terça-feira, 29 de abril de 2014

Julia Lezhneva na Gulbenkian

Assisti no passado dia 22 de Abril na Gulbenkian, ao concerto intitulado Resurezione: Handel em Itália. Totalmente dedicado à música barroca, este concerto contou com a presença da Orquestra Barroca de Helsínquia dirigida pelo Maestro Aapo Hakkinen, tendo como solista a jovem soprano Julia Lezhneva.

Foi precisamente Lezhneva que me levou a fazer a viagem para Lisboa!

Já falei da cantora inúmeras vezes aqui no Outras Escritas e gostaria de relembrar que tomei contacto com a sua voz através de um vídeo do YouTube em que Lezhneva interpreta a ária final da ópera Zelmira de Rossini no 6th international Elena Obraztsova competition for opera singers realizado em 2007, quando tinha apenas 17 anos (obviamente que a jovem cantora ganhou o concurso).

Vale a pena rever o vídeo...




Desde essa altura, tenho acompanhado a sua carreira e, devido às redes sociais, tenho tido contacto com o seu pai que me vai chamando a atenção para a sua carreira. Sei também que a Julia não teve uma vida nada fácil e que para que chegar onde já chegou teve que lutar muito e enfrentar situações muito más à conta de interesses instalados. Em compensação, penso que a sua força e voz extraordinárias vão fazer com que o mundo se renda a seus pés... E já começou a render-se!

Mas passamos à minha análise do concerto da Gulbenkian.

A Orquestra Barroca de Helsínquia esteve bem (embora por momentos me tenha parecido que houve desafinação de um dos instrumentos) A regência do Maestro Aapo Hakkinen foi de qualidade superior e a coordenação com Lezhneva foi magistral, o que não me surpreendeu, face ao domínio técnico que a cantora possui.

Julia Lezhneva foi obviamente o ponto alto da noite. A cantora tem todas as qualidades necessárias à interpretação de obras barrocas. Um técnica irrepreensível que faz com que nada lhe pareça difícil de interpretar. As partes mais lentas em legatto são magistrais e as partes mais rápidas com um domínio técnico total (não falha uma nota).

Mas Lezhneva não é só técnica. A nível interpretativo a cantora esteve ao mesmo nível que na vertente técnica. Para tal contribui um timbre de beleza sublime, uma voz clara e um controlo perfeito de volume vocal (os pianíssimos não são deste mundo!). Depois, toda a expressão vocal e corporal contribuem também para uma interpretação perfeita.

Pontos altos do concerto, na minha opinião, foram a interpretação da Salve Regina HWV 241 e da aria Lascia la spina cogli la rosa (encore). No final desta última, a sala ficou por momentos em completo silêncio como se houvesse um efeito hipnótico causado por Lezhneva...

Um assombro, sem dúvida...

Para terminar a noite em grande, e após alguma espera na fila de pessoas que aguardava por um autógrafo, tive oportunidade de falar com a Julia que, para espanto meu, me "reconheceu", como sendo o amigo do seu pai no Facebook que tinha ido do Funchal propositadamente para o seu concerto. Recebi um autógrafo (acompanhado de uns pequenos desenhos) e tive oportunidade de lhe elogiar a voz e a carreira. Este foi sem dúvida, um momento único na minha vida de melómano apaixonado pelo canto.


Não encontrei vídeos do concerto no YouTube, de qualquer forma, aqui fica um vídeo com a cantora a interpretar a ária Da Tempeste de Handel com a Orquestra Barroca de Helsínquia...