Mozart escreveu a ópera Mitridate Re di Ponto quando tinha apenas 14 anos (1770). Apesar da tenra idade do compositor, a ópera já reflecte a sua genealidade, que viria a ser consolidada mais tarde com as óperas que todos conhecemos e que são regularmente apresentadas nos teatros de ópera.
Tomei pela primeira vez contacto com Mitridate Re di Ponto há alguns anos atrás quando comecei a interessar-me pela carreira do tenor Rockwell Blake e adquiri um DVD com a com esta ópera. Blake encarna o papel de Mitridate, que interpreta magistralmente do ponto de vista vocal e cénico. Como já muitas vezes referi aqui no Outras Escritas, Blake não tem uma voz extraordinariamente bela, mas é um perfeccionista do ponto de vista técnico e de estilo (ainda não lhe ouvi rival em Rossini).
Numa das minhas frequentes idas a Bruxelas, tive a oportunidade de assistir, em Outubro de 2007, a uma récita de Mitridate Re di Ponto no Teatro La Monnaie. Do elenco fazia parte um tenor que também está entre o meu rol de preferidos, Bruce Ford. Este cantor, não tendo a perfeição e técnica de Blake, tem no entanto um dos timbres mais belos que já ouvi.
Na récita de Bruxelas, Ford não desiludiu e esteve muito bem acompanhado por Mary Dunleavy (Aspasia), Myrtò Papatanasiu (Sifare) e o agora famoso contratenor Bejun Mehta (Fanace). A Orquestra Sinfónica do La Monnaie foi dirigida por Mark Wigglesworth.
Não existem gravações disponíveis das récitas de Bruxelas, no entanto, Bruce Ford já tinha gravado antes esta ópera em DVD.
Em tão tenra idade, Mozart escreveu a ópera com uma estrutura simples, uma série de árias intercaladas por recitativos. Há no entanto um dueto entre as personagens de Aspasia e Sifare (dois sopranos), que será por ventura o momento mais emocionante de toda a obra.
Aqui fica um vídeo com as interpretações de Yvonne Kenny (Aspasia) e Ann Murray (Sifare).
Uma curiosidade é que, como se pode verificar, Sifare é uma personagem masculina interpretada por um Soprano. Tal deve-se ao facto de Mozart ter escrito a partitura de Sifare para um rapaz soprano.
Caro Alberto,
ResponderEliminarMais um texto muito interessante e bem ilustrado. Como imagina, estou em desacordo consigo em relação a Blake ser o melhor intérprete rossiniano. Então e o Florez? Se ele é realmente bom, é em Rossini...
Mais uma diferença saudável de opiniões que temos.
Belo post, Alberto. A voz de Blake é que não se adequa nada a Mozart. Deslumbrante em Rossini, aqui tem um excesso desmesurado de vibrato.
ResponderEliminarObrigado pelo Mitridate , que conheço mal. O dueto é de facto espantoso para um rapaz de 14 anos. Que rapaz !
@FanaticoUm
ResponderEliminarCaro FanaticoUm, ainda bem que gostou do post. Quanto a Blake e Florez, devo dizer-lhe que não estamos totalmente em desacordo. Florez ganha a Blake no timbre, sem dúvida, mas acho Blake mais arrojado. Confesso que não tenho uma explicação lógica e racional para o facto de preferir Blake a Florez em Rossini, mas o que é facto é que Blake consegue causar-me um impacto maior (já lhe ouviu o trilo?). Tive a oportunidade de ouvir Blake na que penso ter sido a sua última apresentação em público. Foi em La Dona del Lago no S. Carlos em substituição de Florez. Hoje penso que tive sorte.
Assisti também ao que penso ter sido o único concerto de Florez em Portugal que ocorreu também no S. Carlos. O tenor era ainda muito jovem, mas devo dizer que causou em mim um impacto estrondoso.
Como vê, penso que não teremos opiniões tão divergentes no caso de Florez como temos no que respeita ao belcanto da Netrebko (risos).
@Mário
Caro Mário, que bom tê-lo de volta aos comentários do Outras Escritas.
Como sabe, sou um pouco suspeito a apreciar Blake e é sempre difícil para mim encontrar-lhe defeitos. Reconheço que haverá um vibrato excessivo, principalmente nas passagens mais graves da primeira ária, no entanto penso que globalmente o tenor não desilude. Mas claro, é em Rossini que deslumbra.
Ainda bem que gostou do dueto.
Caro Alberto,
ResponderEliminarTambém eu assisti ao único concerto do Florez em Lisboa e fiquei igualmente petrificado. Nunca ouvi tantos (e tão bons) dós de peito numa só récita! Só na aria "A mes amis..." da Filha do Regimento foram 18, fora todos os outros. Verdadeiramente impressionante.
O Florez, que conheci por mero acaso, um dia talvez tenha oportunidade de lhe contar, é um daqueles muito poucos cantores que integram um clube muito restrito de artistas que admiro incondicionalmente e que, quando posso, tento perseguir.
Por isto mesmo é que nunca lhe vou perdoar o cancelamento de "La Dona del Lago" no São Carlos (tinha comprado bilhetes para todas as récitas!!), ópera em versão concerto onde ouvi o Blake pela primeira vez. Gostei, mas no enquadramento da grande decepção por que passei, talvez não lhe tenha feito a justiça devida.