tipo de turismo que não me agrada e ao qual não dou qualquer valor. Vou, no entanto, bastantes vezes à praia nos fins de semana de Verão que passo na Madeira ou no Porto Santo. Continuo a adorar o mar, mas a magia dos tempos de criança perdeu-se...

Voltei há algum tempo a percorrer as praias da minha infância na companhia da minha mãe, mas fomos assaltados por uma onda de nostalgia que nos impede de lá voltar tão cedo. Há coisas que devem ficar no nosso passado e que não devemos tentar repetir porque nunca nos vão saber ao mesmo.

As férias em casa das "Tias das Caldas" ficarão para sempre gravadas na minha memória como as melhores épocas da minha infância.


E você Reflexos, vai muito à praia?

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