No dia 27 de Agosto de 1770 nasceu Georg Hegel.
Da Infopédia:
Nascido em Estugarda em 1770, é geralmente considerado como o «último filósofo da totalidade», tendo marcado o culminar da ambição de sistematismo racional ao tentar integrar todos os domínios da realidade numa arquitectónica englobante que só encontra paralelo em Aristóteles e em São Tomás de Aquino. Na esteira de Fichte e Schelling, o objectivo central de Hegel será o de reconciliar os dualismos remanescentes da filosofia crítica kantiana (fenómeno/númeno, pensado/pensante, natureza/liberdade, saber/fé...), que classificou como simples filosofia «do entendimento», incapaz de ultrapassar as antinomias que ela mesma evidenciara. No centro do sistema hegeliano encontra-se a ambição de superar todas as cisões, «elevando o Homem da vida finita à vida infinita», constituindo assim um projecto grandioso de organização do saber como um todo - o saber absoluto: «(...) que a filosofia se aproxime da forma da ciência - do objectivo de poder renunciar ao seu nome de amor do saber e ser um saber efectivo - eis aquilo que me propus». Com esse fim em vista, Hegel concebe o saber não como um dado mas como um processo, recusando-se a interpretá-lo isolada e independentemente da realidade efectiva. Sensível à essência dinâmica da realidade, todo o esforço sistemático será conduzido à luz da dialéctica, método através do qual pretende apreender o devir, fundamento da essência do pensamento e da realidade. A característica mais inovadora da dialéctica hegeliana é a de assimilar, de forma coerente, a negatividade inerente ao real - ou seja, as determinações contraditórias que estão na base do desenvolvimento deste - no esquema triádico a que recorre para explicar o encadeamento dos diversos momentos do devir: tese (momento afirmativo), antítese (momento negativo, de alienação, resultante da própria tese) e síntese (superação da contradição, num sentido unificador que não elimina, mas conserva, as determinações anteriores). Será de sublinhar que o esquema triádico da dialéctica não se pretende apresentar como um mero formalismo ou artifício racional para encerrar na pura abstracção o dinamismo do real: se, por um lado, funciona como princípio de inteligibilidade assegurando uma descrição adequada do que acontece, ele corresponde, por outro, à estrutura íntima do pensamento e da realidade, pondo em paralelismo a vida e o espírito e autorizando a identificação entre o ser que se manifesta na aparência e a respectiva essência, que se unificam no conceito. Aqui se encontra também a base para a afirmação da evolução simultânea e indissolúvel do ser e do conhecimento do ser, da experiência e da consciência. Sendo assim, a sucessão não se reveste de qualquer casualidade: todo o devir é produto de um desenvolvimento necessário no e para o espírito que progride historicamente no sentido do saber absoluto (que é, simultaneamente, auto-conhecimento), ou seja, no sentido de se reconhecer como sujeito e como substância, encontrando a identidade final entre o ser e o pensamento («todo o real é racional e todo o racional é real»). Tal é o processo que Hegel descreverá detalhadamente nas suas obras mais importantes: na Fenomenologia do Espírito, analisando o trajecto da consciência sensível individual em direcção à autoconsciência e à razão universal; na Ciência da Lógica, em que se debruça sobre a razão pura («a ideia no elemento abstracto do pensamento»), descrevendo o desdobramento desde os conceitos mais indeterminados (ser, nada e devir) até à ideia absoluta; e na Enciclopédia das Ciências Filosóficas em Epítome, elaborando um plano sumário de todo o sistema, articulado em três grandes unidades: a «Lógica», ciência da ideia em si e para si, a «Filosofia da Natureza», ciência no seu ser-outro, e a «Filosofia do espírito», a ideia que regressa a si, depois da mediação do seu ser-outro. Hegel morreu em Berlim em 1831, onde chegou a ocupar o posto de reitor da Universidade, detendo um estatuto privilegiado como filósofo «oficial» do Estado prussiano. No entanto, a ambição do sistema que desenvolveu acabou por se revelar um obstáculo à sua aceitação. Numa época em que o modelo de objectividade proposto pelas ciências naturais, associado a posições materialistas e empiristas, se começava a afirmar como paradigmático, o idealismo absoluto que professara condenou-o a ser visto como um pensador retrógrado que procurou reduzir toda a realidade ao pensamento, motivo pelo qual grande parte da filosofia posterior se constituiu numa cerrada crítica às suas propostas. Só muito recentemente voltaram a despertar alguma curiosidade a originalidade e as virtualidades que as suas análises encerram.
G. W. F. Hegel. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2009. [Consult. 2009-08-27]
Um dos Beethovens da Filosofia meu caro! Mil e um americanos mestrados - quem sabe até doutorados - em filosofia, NEM NUNCA O LERAM! E orgulham-se disso...
ResponderEliminarNão é só com Hegel, mas Hegel é um bom exemplo.