segunda-feira, 16 de novembro de 2009

L' italiana in Algeri - Teatro Real de Madrid (13 e 14 de Novembro)

Como tinha referido neste "post", desloquei-me a Madrid para assistir a duas récitas da ópera L'italiana in Algeri em cena no Teatro Real desde o início do mês.

As expectativas eram boas visto fazerem parte do elenco nomes como Kasarova, Pertusi e Mironov que, não sendo cantores de de topo, têm carreiras com alguma consolidação e cantam regularmente em teatros de renome.

Antes de qualquer récita, costumo "preparar o ouvido" com uma audição da obra em CD ou DVD. De L' italiana in Algeri possuo DVD de uma récita no MET com a Marylin Horne que ouvi atentamente antes da partida para Madrid.

Pensará o leitor mais habituado às lides operáticas, que fiz uma grande asneira ao proceder desta forma! Dou-lhe razão. É imperdoável preparar-me para uma récita desta ópera de Rossini ouvindo uma das melhores mezzos (contraltos) rossinianas de sempre. De qualquer forma é a única gravação de que disponho e assim sendo: ou ouvia a Horne, ou lia somente o libretto.

A primeira récita, com o elenco principal, ficou um pouco aquém das minhas expectativas. Achei o Pertusi muito canastrão e demasiadamente sério para a personagem de Mustafá que exige qualidades de um verdadeiro Basso Buffo. Gosto deste baixo e considero que tem excelentes capacidades vocais, mas que se adequam mais a ópera séria.
Mironov possui uma voz bela e ágil, mas falta-lhe volume para um teatro de grandes dimensões como o Real. Nos agudos a voz do tenor parece "encolher" e o uso excessivo da mezza voce, a parecer muitas vezes falsetto, não me convenceu.
A desilusão maior foi com Kasarova. O uso excessivo de um registo de contralto não me foi nada do meu agrado. Nos graves a voz tornava-se demasiadamente cavernosa e o timbre escuro e desapropriado. Outra abordagem que não me agradou foi o uso excessivo de Staccato nas passagens de coloratura. Não sei se isto se deveu a questões de técnica vocal ou se foi usado para enfatizar a astúcia da personagem. Sei que não resultou.
A surpresa da noite (que não foi tão surpresa assim, uma vez que já tinha lido as críticas) foi a interpretação de Carlos Chausson no papel de Taddeo. A voz bem encorpada e ágil conjuntamente com os dotes de representação do cantor convenceram-me plenamente (bravíssimo).

Para a segunda récita não estava com expectativas tão elevadas, uma vez que o elenco não era tão forte (famoso). Estava com curiosidade na Silvia Tro SantaFé, um mezzo soprano espanhol que já tinha visto no S. Carlos a interpretar o Malcolm na ópera La Dona del Lago de forma brilhante. A curiosidade foi satisfeita e as expectativas largamente superadas. A cantora apresentou uma Isabella num registo de mezzo soprano com variações sobre o registo agudo muito bem inseridas e interpretadas. Na ária "Penso alla Pátria" dei-lhe dois merecidos "Brava".
Nicola Ulivieri esteve bem. Melhor que Pertusi.

Resumindo, considero a produção bastante aceitável. Idealmente juntaria a Tró SantaFé com o Chausson, o Ulivieri e o Mironov. Mas, não se pode ter tudo.

Cenários e figurinos como muita cor como seria de esperar. A condução do Jesús López Cobos não é das minhas preferidas, mas considero-a aceitável.

Obrigado ao meu amigo Rui Alves pela óptima recepção em Madrid.

4 comentários:

  1. Alberto,

    Infelizmente também receava pela Kasarova, muito sobre-cotada. Ainda bem que houve outras coisas boas. Não conheço o Chausson nem a Silvia Tro SantaFé, mas fiquei curioso.

    Muito do que diz vem confirmar o que eu tinha lido no blog Living at the Opera,
    aqui:
    http://livingattheopera.com/blog/2009/11/14/rossini-litaliana-in-algeri/#utm_source=feed&utm_medium=feed&utm_campaign=feed

    Abraço

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  2. Olá Mário

    Obrigado pelo envio do link com a crítica. Eu já ia preparado porque tinha lido as críticas nos jornais espanhóis.

    Vou tentar encontrar no youTube um vídeo com a Tro SantaFé e colocá-lo aqui no Outras Escritas.

    Um abraço

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  3. Por acaso viu a produção do S Carlos de 2007, com a Isabella de Barbara di Castri ? Por sinal gostei bem da voz dela, sensual e muito rossiniana. O David Alegret é que fazia um Lindoro bem fraquito.

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  4. Mário não vi a produção de 2007 no S. Carlos.

    Também não conheço a voz da Barbara di Castri, mas prometo investigar.

    Quanto ao David Alegret, em Madrid foi mau, muito mau. Nem me atrevia a comentar. Voz pequena e desafinada...

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