terça-feira, 27 de agosto de 2013

Guillaume Tell de Gioachino Rossini no Rossini Opera Festival 2013

Assisti no dia 20 de Agosto à última das récitas da ópera Guillaume Tell, integradas no Rossini Opera Festival de 2013.

Foi com grande expectativa que me desloquei mais uma vez a Pesaro e o Guillaume Tell, ponto alto do festival deste ano, não desiludiu.

Como sempre, a ópera principal do festival, é posta em cena na Arena Adriática, um recito desportivo, adaptado muito razoavelmente para o efeito. Desta forma, é possível ter bastante mais publico a assistir do que no pequeno Teatro Rossini.

O elenco da récita foi o seguinte:

Guillaume Tell: Nicola Alaimo
Arnold Melcthal: Juan Diego Flórez
Walter Furst: Simon Orfila
Melcthal: Simone Alberghini
Jemmy: Amanda Forsythe
Gesler: Luca Tittoto
Rodolphe: Alessandro Luciano
Ruodi: Celso Albelo
Leuthold: Wojtek Gierlach
Mathilde: Marina Rebeka
Hedwige Veronica Simeoni

Direcção: Maestro Michele Mariotti
Encenação: Graham Vick
Coreografia: Ron Howell

Orquestra e coro do Teatro Comunale di Bologna

Devo referir desde já que a do ponto de vista vocal a récita esteve sempre a um nível que considero de alta qualidade. No entanto, há algumas interpretações que merecem uma referência mais detalhada.

Nicola Alaimo esteve magistral no papel principal. A sua voz quente e possante esteve sempre fresca e nunca esforçada, mesmo nas partes mais exigentes e difíceis. Devo relembrar que em algumas partes da ópera o barítono enfrenta desafios muito idênticos aos de um barítono Verdiano.

Juan Diego Flórez interpretou o papel mais difícil desta ópera do ponto de vista vocal. Alías, na informação distribuída com o libretto há um capítulo inteiro dedicado à discussão sobre o tipo de tenor que deve interpretar Arnold. Resumido, é um papel muito longo, que exige, por um lado bastante potência vocal e por outro muita flexibilidade. Para complicar as coisas, o tenor tem uma cena e ária longuíssima no início do quarto acto, depois de mais de 3 horas de ópera, e que, para complicar as coisas, é o momento pelo qual todos esperam.
Flórez, como devem calcular, foi mais uma vez a estrela do festival. Embora o tenor interprete a ária que referi anteriormente com alguma frequência nos seus recitais, interpretou pela primeira vez na sua carreira o papel de Arnold na totalidade.
Esteve bem, esteve muito bem, mas notei-lhe algum cansaço no final da ária do quarto acto. Isto notou-se perfeitamente quando começou a prolongar menos o final das frases e também no dó de peito final, que foi pouco potente e curto. De qualquer forma, devo salientar que no geral, Flórez esteve ao seu nível, isto é, provou que é dos melhores cantores da actualidade.

A revelação da noite foi, para mim, Amanda Forsythe. O soprano americano interpretou o papel masculino de Jemmy, o jovem filho de Guillaume. A cantora tem um timbre fantástico e uma flexibilidade vocal extraordinária. Para além disso, é uma pessoa de pequena e magra estatura, o que do ponto de vista cénico foi perfeito para o papel (a senhora francesa que estava sentada ao meu lado chegou a pensar que a cantora era mesmo um rapaz soprano).

Marina Rebeka esteve a um bom nível vocal, mas considero a sua interpretação um pouco inferior às dos outros cantores que destaquei.

A encenação de Vick, foi melhor do que o que eu estava à espera. Dominou o cenário de pareces brancas que foi sendo preenchido com os mais diversos adereços (cenários e figurinos de Paul Brown). Penso que a encenação, não obrigou os cantores a esforços desnecessários nem a fazerem figuras ridículas, o que já não é nada mau.

O ROF decidiu não cortar os dois bailados incluídos na ópera (bem ao gosto do publico francês). Não sendo eu um grande apreciador de bailado, devo no entanto dizer que a coreografia de Ron Howell foi uma desgraça. E mais não digo, a não ser que se ouviram muitos "bhuuuusss" na sala, principalmente no final do bailado do teceiro acto.

A direcção de Mariotti, maestro de tenra idade, foi bastante boa. A abertura for excelentemente interpretada e não houve descoordenações ao longo de toda a récita.

3 comentários:

  1. Nada mal então, as minhas expectativas eram tão baixas que nem cheguei a pôr a hipótese de ir. Não excluo totalmente o regresso num dos próximos anos... mas prefiro melhor que Vick, melhor que Flórez.

    Há séculos que não vejo um Guilherme Tell!

    Obrigado, Alberto, e ainda bem que valeu !

    ResponderEliminar
  2. Ainda bem que gostou, Alberto. Pesaro é uma peregrinação que ainda não fiz. Estou curioso em ler os seus relatos das próximas óperas do festival e fico satisfeito por, mais uma vez, ter sido bem empregue a sua deslocação.

    ResponderEliminar
  3. Mário, obrigado pelo seu comentário. Devo dizer-lhe, acho que o Mário já sabe disso, que não sou muito exigente com as encenações, por isso, a minhas opiniões quanto a esse assunto, valem o que valem. Não sei se o Mário iria achar grande piada a esta encenação de Vick. Como referi, os cantores não foram obrigados a fazer figuras ridículas nem a "cantar de cabeça para baixo" o que, para mim, já é muito bom. Gostei das vozes e acho que o Mário também teria gostado. Há melhor que Flórez para cantar Arnold? Há, certamente. Aliás, aqui entre nós (risos) eu preferia que Arnold tivesse sido cantado pelo Michael Spyres, que cantou o Rodrigo em La Donna del Lago, de que falarei mais adiante. E o Kunde? Seria também bastante bom. Tenores mais líricos não me agradam para este papel.

    Fanatico_Um, obrigado também pelo seu comentário. Acho que é uma peregrinação que vale a pena fazer. Claro que, como é em Itália, deve esperar alguma confusão para obter os bilhetes certos nos lugares certos do teatro, mas com uns telefonemas, as coisas resolvem-se (e atendem-nos num inglês bastante bom). Gosto do ambiente de Pesaro, uma cidade pequenina, que nesta altura fica cheia de apreciadores de Rossini, principalmente de outras zonas de Itália e de França. Não conte com elencos de renome, de qualquer forma, há sempre uns cantores "âncora" como foi o caso, este ano de Flórez e de Spyres. O que me acontece é que acabo por descobrir grande vozes, como neste ano o caso de Chiara Amarù, de que falarei aquando da minha crítica à La Donna del Lago.

    Um abraço aos dois
    Alberto

    ResponderEliminar

Comente o Outras Escritas