Sabem que o número de inscrições em ginásios sobe consideravelmente no mês de Janeiro? Depois em Fevereiro ou Março, tudo volta à normalidade, com as desistências habituais.
Tudo isto resulta das fabulosas resoluções de Ano Novo que a maioria de nós faz, e que depois não cumpre ou abandona.
Eu não estabeleço metas ou objectivos para os novos anos. E, como amanhã até é feriado e quase nada posso fazer, não vou pensar em estabelecer quaisquer metas, ou objectivos no dia de hoje.
A noite é de diversão! E o que vou fazer é isso mesmo. Divertir-me!
Assim, desejo aos leitores do Outras Escritas, uma fantástica noite Passagem de Ano.
O tenor italiano Piero Visconti, interpretava assim a ária T'amo qual s'ama un angelo da ópera Lucrezia Borgia de Donizetti, ao lado de Joan Sutherland em 1980.
Coloquei ontem no Outras Escritas um vídeo com o soprano Alexandrina Pendachanska a interpretar a primeira ária de Isabel I na ópera Donizetti Roberto Devereux.
Roberto Devereux é considerada uma "ópera terrível" para os sopranos, pela estrema exigência vocal e pelas dificuldades de tornar a personagem Isabel I credível do ponto de vista cénico. Uma intérprete mítica desta ópera foi Beverly Sills, que veio mais tarde a admitir que interpretar Isabel I lhe tinha "roubado" uns bons anos na sua carreira.
Callas e Sutherland nunca interpretaram se atreveram a interpretar Isabel I. Mariella Devia não o fará. Gruberova, no entanto, fá-lo frequentemente e de forma superlativa a nível vocal e cénico.
Como a interpretação de Alexandrina Pendachanska não agradou ao FanaticoUmque é o comentador mais assíduo do Outras Escritas quando o tema dos artigos é a ópera (eu próprio também lhe acho uma estridência excessiva no registo agudo) , deixo aqui um repto para a selecção da melhor intérprete desta ária, com base nos três vídeos que se seguem, disponiblizados no YouTube pelo coloraturafan (11 intérpretes e apenas na cabaletta).
Como poderão verificar a qualidade das gravações é em certos casos muito díspar e não se surpreendam com os "excessos" de algumas cantoras. O desafio é feito a título de curiosidade e não para apreciação técnica detalhada das interpretações.
Gosto desta interpretação de Alexandrina Pendachanska (Nápoles 1998) na ária de entrada de Isabel I na ópera Roberto Devereux de Donizetti.
Tenho como referência desta ópera uma interpretação de Gruberova a que assisti em Munique em 2005 e que considero superlativa. De qualquer forma, Alexandrina Pendachanska está bem a nível vocal e interpretativo, noto-lhe apenas alguma estridência excessiva no registo agudo.
Na sequência do post anterior, aqui ficam mais dois vídeos (captação áudio) da récita da Lucia di Lammermoor com o soprano Mariella Devia, nest caso com o dueto de Lucia com Edgardo (primeiro acto). Edgardo
e interpretado pelo grande e saudoso Alfredo Kraus.
Coloquei há dois dias aqui no Outras Escritas um desafio ao leitores que partilham comigo o gosto pela ópera. No post era apresentado um vídeo com a interpretação do final da cena de loucura da ópera Lucia di Lammermoor de Donizetti, pelo soprano Mariella Devia. O desafio era identificar o que tinha de especial a interpretação.
A resposta foi dada nos comentários, mas de qualquer forma, o assunto merece ser aqui apresentado.
Comecemos pelo início. Uma cena de loucura no mundo da ópera é geralmente interpretada por uma personagem feminina que por razões amorosas enlouquece. Este tipo de cenas teve o seu expoente máximo no período do belcanto (primeira metade do séc. XIX) nomeadamente nas composições de Donizetti e de Bellini. Donizetti compôs cenas de loucura para as óperas, Lucia di Lammermoor, Maria Padilla, Linda di Chamounix e Anna Bolena, e Bellini para as ópera I Puritani e Il Pirata e ainda uma cena de sonambulismo para La Sonnambula.
Como é característico das composições do período do belcanto, neste tipo de cenas, o estado de loucura é transmitido através da voz. Para além disso, e como era prática habitual na época, cada interprete aproveitava estas cenas para demonstrar as suas capacidades vocais, adicionado um conjunto de ornamentações. Globalmente, uma cena de loucura apresenta-se como um verdadeiro desafio vocal para os intérpretes.
A cena de loucura da ópera Lucia di Lammermmor (1835) é, por ventura a mais famosa e a que mais é interpretada. A ópera esteve afastada dos teatros até meados do séc. XX, mas graças a Maria Callas foi recuperada e é hoje apresentada com alguma frequência. Curiosamente foi Lucia que catapultou a carreia de Joan Sutherland em 1958. Sutherland é, na minha opinião a melhor interprete de sempre deste papel.
Mas voltemos à interpretação de Mariella Devia. O que a torna especial é o facto de a cantora interpretar toda a cena na tonalidade de Fá maior e não, como é usual em Mi bemol maior. Curiosamente, Donizetti fez a composição em Fá maior, mas isso torna a interpretação praticamente impossível para a maioria dos sopranos. Mesmo para quem tem poucos conhecimentos de teoria musical (como eu), é fácil concluir que a interpretação em Fá maior obriga a uma tessitura mais aguda que em Mi bemol maior.
Resumindo, a nota sobre-aguda no final de cada uma das árias que compõem a cena é geralmente um Mi bemol, mas no caso de Devia é um Fá (um tom acima). Este facto por ser fora do comum está documentado na Wikipedia, na página relativa à ópera Lucia di Lammermoor (ver mad scene).
Perguntar-me-ão o porquê de o compositor ter escrito e cena em Fá maior se quase nenhum soprano a consegue interpretar nessa tonalidade. A resposta está no facto de a frequência associada a uma nota no tempo em que a ópera foi composta, ser inferior à frequência normalizada para os dias de hoje. Não me alongo mais neste assunto, porque ele está para além dos meus conhecimentos de teoria musical.
Seguem-se três videos com a interpretação de Devia na tonalidade de Fá maior captada ao vivo em 1990 (chamo a atenção para as notas que coloquei no segundo e terceiro vídeos).
Início da cena da loucura. Il dolce suono
Ardon gli insensi. Lucia imagina que esta a casar com Edgardo seu amado.
Chamo a atenção para o que se passa ao minuto 4. Devia em vez de fazer o usual diálogo com uma flauta, faz uma cadenza sem qualquer suporte da orquestra. A voz fica totalmente exposta e atinge o primeiro Fá sobre-agudo (última nota antes da entrada da orquestra)
Spargi d'amaro pianto. Final da cena de loucura, com mais agitação. Segundo Fá sobre-agudo no final.
A identificação das notas pode ser feita através da utilização deste piano virtual.
Mariella Devia não terá interpretado a cena da loucura em Fá maior muitas vezes. Nos vídeos seguintes a cantora faz a interpretação na usual tonalidade de Mi bemol maior.
Cena da loucura interpretada na tonalidade de Mi bemol e da forma que se tem tornado usual. Estava gravação do Scala de Milão foi efectuada em 1992 e está disponível em DVD.
Independentemente da tonalidade, Mareilla Devia é uma interprete extraordinária de Lucia di Lammermoor. Este terá sido o papel que a cantora interpretou mais vezes durante a sua longa carreira. Em 2006 cantou Lucia pela última vez, no Scala de Milão. Terá afirmado na altura que deixava de cantar esta ópera não por questões vocais, mas porque não tinha mais nada a acrescentar à interpretação.
Infelizmente nunca ouvi Devia a interpretar Lucia di Lammermoor ao vivo. No entanto continuo a aguardar com expectativa a Anna Bolena de Barcelona.
Para os mais atentos e sem espreitar no Youtube: o que tem de especial este final da cena de loucura da Lucia di Lammermoor interpretada por Mariella Devia?
O soprano Mariella Devia nunca interpretou a ópera Norma e já afirmou que não o fará. Penso que é pena, mas compreendo as razões do soprano que sempre teve um cuidado extremo na escolha do reportório que interpreta, por forma a preservar as suas qualidades vocais.
Segue-se a sua interpretação da ária Casta Diva. À excepção da primeira nota, que não lhe sai muito bem a meu ver porque ser um pouco grave, tudo o resto me parece de nível superior. Não é uma Sutherland e muito menos uma Callas, mas será do melhor que temos por agora.
Mozart escreveu a ópera Mitridate Re di Ponto quando tinha apenas 14 anos (1770). Apesar da tenra idade do compositor, a ópera já reflecte a sua genealidade, que viria a ser consolidada mais tarde com as óperas que todos conhecemos e que são regularmente apresentadas nos teatros de ópera.
Tomei pela primeira vez contacto com Mitridate Re di Ponto há alguns anos atrás quando comecei a interessar-me pela carreira do tenor Rockwell Blake e adquiri um DVD com a com esta ópera. Blake encarna o papel de Mitridate, que interpreta magistralmente do ponto de vista vocal e cénico. Como já muitas vezes referi aqui no Outras Escritas, Blake não tem uma voz extraordinariamente bela, mas é um perfeccionista do ponto de vista técnico e de estilo (ainda não lhe ouvi rival em Rossini).
Numa das minhas frequentes idas a Bruxelas, tive a oportunidade de assistir, em Outubro de 2007, a uma récita de Mitridate Re di Ponto no Teatro La Monnaie. Do elenco fazia parte um tenor que também está entre o meu rol de preferidos, Bruce Ford. Este cantor, não tendo a perfeição e técnica de Blake, tem no entanto um dos timbres mais belos que já ouvi.
Na récita de Bruxelas, Ford não desiludiu e esteve muito bem acompanhado por Mary Dunleavy (Aspasia), Myrtò Papatanasiu (Sifare) e o agora famoso contratenor Bejun Mehta (Fanace). A Orquestra Sinfónica do La Monnaie foi dirigida por Mark Wigglesworth.
Não existem gravações disponíveis das récitas de Bruxelas, no entanto, Bruce Ford já tinha gravado antes esta ópera em DVD.
Em tão tenra idade, Mozart escreveu a ópera com uma estrutura simples, uma série de árias intercaladas por recitativos. Há no entanto um dueto entre as personagens de Aspasia e Sifare (dois sopranos), que será por ventura o momento mais emocionante de toda a obra.
Aqui fica um vídeo com as interpretações de Yvonne Kenny (Aspasia) e Ann Murray (Sifare).
Uma curiosidade é que, como se pode verificar, Sifare é uma personagem masculina interpretada por um Soprano. Tal deve-se ao facto de Mozart ter escrito a partitura de Sifare para um rapaz soprano.
Morreu aos 93 anos de idade o actor Virgílio Teixeira.
Para além da carreira do actor em Portugal e no estrangeiro, gostaria de assinalar aqui no Outras Escritas o que penso ter sido a última participação do actor num filme. Trata-se da curta-metragem "As memórias que nunca se apagam" de Dinarte Freitas e Eduardo Costa que, curiosamente se volta a exibir durante este mês em diversas salas na Madeira.
Para quem ainda não o fez, ver o filme é um excelente forma de homenagear o actor.
Da Infopédia:
Actor português, Virgílio Teixeira nasceu a 26 de Outubro de 1917, no Funchal. O primeiro filme onde participou foi Ave de Arribação (1943), seguindo-se um papel secundário na comédia Costa do Castelo(1943) onde privou com Maria Matos, António Silva e Fernando Curado Ribeiro. O seu primeiro papel como protagonista foi em José do Telhado (1945), onde personificou a figura do famoso salteador do século XIX. O estrondoso êxito do filme tornou-o um dos galãs mais credenciados do cinema português, só sendo superado em popularidade por António Vilar. Foi então convidado para participar em produções espanholas como Cero en Conducta (Madalena, Zero em Comportamento, 1945), La Mantilla de Beatriz (A Mantilha de Beatriz, 1946), Reina Santa (A Rainha Santa, 1947) e Extraño Amanecer (1947). Regressou para ser dirigido por Perdição Queiroga em Fado, História Duma Cantadeira (1948), onde desempenhou o papel de Júlio, um exímio guitarrista. Neste filme, contracenou com Amália Rodrigues com quem manteve estreitos laços de amizade até à morte da fadista.
Durante os anos seguintes continuou a alternar as filmagens em Portugal e em Espanha. Neste período rodou títulos como El Verdugo (1948), Uma Vida Para Dois (1948), Vendaval (1949), Ribatejo (1949),Agustina de Aragón (1950), Alba de América (1951), Lola, la Piconera (1952), Nazaré (1952), Cañas Y Barro(1954), El Padre Pitillo (O Padre Piedade, 1954) e La Hermana Alegria (1955). No ano seguinte, interpretou o seu primeiro filme em língua inglesa, com um papel secundário na produção de Hollywood Alexander, the Great (Alexandre, o Grande, 1956), onde trabalhou ao lado de estrelas consagradas como Richard Burton, Fredric March e Peter Cushing. No ano seguinte, voltou a trabalhar em Portugal, tendo assinado, ao lado de Laura Alves, António Silva e Raul Solnad, a comédia Perdeu-se um Marido (1957). Estrela maior no cinema espanhol, assumiu papéis de galã em La Estrella del Rey (1957) e La Tirana (1958) antes de voltar a Hollywood para participar em The Seventh Voyage of Sinbad (1958) e The Happy Thieves (Os Alegres Ladrões, 1962), onde trabalhou ao lado de Rex Harrison e Rita Hayworth. Embora sem nunca assumir posições de protagonista, voltou a participar em filmes americanos como The Fall of the Roman Empire (A Queda do Império Romano, 1964), Doctor Zhivago (Doutor Jivago, 1965), A Man Could Get Killed (1966) eReturn of the Seven (O Regresso dos Sete Magníficos, 1966). A partir de inícios da década de 80, radicou-se definitivamente em Portugal, tendo protagonizado a telenovela Chuva na Areia (1984) e os filmes A Mulher do Próximo (1988) e Vertigem (1992).
Há pessoas com "telhados de vidro" que teimam em apontar o dedo a outros quando o seu caso é igual ou pior do que os deles. Será que quem aponta o dedo não sabe que nós sabemos?
O meu Maometto preferido é sem dúvida o cantor Samuel Ramey. No entanto, Michele Pertusi faz neste vídeo uma excelente interpretação.
Este ano ano tive a oportunidade de ouvir Pertusi em L'Italiana in Algeri em Madrid e confesso que o baixo me desiludiu um pouco. Pareceu-me muito contido, ao contrário do que é seu costume.
Mariella Devia interpreta a ária Son regina son guerriera da ópera La Morte di Semiramide do compositor português Marcos Portugal (a quem os italianos chamam Portugallo).
A ária foi incluída num recital da cantora que ocorreu em Pesaro em 1996.
Um peruano que sonha viver em Paris e que rapidamente concretiza esse sonho. Uma mulher que teima em aparecer e desaparecer da sua vida. Um amor desequilibrado... uma entrega total da parte dele e um desprendimento injusto da parte dela.
Estes são os condimentos deste romance fantástico do prémio Nobel de literatura de 2010, que acabei hoje de ler.
Obrigado à minha amiga Reflexos pela oferta do livro.