No passado dia 5 de Março voltei a Barcelona para assistir à última récita da ópera Anna Bolena de Gaetano Donizetti, incluida na actual temporada do Teatro del Liceu. Este teatro incluí na temporada algumas récitas com elencos alternativos a que chama "funciones populares" e em que são disponibilizados bilhetes a preços mais baixos. Isto não quer dizer que a qualidade dos espectáculos seja inferior.
Inicialmente estava previsto que fosse Marilla Devia a interpretar Anna Bolena e foi este facto que me levou a adquirir bilhete para o Liceu e passagem aérea para Barcelona há muitos meses. Por motivos pessoais, Mariella Devia cancelou e foi substituída por Maria Pia Piscitelli.
O elenco desta récita foi o seguinte:
Anna Bolena - Maria Pia Piscitelli
Giovanna Seymour - Sonia Ganassi
Enrico VIII - Simón Orfila
Lord Ricardo Percy - Gregory Kunde
Smenton - Maria Rodríguez-Cusí
Lord Rochefort - Marc Pujol
Sir Hervey - Jon Plazaola
Direcção musical - Andry Yurkevych
Encenação - Rafael Duran
Coro e Orquestra do Gran Teatre del Liceu
Da encenação e direcção já falei aqui no Outras Escritas, pelo que este meu comentário vai cingir-se apenas às vozes dos cantores principais.
Maria Pia Piscitelli surpreendeu-me pela positiva. A voz é segura e o timbre agradável. Tem um excelente legatto mas a coloratura é um pouco lenta. A voz é bem suportada no registo grave e por esse facto, a cantora optou sempre por não interpolar notas mais agudas, prática usual nas óperas de bel canto (não houve sobre-agudos em nenhumas das árias).
Gostei particularmente da sua interpretação da ária Al dolce guidami que faz parte da última cena da ópera.
Como actriz, Piscitelli foi bastante razoável.
Sonia Ganassi, como eu esperava, foi uma excelente Giovanna Seymour. A voz é potente, bela e sobretudo, muito emotiva. Gostei particularmente da sua prestação no dueto de Seymour com Bolena em que foi nitidamente superior a Piscitelli, quer em termos vocais quer cénicos. Na ária do 2º acto, a cantora voltou a destacar-se pela segurança vocal e emotividade cénica.
Gregory Kunde excedeu as minhas expectativas. Para além de uma voz de belo timbre e de agilidade considerável, a voz do tenor tem corpo e volume acima daquilo que eu previa. A sua interpretação da ária do 2º acto foi excelente, nomeadamente com a introdução de variações de muito bom gosto na repetição.
Simón Orfila foi repetente no papel de Enrico VIII. Mantenho a apreciação que lhe fiz na primeira récita a que assisti, mas senti que o cantor estava mais à vontade.
Maria Rodríguez-Cusí tem um bom timbre de contralto e fez um Smenton de qualidade. Notei-lhe, no entanto, algumas falhas nas passagens de coloratura.
Globalmente a récita teve uma boa qualidade, destacando-se as vozes de Sonia Ganassi e Gregory Kunde.
Concordo com a sua apreciação. Também tive o privilégio de ver os dois elencos e este segundo, que se poderia julgar muito inferior, de facto não o foi, tendo até um cantor que teve uma prestação muito melhor que o do primeiro elenco. Refiro-me ao tenor principal, em que Kunde foi muito superior a Bros. Todos os restantes tiveram actuações superiores à mediania.
ResponderEliminarCumprimentos musicais
Sim, Kunde foi muito superor a Bros e é um óptimo tenor de bal canto.
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